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A Entrevista Steve Jobs para Playboy em 1985 [IMPERDÍVEL/RARO]

steve jobs entrevista playboy

Leia a entrevista de Steve Jobs para a Playboy em 1985 aqui no Jornal do Empreendedor.


A entrevista de Steve Jobs para a Playboy

Ele só tinha 29 anos mas já podia ter percebido que gravata borboleta é f%^&.

Em 1985, um jovem e atrevido Steve Jobs sentou-se com a revista para cavalheiros mais proeminente do mundo. Com o lançamento da Playboy Commission, um guia editorializado para os arquivos de Hugh Hefner, nós podemos dar uma olhada na mente do Senhor Apple.

(Abaixo, a transcrição traduzida da reportagem e entrevista de Steve Jobs):

Dependendo de com quem estiver falando, Jobs é um visionário que mudou o mundo para melhor ou um oportunista cujas habilidades de marketing conseguiram um incrível sucesso comercial. Usando jeans e tênis velhos, ele comanda uma empresa que se orgulha de ter uma mistura do idealismo dos anos 60 e o tino comercial dos anos 80, Jobs é admirado e temido. “Ele é o motivo pelo qual eu irei trabalhar 20 horas por dia,” diz um engenheiro. Ou, como Michael Moritz relata em “The Little Kingdom,” (reeditado e traduzido recentemente) os caprichos de Jobs – elogiar um dia, ofender no outro – praticamente levaran os membros da equipe da Macintosh à loucura. Ele também pediu para o então presidente da Pepsi-Cola, John Sculley, para tomar o controle administrativo da Apple, dizendo, “Você vai continuar vendendo água açucarada para crianças quando poderia mudar o mundo?” Sculley aceitou a oferta.

Para explorar a vida e tecnologia do jovem (Jobs fará 30 anos no próximo mês) pai da revolução dos computadores, a Playboy enviou o jornalista freelance David Sheff para o coração do Vale do Silício. Seu relato:

…”A ‘entrevista de Steve Jobs’ estava praticamente completa quando eu encontrei Jobs em uma festa de aniversário repleta de celebridades para um jovem na cidade de Nova Iorque. Conforme a noite avançava, eu comecei a andar por ali e descobri que Jobs tinha saído acompanhado do aniversariante de nove anos de idade para entregar-lhe o presente que ele havia trazido da Califórnia: um computador Macintosh. Enquanto eu observava, ele mostrou ao garoto como desenhar com o programa gráfico da máquina. Dois outros convidados da festa entraram na sala e começaram a olhar por cima do ombro de Jobs. ‘Hmmm,’ disse o primeiro, Andy Warhol. ‘O que é isso? Olhe só pra isso, Keith. É incrível!’ O segundo convidado, Keith Haring, o artista gráfico cujos trabalhos agora vendem por preços altíssimos, se aproximou. Warhol e Haring pediram para usar também o Mac, e quando eu comecei a sair, Warhol tinha acabado de sentar para manipular o mouse. ‘Meu Deus!’ ele disse, ‘Eu desenhei um círculo!’”

“Porém, mais reveladora foi uma cena depois da festa. Bem depois dos outros convidados terem ido embora, Jobs ficou para ensinar o garoto as vantagens de usar o Mac. Depois, eu perguntei a ele porque ele parecia mais feliz ensinando o garoto do que os dois artistas famosos. Sua resposta pareceu espontânea para mim: ‘Pessoas mais velhas sentam e perguntam, “O que é isso?” mas o garoto pergunta, “O que eu posso fazer com ele?”’”

Playboy: Nós sobrevivemos 1984 e os computadores não dominaram o mundo, apesar de algumas pessoas acharem isso difícil de acreditar. Se existe algum indivíduo que pode ser tanto culpado ou aclamado pela proliferação dos computadores, você, o pai da revolução dos computadores de 29 anos, é o principal candidato. Isso também tornou você rico além de qualquer sonho – suas ações em certo ponto valiam quase meio bilhão de dólares, não é isso?

Steve Jobs: Eu na verdade perdi U$250.000.000 em um ano quando as ações caíram. [risos]

PB: Você consegue rir disso?

