X

Busque em mais de 20.000 artigos de nosso acervo.

Novidades pela net

“Homem de Ferro 3”: Fogos de Artifício


Já ouviu uma daquelas piadas contadas à exaustão, mas, que por alguma razão mágica (ou maluca), continua sempre engraçada? Algumas histórias são assim. Elas fascinam, encantam, divertem e inspiram sem precisar de muito espetáculo. A fácil identificação com qualquer ser humano tende a ser o fator principal nesse tipo de mensagem efetiva. Conectamos. Sentimos. Torcemos. Especialmente por imaginar que, se algo assim acontecer com a gente, queremos o mesmo final feliz da ficção ou algo que o valha. Assim se constroem histórias eternas e parte disso existe nos contos de fada nos quais se baseiam a sociedade ocidental e, inevitavelmente, as histórias em quadrinhos.

De forma bem simplificada, cheias de dualidades nos confrontos entre Bem e Mal, as HQs tomaram o lugar dos contos de fada para a molecada moderna e ainda o fazem com classe, entretanto, seus ícones são reflexos de um passado ancestral – e cafona – existente antes da elevação dessa arte a “cultura pop”, quando artistas precisavam desbravar um novo formato, alimentar incontáveis edições e sempre ter algo novo para contar. Entretanto a natureza rasa de alguns desses personagens os amaldiçoou (enviando a maioria deles ao limbo) e ainda os persegue. O Homem de Ferro é um dos sobreviventes. Ele é cool; faz muito sucesso; fez todo mundo adorar Robert Downey Jr (com razão!); e ele não tem mais gás.

Depois de assistir a “Homem de Ferro 3”, pergunto: será que, de fato, já teve?

Iron Man 3

Culpa do roteiro: uma amálgama de conceitos desorganizados, personagens pouco definidos e diálogos esquisitos

O primeiro filme é um marco por diversos fatores. Realizou o levante da Marvel, tirou os super-heróis (de vez) da esfera da cafonice, revitalizou a carreira de Robert Downey Jr e deu ao, agora popular, mundo nerd um novo ícone. Vários elementos dão força ao primeiro ato dirigido por Jon Favreau, foi a combinação certa e o timing perfeito. O entretenimento precisava daquilo e funcionou. Tony Stark fez a transição de playboy irresponsável e indiferente à vida alheia para bom-samaritano e herói, certo? Mas fez por razões primordialmente egoístas (ou fazia, ou morria) e precisou lutar contra outro milionário louco por poder (Iron Monger) por isso.

O espetáculo da construção da armadura e a definição de quem seria o Tony Stark do cinema (dane-se o que os leitores pensam, era um filme, logo a linguagem era outra todo mundo sabe que o pensamento foi esse), como ele pensaria, o que ele faria, etc. Da segunda vez, Tony Stark se torna o filantropo e segue os passos do pai. Então, precisa lutar contra um milionário com sede de poder e enfrenta um vilão obscuro, imbuído por vingança e disposto a matá-lo para fazer justiça (Whiplash). Mas nada disso importa, pois, na verdade, o maior inimigo são os exageros e as alusões ao vício. Ou seja, ele continua em foco. O que ele precisa. Ah, no final ele fica com a garota! As ameaças nunca foram para o mundo, sempre contra ele, interessante notar.

Aí vem o terceiro filme. Não dá para saber ao certo sobre o que ele trata. Faz menos de 30 min que saí da sessão e muita coisa já se foi. Culpa do roteiro, uma amálgama de conceitos desorganizados, personagens pouco definidos, diálogos esquisitos e, claro, o Homem de Ferro lutando contra um milionário disposto a tudo para controlar… o que mesmo? Ah, ele queria vender um produto… e ficar mais milionário, talvez? Enfim, esse não é o ponto.

