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Se programadores são pedreiros e lucro é cocô, web’s what talent?


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Três horas e meia foi o tempo que investi sexta-feira para avaliar as apresentações dos finalistas da competição Web’s Got Talent, integrante do evento Web.br, promovido pelo W3C com apoio de Nic.br e CGI.br. Claro, meia hora para ir (arredondando bem para baixo), meia para voltar… Sem contar as horas que já eu e os outros avaliadores já tínhamos investido analisando os perfis de dezenas de semi-finalistas, de acordo com critérios solicitados pela organização. Mas o que são algumas horinhas comparadas aos quase seis anos dedicados a entender e apoiar os projetos dos outros? (Pergunta retórica).

Nós avaliadores ganhamos um ramalhete gigante de flores de girassol, acreditam? Nunca dantes na história das competições de startup os “jurados” (eita nome equivocado, mas vá lá) ganharam um bouquet, muito menos desse tipo. Fiquei olhando para a Martha Gabriel para ver se ela ia gostar, mas não entendi; só sei que ao final da coisa toda, o palco estava cheio de girassóis “esquecidos”. Surreal. Mas também ganhamos um estojinho com um clicker (de passar slides nas apresentações) e uma garrafinha térmica de metal – tudo dentro de uma bolsinha hippie-corporativa (sabe aquelas que parecem ser de cânhamo cru, clarinho, mas estão cheias de logomarcas?).

Estou falando disso tudo porque Marshall McLuhan já ensinava que “o meio é a mensagem” e Ronnie Von (nossa, consegui juntar os dois na mesma frase) já explicava: “significa”. E os talentos? O que eu achei mais interessante (sério) de todas as apresentações foi uma frase dita antes de começar. Edney Souza (curador da competição, programador desde o início dos anos 1990, professor e consultor) explicou que, de certa forma, programador é igual a pedreiro: é extremamente necessário para construir sua casa ou seu sistema, nunca se encontra um bom sobrando, sempre erra o prazo e o orçamento e acaba sempre fazendo do seu jeito – independente do plano. Claro que era uma piada, mas tem algo de fundamento (ainda mais comparando com as apresentações).

A outra pérola veio do empreendedor Samir Iásbeck de Oliveira enquanto ele defendia no palco o seu sistema de quiz Qranio (considerado educacional, mas faturando com serviços corporativos). Felizmente, ele já trocou de palestra, então acabou sendo novamente interessante e consegui prestar atenção. Sorte minha, finalmente entendi qual é a lógica do lucro. “Lucro é igual cocô, pois é o que acontece depois que o negócio, ou o corpo, foi alimentado. E como se alimenta um negócio? Com vendas! Portanto, para ter lucro, é necessário alimentar um negócio com vendas e ainda sobrar algo no outro lado. Igual ao que acontece nos animais, que se alimentam e no final sai cocô”.

Fora isso, todas as apresentações foram extremamente questionáveis. Podem pagar de hater ou de iluminado aqui nos comentários, me chamem de insensível, me digam que já existe gente demais botando as sonhos das pessoas para baixo, que esperava mais da minha crítica. Bem, já repeti tantas vezes em tantas palestras, mentorias e afins: crítica é o exercício do critério. Estamos no final de fucking 2014, a Internet já é maior de idade há muito tempo (e o software então?), já perdemos o deslumbramento com o estouro da bolha da Nasdaq em 2000! Meu papel não é dar tapinha nas costas, eu não sou avô babão de ninguém para ficar achando “ai que bonito, meu netinho construiu um sistema web, meu netinho teve uma ideia de negócio, meu netinho soube arquitetar um plano que talvez ele tente executar”. Eu não acho isso bonito, não tem nada de extraordinário.

O que é bonito e extraordinário é fazer algo útil, algo propositado, algo que seja solidamente utilizado. É isso que falta no mercado e é isso que todo avaliador sonha em encontrar nas competições. Como comparar um multi-premiado, afiado e tracionado Qranio com um pitch que teve 10 slides cheios de texto em letra pequena – e que quer ter sucesso sendo um game sobre política e se mantendo com publicidade? Mesmo que este também já tenha ficado em primeiro lugar em outra competição! Como avaliar uma apresentação que apenas explica a diferença entra back-end e front-end e declara quanto vai cobrar por mês das pequenas empresas que resolverem contratar seu produto? Qual é o sentido em só utilizar linguagem de “pedreiro de software” para vender para pequeno empresário que não entende de software? A única pessoa que conseguiria convencer um empresário a usar isso seria um programador, mas adivinhe: o seu produto é para substituir a contratação de um programador! Rá! Não importa se o produto é feito de ouro ou pago com joinhas se toda a história do seu negócio negligencia o principal: o mercado.