SJ: Eu não vou deixar isso arruinar a minha vida. E não é meio engraçado? Sabe, minha principal reação para esse negócio de dinheiro é que ele é cômico, toda a atenção que ele recebe, já que ele dificilmente é a coisa mais importante ou valiosa que me aconteceu nos últimos dez anos. Mas ele me faz sentir velho, às vezes, quando eu falo em algum campus e eu descubro que o que mais impressiona os estudantes é o fato de que eu sou um milionário.

Quando eu fui para a faculdade, foi logo após os anos sessenta e antes dessa onda geral de “propósito prático” ter se estabelecido. Agora os estudantes não estão nem mesmo pensando em termos idealistas, ou pelo menos algo perto disso. Eles certamente não estão deixando as questões filosóficas do dia ocupar muito do seu tempo enquanto eles estudam em sua área de negócios. O idealismo dos anos sessenta estava diminuindo, e apesar disso, a maioria das pessoas que eu conheço que tem a minha idade tem isso enraizado neles para sempre.

PB: É interessante que o ramo de computadores tornou milionários…

SJ: Jovens malucos, eu sei.

PB: Eu ia dizer caras como você e Steve Wozniak, trabalhando em uma garagem apenas dez anos atrás. O que é essa revolução que vocês dois parecem ter começado?

SJ: Nós estamos vivendo no despertar da revolução petroquímica de 100 anos atrás. A revolução petroquímica nos deu energia gratuita – energia mecânica gratuita, nesse caso. Ela mudou a sociedade em muitos aspectos. Essa revolução, a revolução da informação, é a revolução da energia gratuita também, mas de outro tipo: energia intelectual gratuita. É um movimento que esta bastante cru aubda hoje, mas nosso computador Macintosh usa menos energia do que uma lâmpada de 100-watt para rodar e pode te economizar horas por dia. O que será capaz de fazer daqui a 20 anos, ou 50 anos no futuro? Essa revolução será bem maior do que a revolução petroquímica. Nós estamos na vanguarda.

PB: Talvez nós devêssemos dar uma pausa para você dizer a sua definição do que é um computador. Como eles funcionam?

SJ: Computadores são na verdade bastante simples. Nós estamos aqui sentados no banco desta cafeteria. Vamos considerar que você entendesse apenas as instruções mais rudimentares e perguntasse como chegar ao banheiro. Eu teria que descrever para você com instruções bem específicas e precisas. Eu poderia dizer, “Deslize lateralmente dois metros para fora do banco, fique em pé. Levante o pé esquerdo. Dobre o joelho esquerdo até que ele esteja na horizontal. Estique o pé esquerdo e transfira o peso 300 centímetros para frente…” e por ai vai. Se você pudesse interpretar todas essas instruções 100 vezes mais rápido do que qualquer outra pessoa nesta cafeteria, você iria parecer um mágico: Você poderia correr, pegar um milk shake, trazer de volta, colocar na mesa e estalar seus dedos, e eu iria pensar que você fez o milk shake aparecer, porque foi muito rápido, em relação à minha percepção. E é exatamente isso que um computador faz. Ele pega essas instruções muito simples – “Pegue esse número, adicione a esse, coloque o resultado aqui, verifique se ele é maior que esse outro número” – mas executa tudo isso em uma velocidade de, digamos, 1.000.000 por segundo. A essa velocidade, o resultado parece ser mágico.

Esta é uma explicação simples, e o ponto é que pessoas realmente não precisam entender como os computadores funcionam. A maioria das pessoas não tem ideia de como uma transmissão automática funciona, ainda assim elas sabem dirigir um carro hidramático. Você não precisa estudar física para entender as leis de Newton para dirigir um carro. Você não precisa entender nada disso para usar um Macintosh – mas você quem perguntou. [risos]

PB: Obviamente, você acredita que computadores irão mudar nossas vidas pessoais, mas como persuadir um cético? Ou alguém que teima em resistir?