Diretor Shane Black assumindo o comando da franquia

Diretor Shane Black assumindo o comando da franquia

A Marvel vai ficar dependente da molecada que só liga para explosões e efeitos especiais

Desinteresse foi a palavra que veio a mente. Desinteresse por uma persona que se tornou um eco das duas anteriores, ou melhor, três, afinal de contas, Os Vingadores são referenciados à exaustão ao longo da exibição (talvez um lembrete de que o herói ainda pode ser legal?). Os dramas pessoais de Tony Stark são interessantes, mas só no papel. A primeira encarnação conquistou justamente por ser despirocada e, evidentemente, espontânea por conta do “controle” exercido por Downey Jr. sobre o personagem. Dessa vez foi impossível sentir qualquer coisa por ele. E justamente onde havia a maior de todas as motivações: salvar a mulher que ama.

A motivação estava lá, mas a história se esqueceu dela ao investir a maior parte do tempo num vilão previsível e infantil (lembrou muito daquele tempo no qual os quadrinhos eram tolos e qualquer argumento valeria). Nunca há ameaça. Nunca há dúvida. Nunca há nada com que se importar. E o próprio roteiro banaliza esse fato durante o “festival da amadura maluca”.

Gostava tanto do herói no cinema e fui vendo aquela empolgação inicial se esvair. Ela voltou em “Os Vingadores”, mas foi lá para o fundo do poço do Sarlacc depois de “Homem de Ferro 3”. O comando sempre questionável de Kevin Feige, da Marvel, começa a ceder na estratégia de longo-prazo para os personagens principais. Se o objetivo da companhia é criar espetáculo, é bom que tenha roteiros espetaculares ou a Marvel vai, rapidamente, ficar dependente da molecada que só liga para explosões e efeitos especiais.

Iron Man 3

Radicalismo? Não, realismo. O cinema de super-heróis vem crescendo há anos e o próprio Stan Lee disse que “vão parar de crescer quando a mensagem se perder”. Bem, começo a temer pela proximidade desse momento. A hora de Kevin Feige poderia estar se aproximando, mas os resultados dos últimos filmes (inclusive de “Homem de Ferro 3”) é bom demais para ameaçar a carreira de qualquer executivo de estúdio.

Filmes desse gênero exigem a desconexão com a realidade, mas, nesse caso, conseguiram me desconectar da história em si. Pouco antes de ir ao cinema, fiquei emocionado ao ver o terço final de “Campo do Sonhos”. Um filme que já revi inúmeras vezes. Posso recitar o último monólogo de James Earl Jones, mesmo sem não ter a mínima paixão pelo beisebol, mas sou incapaz de lembrar qualquer diálogo relevante nesse Homem de Ferro. O final do filme define tudo muito bem: é um show de fogos de artifício.

Podem explodir milhares deles e você sempre vai ter a impressão de que já viu aquilo antes e que, depois de certo ponto, todos são exatamente iguais. Quando o show acaba nada mudou.

==

Fábio M. Barreto é jornalista, cineasta e autor da ficção científica “Filhos do Fim do Mundo”.

cdc b feedPost originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Facebook | Contato | Anuncie

cdc brainstorm d qjIDKrITs

cdc rLuiwUqkpAg

Via RSS de Brainstorm #9

Leia em Brainstorm #9

Comente este artigo

Populares

Topo
http://enterslots.epizy.com/ http://cair138.epizy.com/ http://sido247.epizy.com/ http://omega89.epizy.com/ http://merdeka138.epizy.com/ 7meter slot 7winbet abcslot https://obor138.web.fc2.com/ https://monsterbola.web.fc2.com/ https://daget77slot.web.fc2.com/ star77 138 slot istana77 mega138 cuan138 nuke gaming slot grandbet infini88 pg slot baccarat casino idn live idn poker sbobet tangkas88 slot sbobet88 slot deposit dana joker123 autowin88 zeus138 dewagg roma77 77lucks bos88 ligadewa sonic77 168 slot