Por que achar interessante o fato de quase todas as apresentações terem esquecido completamente (completamente mesmo) da única coisa que importa: das pessoas que usariam seus sistemas?! Pois não falaram nada sobre isso (a não ser a frase “vão se interessar e pagar tanto”, mas isso não é uma história, isso é uma tese). Ninguém quer saber o modelo do parafuso da pecinha do motor (que tem a obrigação de nem ser notado). Nenhuma equipe falou da própria equipe! Ou seja, nenhuma equipe falou por que a gente deveria confiar especificamente neles (não em outra equipe) para a execução de tal sistema. De todas as apresentações, apenas uma (01) apresentou uma demonstração de uso! Ok, sendo justo: o da política mostrou umas telas soltas, o do painel anabolizado de marketing digital para quem não entende de marketing digital também mostrou.

Tenho que ser ético e respeitar a decisão conjunta de todos os outros avaliadores que, pela maioria de votos, acabaram achando que esses projetos seriam os melhores. E vamos combinar: ler um formulário preenchido e navegar nos sites só permite entender parcialmente, porque as pessoas não sabem comunicar a que vieram. Nem por escrito, nem com desenhos nos sites, nem de pé no palco. E eu não as culpo, pois este é o problema do Brasil. Desde o início, metade das pessoas vieram para cá simplesmente para saquear a natureza e a outra metade veio simplesmente para sobreviver. Sei que muito sonho e muita garra estiveram por trás de toda nossa colonização, independência e modernização, mas a gente não tem nem senso histórico, a gente não sabe nem de onde veio, a gente ainda não sabe o que os políticos fizeram no verão passado. O melhor da competição foi deixar isso claro.

Acima de tudo, há esperança nas metáforas ouvidas lá e citadas aqui. Cortes epistemológicos, choques da realidade, verdades curtas e grossas fazem mais bem para a humanidade do que um balde de água gelada. E aproveito aqui para pedir desculpas para Brian Requarth, Robert Janssen e Renato Ribeiro, que me desafiaram publicamente a jogar gelo na cabeça e/ou doar dinheiro para uma entidade relacionada ao tratamento de uma doença. Eu ainda não o fiz. Eu ainda não sei se vou fazer. Eu acho que não vou. Eu não gosto de gelo, eu não gosto de água gelada, eu não gosto nem de balde e eu acho super lamentável que a gente precise ser tão weirdo para promover a saúde (ou a Educação, ou a Justiça, ou o Empreendedorismo e a Inovação). Eu fico sufocado tomando banho gelado mas fico mais sufocado ainda porque estamos em época de eleição, todos candidatos só ficam repetindo sobre a importância da saúde e, ao mesmo tempo, dão apenas claros indícios de que sua moralidade é baseada mais em religião do que em qualquer esclarecimento emancipado, portanto tudo indica que todas as comissões de “ética” vão continuar barrando as pesquisas científicas, médicas e pela vida. Fico sufocado porque, aqui no lado inconformado da força, onde atuam os programadores e revolucionadores de negócios, parece que estamos arremedando os prometedores, que decepcionam até no uso do marketing. Mas vamos sair da depressão de doença, política e religião e voltar ao entusiasmo com as startups.

Isso tudo não significa que eu estou desiludido e que não vou fazer nada quanto aos desafios. Não significa que eu não faça nada. Não significa que “todo crítico é um frustrado, que não faz nada e só fica reclamando do que os outros fazem”. Tem muita coisa que eu acho linda e tem muita coisa que eu faço – só que não vou ficar me vangloriando disso. Me convidem para ouvir piada, e talvez lá no meio eu ache algo bom; mas não me convidem para algo bom se lá no meio eu só achar piada sem graça. Eu tenho preguiça do mesmo. Eu tenho preguiça, mesmo. Eu não sou o melhor e eu não quero um prêmio. Eu não quero dizer quem é o melhor nem falar que alguém ganhou um prêmio que não significa nada. Eu não me orgulho de, num final de sexta-feira chuvoso em São Paulo, arrastar meu corpo humano até recôndidos frustrantes da cidade – seja da concreta, seja da virtual.

Eu não me sinto satisfeito de, num domingo de manhã, esfregar meu corpo desumano em cima de uma turma que quer o bem, que está tentando fazer a diferença. Para nossa alegria, existem milhares de outros links aqui no Startupi para você ler. Se você ainda está lendo este, é porque desde o título você está interessado em temperos diferentes – e é isso que eu estou servindo, já estava bem claro!

De qualquer forma: meus parabéns a vocês fizeram uma tese de negócio e um software. A vocês que fizeram um evento e uma competição. Eu… só fiz uma história sobre isso – que você nem precisou de três horas e meia para ler e ter uma crítica a respeito. Cada um está apenas fazendo seu papel e não há nada que faça esse fato, em si, ser bom ou ruim. Cada um é vencedor na medida em que dá um passo à frente e se supera.

Muitos não aguentam mais ler listas sem sentido de finalistas, vencedores e blablablá. Este texto é sobre vocês. Vocês estão certos: o lado show business deste mercado pode parecer um lodo ruminado. É inovação demais pra minha cabeça – prefiro pedreiros e cocô ou até mesmo a IBM e o governo federal! A todos os demais: ainda tenho esperança de que é do pântano que surgem as flores de lótus e eu continuarei aqui procurando em meio aos girassóis que anunciam a primavera.

Vamos parar de imitar político! Xô mesmice sem sentido, xô enrolação!

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