SJ: Um computador é a ferramenta mais incrível que eu já vi. Ele pode servir para escrever, ser um centro de comunicações, uma supercalculadora, um organizador, um lugar para guardar arquivos e um instrumento artístico em um só lugar, apenas ao dar novas instruções, ou software, e trabalhar a partir dali. Não existem outras ferramentas com o poder e a versatilidade de um computador. Nós não temos ideia de quão longe ele pode ir. Nesse momento, computadores tornam as nossas vidas mais fáceis. Eles fazem o trabalho para nós, que levaria horas, em uma fração de segundo. Eles aumentam a qualidade de vida, algumas vezes apenas automatizando um trabalho penoso e outras ampliando nossas possibilidades. Conforme as coisas progridem, eles estarão fazendo mais e mais por nós.

PB: Que tal algumas razões concretas para comprar um computador hoje? Um executivo da sua indústria recentemente falou, “Nós damos às pessoas computadores, mas nós não mostramos a eles o que fazer com isso. Eu posso ver o saldo do meu talão de cheques mais rápido à mão do que no meu computador.” Por que alguém deveria comprar um computador?

SJ: Existem respostas diferentes para pessoas diferentes. No mundo dos negócios, essa pergunta é fácil de responder: Você realmente pode preparar documentos muito mais rápido e com um nível de qualidade maior, e pode fazer muitas coisas para aumentar a produtividade do escritório. Um computador liberta as pessoas de muito do trabalho chato. Além disso, você está dando a eles uma ferramenta para ser criativo. Lembre-se, computadores são ferramentas. Ferramentas nos ajudam a trabalhar melhor.

Na educação, computadores são as primeiras coisas a surgir desde os livros que vão ficar lá e interagir com você sem limite de tempo e sem julgamento. Educação socrática não está mais disponível, e os computadores tem o potencial para ser um verdadeiro avanço no processo educacional quando usados juntamente com professores esclarecidos. Nós já estamos na maioria das escolas.

PB: Esses são argumentos para computadores no trabalho e nas escolas, mas e em casa?

SJ: Por enquanto, esse é mais um mercado conceitual do que real. O motivo principal pelo qual você compra um computador para sua casa agora é que você quer fazer algum trabalho do seu emprego em casa ou quer usar softwares educacionais para você ou seus filhos. Se você não pode justificar comprar um computador por uma dessas duas razões, o outro possível motivo é que você simplesmente quer ser alfabetizado em relação a computadores. Você sabe que algo está acontecendo, você não sabe exatamente o que é, então você quer aprender. Isso irá mudar: computadores serão essenciais na maioria dos lares.

PB: O que irá mudar?

SJ: O motivo mais atraente para a maioria das pessoas comprarem um computador para o lar será para conectá-lo a uma rede de comunicações por todo o país. Nós estamos apenas nos estágios iniciais do que será um avanço realmente notável para a maioria das pessoas – tão notável quanto o telefone.

PB: De que tipo de avanço você está especificamente falando?

SJ: Eu posso apenas começar a especular. Nós vemos isso bastante na nossa indústria: Você não sabe exatamente qual será o resultado, mas sabe que será algo muito grande e muito bom.

PB: Então, por enquanto você está pedindo aos consumidores de computadores pessoais a investirem U$3000 em o que é basicamente um ato de fé?

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SJ: No futuro, não será um ato de fé. A parte difícil agora que nós estamos tentando evitar é que as pessoas perguntam para você sobre coisas específicas e você não pode contar a elas. Se há cem anos, alguém tivesse perguntado a Alexander Graham Bell, “O que você será capaz de fazer com um telefone?” Ele não seria capaz de responder as maneiras que o telefone afetaria o mundo. Ele não sabia que as pessoas usariam o telefone para ligar e descobrir que filmes estavam passando aquela noite ou pedir comida ou ligar para um parente que estava do outro lado do planeta. Mas lembre—se que o primeiro telégrafo público foi inaugurado em 1844. Foi um enorme avanço nas comunicações. Você poderia realmente mandar mensagens de Nova York para San Francisco em uma tarde. As pessoas falavam sobre colocar um telégrafo em cada mesa nos EUA para aumentar a produtividade. Mas isso não teria funcionado. Isso exigiria que as pessoas aprendessem toda essa sequencia de feitiços estranhos, código morse, pontos e traços, para usar o telégrafo. Então felizmente, em 1870, Bell registrou as patentes para o telefone. Ele fazia basicamente a mesma função que um telégrafo, mas as pessoas já sabiam como usá-lo. E também, a melhor coisa sobre ele é que além de permitir que você se comunicasse apenas com palavras, ele permitia que você cantasse.

PB: E o que isso significa?

SJ: Isso permitia a você entonar suas palavras com significados além da simples linguística. E nós estamos na mesma situação hoje. Algumas pessoas estão dizendo que nós deveríamos por um PC IBM em cada mesa dos Estados Unidos para aumentar a produtividade. Isso não irá funcionar. Os feitiços especiais que você tem que aprender dessa vez é “barra q-zs” e coisas desse tipo. O manual para o WordStar, o programa de processamento de palavras mais popular, tem 400 páginas. Para escrever um romance, você tem que ler um romance – um que tem ares de mistério para a maioria das pessoas. Eles não vão aprender “barra q-z” muito mais do que aprenderiam código morse. E é isso que diferencia o Macintosh. Ele é o primeiro “telefone” da nossa indústria. E, além disso, a coisa mais legal sobre ele, para mim, é que o Macintosh permite que você cante da mesma forma que o telefone permitia. Você não simplesmente comunica palavras, você tem estilos especiais de impressão e a habilidade de desenhar e adicionar figuras para se expressar.

PB: Isso é realmente algo importante ou simplesmente uma novidade? O Macintosh foi chamado de “a Lousa Mágica mais cara do mundo” por pelo menos um crítico.

SJ: É tão importante quanto a diferença entre o telefone e o telégrafo. Imagine o que você poderia ter feito se você tivesse essa Lousa Mágica sofisticada quando você era criança. Mas isso é apenas uma pequena parte. Não apenas ele pode ajudar a aumentar a sua produtividade e a sua criatividade enormemente, mas isso também permite se comunicar com mais eficiência usando imagens e gráficos, assim como palavras e números.

PB: A maioria dos computadores usa teclas para inserir instruções, mas o Macintosh substitui muitas delas com algo chamado de mouse – uma pequena caixa que rola por sua mesa e guia um ponteiro na tela do seu computador. É uma grande mudança para pessoas que usam teclados. Por que o mouse?

SJ: Se eu quero dizer que tem uma mancha na sua camisa, eu não vou fazer isso linguisticamente: “Tem uma mancha na sua camisa 14 centímetros pra baixo da gola e três centímetros à esquerda do seu botão,” Se você tem uma mancha – “Ali!” [Ele aponta] – eu irei apontar para ela. Apontar é uma metáfora que todos nós conhecemos. Nós fizemos muitos estudos e testes sobre isso, e é muito mais rápido fazer todo tipo de função, como por exemplo cortar e colar, com um mouse, e não apenas mas fácil de usar,  mas também mais eficiente.

PB: Quanto tempo levou para desenvolver o Macintosh?

SJ: Foi mais de dois anos no computador em si. Nós vínhamos trabalhando na tecnologia por trás dele por anos antes disso. Eu acho que nunca trabalhei tão duro em algo, mas trabalhar no Macintosh foi a melhor experiência da minha vida. Quase todo mundo que trabalhou nele irá dizer isso. Nenhum de nós queria lançá-lo quando tudo acabou. Era como se nós soubéssemos que uma vez que ele estivesse fora de nosso alcance, ele não seria mais nosso. Quando nós finalmente apresentamos na reunião de acionistas, todos no auditório aplaudiram por cinco minutos. Foi incrível para mim que eu podia ver a equipe do Mac nas primeiras fileiras. Era como se nenhum de nós acreditasse que nós tínhamos finalmente terminado. Todos começaram a chorar.

PB: Nós fomos avisados sobre você: Antes dessa entrevista, alguém disse que nós estávamos “prestes a ser encantados pelo melhor.”

SJ: [Sorrindo] Nós somos apenas entusiasmados pelo que fazemos.

PB: Mas considerando esse entusiasmo, as campanhas publicitárias multimilionárias e a sua própria habilidade de conseguir cobertura pela imprensa, como o consumidor pode saber o que há por trás do hype?

SJ: Campanhas publicitárias são necessárias para a competição; os anúncios da IBM estão por todo lugar. Mas boas relações públicas educam as pessoas; e é só isso. Você não pode enganar as pessoas nos negócios. Os produtos falam por si só.

PB: Fora algumas das críticas recorrentes – que o mouse é ineficiente, que a tela do Macintosh é apenas preta e branca – a acusação mais séria é que os preços dos produtos da Apple são superfaturados. Você se importa de responder alguma ou todas essas críticas?

SJ: Nós fizemos estudos que provam que o mouse é mais rápido do que maneiras tradicionais de mover através de dados ou aplicativos. Algum dia nós seremos capazes de construir uma tela colorida por preços razoáveis. Quanto a superfaturar, o inicio de um novo produto o torna mais caro do que será depois. Quanto mais nós pudermos produzir, menor o preço irá ficar…

PB: É disso que os críticos te acusam: associar o entusiasmo com preços premium, depois virar e baixar o preço para acompanhar o resto do mercado.

SJ: Isto simplesmente não é verdade. Assim que nós pudermos baixar os preços, nós o faremos. É verdade que nossos computadores são mais baratos hoje do que eles eram alguns anos atrás, ou até mesmo ano passado. Mas isso também é verdade para o PC da IBM. Nosso objetivo é conseguir vender computadores para dez milhões de pessoas, e quanto mais baratos nós pudermos fazê-los, mais fácil será pra fazer isso. Eu adoraria que um Macintosh custasse U$1000.

PB: E sobre as pessoas que compraram o Lisa e o Apple III, os dois computadores que você lançou antes do Macintosh? Você os deixou com produtos defasados e incompatíveis.

SJ: Se você quiser tentar ir por esse caminho, adicione a essa lista as pessoas que compraram PCs IBM ou os PCjrs. Quanto ao Lisa, já que parte de sua tecnologia foi usada no Macintosh, ele agora pode rodar software feito para o Macintosh e pode ser visto como um irmão mais velho do Macintosh; apesar de não ter sido bem sucedido no começo, nossas vendas do Lisa simplesmente dispararam. Nós também ainda estamos vendendo mais de 2000 Apple IIs por mês – mais da metade para consumidores que já haviam comprado antes. O ponto geral aqui é que a nova tecnologia não irá necessariamente substituir a tecnologia antiga, mas irá deixá-la datada, por definição. Em algum momento, irá substitui-la. Mas é como as pessoas que tinham TVs preto e branco quando a colorida surgiu. Uma hora eles decidiram que a tecnologia valia ou não o investimento.

PB: No ritmo que as coisas estão mudando, o próprio Mac não ficará defasado dentro de alguns anos?

SJ: Antes do Macintosh, havia dois padrões: Apple II e PC IBM. Esses dois padrões são como rios esculpidos no leito rochoso de um vale. Leva-se anos para esculpi-los – sete anos para o Apple II e quatro anos para o IBM. O que nós fizemos com o Macintosh é que em menos de um ano, através do impulso dos aspectos revolucionários do produto e de cada grama de marketing que nós tínhamos como empresa, nós conseguimos explodir um terceiro canal na rocha e fazer um terceiro rio, um terceiro padrão. Em minha opinião, existem apenas duas empresas que podem fazer isso hoje, Apple e IBM. Talvez isso seja ruim, mas fazer isso nesse momento é um esforço monumental, e eu não acho que a Apple ou IBM irão fazer isso nos próximos três ou quatro anos. Perto do final dos anos 80, nós podemos começar a ver algumas coisas novas.

PB: E enquanto isso?

SJ: Os desenvolvimentos serão para tornar os produtos mais portáteis, colocar redes neles, fazer impressoras a laser, bancos de dados compartilhados, mais capacidade de comunicação, talvez unir o telefone e o computador pessoal.
…Bla bla blá números do negócio blá…

PB: Você queria controlar a divisão do Lisa. Markkula e Scott, que eram para todos os efeitos, seus chefes, mesmo que você tenha tido influência na contratação deles, não acharam que você era capaz, certo?

SJ: Depois de montar o framework para os conceitos, encontrar pessoas chaves e meio que configurar as direções técnicas, Scotty decidiu que eu não tinha experiência para executar o negócio. Isso doeu muito. Não há como fugir disso.

PB: Você sentiu como se estivesse perdendo a Apple?

SJ: Houve um pouco disso, eu acho, mas o que foi mais difícil foi que eles contrataram um monte de pessoas para a equipe Lisa que não compartilhava a visão que nós tínhamos originalmente. Houve um grande conflito na equipe Lisa entre as pessoas que nós queríamos que, na essência, criassem algo como o Macintosh e as outras pessoas contratadas da Hewelett-Packard e outras empresas que trouxeram consigo uma perspectiva de máquinas maiores, vendas corporativas. Eu decidi que eu iria sair e fazer tudo com um grupo pequeno, meio que voltando para a garagem, para projetar o verdadeiro Macintosh. Eles não nos levaram muito a sério. Eu acho que o Scotty estava meio que zombando de mim.

PB: Mas essa foi a empresa que você fundou. Você não ficou ressentido?

SJ: Você não pode ficar ressentido com o seu filho.

PB: Mesmo quando seu filho manda você sumir?

SJ: Eu não me sentiria ressentido. Eu ficaria muito triste com isso e eu me sentiria frustrado, e eu realmente fiquei assim. Mas eu consegui as melhores pessoas que estavam na Apple, porque eu achei que se nós não fizéssemos isso, nós teríamos problemas de verdade. É claro, foram essas pessoas que fizeram o Macintosh. [Dá de ombros] Olha só pro Mac.

PB: Este veredito está longe de ser comprovado. Na verdade, você introduziu o Mac com muito do estardalhaço que veio com o Lisa, e o Lisa falhou inicialmente.

SJ: É verdade: Nós expressamos uma expectativa bastante alta para o Lisa e nós estávamos errados. A parte mais difícil para nós é que nós sabíamos que o Macintosh estava chegando, e ele parecia superar todas as possíveis objeções com o Lisa. Como empresa, nós estaríamos voltando às nossas raízes – vendendo computadores para pessoas, não empresas. Nós saímos e construímos o computador mais insanamente sensacional do mundo.

PB: É necessário pessoas insanas para fazer coisas insanamente sensacionais?

SJ: Na verdade, fazer um produto insanamente sensacional tem muito a ver com o preço de fazer o produto, como você aprende coisas, adota novas ideias e joga fora as ideias antigas. Mas sim, as pessoas que fizeram o Mac estão meio no limite.

PB: Qual a diferença entre pessoas que tem ideias insanamente sensacionais e as pessoas que fazem essas ideias acontecerem?

SJ: Deixe-me comparar com a IBM. Como pode a equipe do Mac produzir o Mac e o pessoal da IBM produzir o PCjr? Nós acreditamos que o Mac irá vender zilhões, mas nós não construímos o Mac para mais ninguém. Nós construímos para nós mesmos. Nós fomos o grupo de pessoas que iriam julgar se ele era bom ou não. Nós não iríamos sair e fazer pesquisa de mercado. Nós apenas queríamos construir a melhor coisa que nós podíamos construir. Quando você é um carpinteiro fazendo uma bela cômoda, você não vai usar um pedaço de compensado na parte de trás, mesmo que fique virado para a parede e ninguém nunca veja. Você saberá que está lá, então você irá usar um belo pedaço de madeira na parte de trás. Para você dormir bem a noite, a estética, a qualidade, tudo tem que ser mantido o tempo todo.

PB: Você está dizendo que as pessoas que fizeram o PCjr não tem esse tipo de orgulho do produto?

SJ: Se eles tivessem, eles não teriam feito o PCjr. Fica claro para mim que eles projetaram tudo com base em uma pesquisa de mercado para um segmento específico do mercado, para um tipo demográfico especifico de consumidor, e eles esperavam que se eles montassem isso, muitas pessoas iriam comprar e eles iriam fazer rios de dinheiro. Essas são motivações diferentes. As pessoas da equipe do Mac queria construir o melhor computador já visto.

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