Muitos sites e blogs já trabalharam de maneira interessantíssima o case do momento “Perdi meu amor na balada”, que acabou se revelando uma ação da Nokia para apresentar seu novo celular, o 808 PureView. Na verdade não é apenas um celular. A Nokia procurou introduzir no mercado um novo conceito de smartphone, com uma câmera fotográfica equipada com nada menos do que 41 MP de resolução. Então, por que dar mais pitacos sobre esse case? Porque, de um modo geral, nós gostamos.
Pra quem não sabe sobre o que é o case, dá pra resumir que um jovem, o Daniel Alcântara, começou a fazer uma espécie de campanha nas redes sociais pra achar uma suposta garota que ele havia conhecido na balada, a Fernanda, e que seria o grande amor da vida dele. O rapaz anotou o número do celular dela em um pedaço de papel, mas o perdeu. Então, nasceu o vídeo:
Mexeu com amor e foi bonitinho? Então o vídeo já tinha subido pra cabeça de centenas de milhares de usuários nas redes sociais. Todos queriam ajudar o pobre Daniel a encontrar o amor da sua vida. Teve todo um desenrolar (com três vídeos e uma fanpage) até chegar o grande momento em que a Nokia, finalmente, dá as caras na ação (que até então muitos não sabiam que se tratava de uma ação) e apresenta seu novo smartphone. O vídeo final, chamado de filme, não agradou gregos e troianos.
Na verdade creio que o impacto foi tão sério que a fanpage da ação contava com mais de 100 mil likes (se eu não me engano) e já perdeu uns 3 mil. Alguns diriam que foi apenas pelo final da ação, outros diriam que isso é prova dos resultados negativos e que toda a arquitetura elaborada pela agência Na Jaca teria dado errado, fazendo com que o cliente tenha ficado com uma péssima imagem.
Confira o número de “não gostei” no vídeo, muito superior ao do primeiro vídeo da ação. Fail, fracasso, insucesso total? Depende do ponto de vista. Segundo dados colhidos pelo Estevão Soares, da Estretégi.ca, ao monitorar o sentimento relacionado com o termo “Nokia” os comentários eram bem negativos. Porém, ao monitorar “Nokia” junto com o novo celular apresentado, o índice positivo beirou os 90% nos comentários. E aí?
Sem ter esses dados em mãos fica um pouco assustador acompanhar todo o desenrolar da situação. Na página da Nokia no Facebook muitos comentários agressivos foram publicados no post do vídeo final. Esse sentimento se alastrou para o Twitter e ganhou rapidamente exibição na mídia, quase sempre criticando a ação. Confira um print abaixo (as identidades foram mantidas pois as publicações foram realizadas de modo público):
A Nokia chegou a se posicionar na própria fanpage:
E agora? Muitos profissionais afirmaram que a empresa queria apenas buzz e que havia conseguido. No entanto essa posição pode ser meio simplória. É claro que houve erros na campanha, assim como em todas as campanhas que envolvem a participação direta dos usuários possuem erros. Porém também houve acertos. Se foi um sucesso total ou um fracasso não será possível afirmar com tanta clareza, pelo menos não por quem estão do lado de fora. Mas vamos analisar alguns pontos:
1. Preço e público
A Nokia se arriscou demais ao introduzir no mercado um smartphone de 41 MP que custa mais de 2 mil reais? Se pensarmos que com essa grana dá pra comprar um iPhone ou um Galaxy SIII, porque vamos comprar um Nokia com sistema Symbian? Essa pergunta pode ser feita por você, profissional de comunicação digital, que entende certos aspectos que um usuário comum não entende. Você compraria um Nokia de 2 mil? Eu não, mas e a galera louca pra ter um celular de 41 MP?
2. 41 MP e o quê mais?
Campanha de um rapaz atrás da moça, Nokia faz fail, críticas e mais críticas…. Foram tantos pontos levantados que acabamos nos esquecendo de falar do celular propriamente dito. O que faz esse tal de 808 PureView além de ter 41 MP de resolução na câmera? Eu não faço a menor ideia, a não ser pelas revistas e sites especializados que podem dar pitacos no aparelho. Se você perguntar para um profissional de digital por qual motivo ele tem um iPhone ele irá lhe dar centenas. Se você perguntar pra um usuário comum porque ele quer um iPhone ele irá dizer “é da Apple, aquela que tem a maçã. É o meu sonho”. Usuários comuns não falam de funcionalidades e nem querem saber como funciona o aparelho. Nós, sim.
3. Sucesso inesperado x eu não sou trouxa
Grande parte das críticas estão relacionadas com o buzz gerado pela campanha. Foi tanto sucesso que não conseguiram capitalizar aquilo? Será que o desfecho da ação deveria ser mais elaborado? Sim, o vídeo final é muito ruim e termina com um enorme “?” na cara do usuário que o assistiu. Poxa, cadê a garota? Era um celular? Era um viral? Era a Nokia? São tantas as questões pós enredo que nos fazem pensar em inúmeras maneiras que o encerramento deveria ser trabalhado. Talvez o sucesso tenha sido tão grande que o final teria sido adequado para um público menor.
4. Missão dado é missão cumprida
Não sabemos ao certo qual foi o objetivo real da ação e nem sabemos qual será a conversão de todo esse barulho, mas de uma coisa nós temos certeza: a Nokia conseguiu introduzir o celular de 41 MP no mercado. “Chegou chegando” e diz em alto e bom som que não é um equipamento para fotógrafos nem geeks. É um aparelho caro que com certeza será desejado pelo público comum, ou você vai dizer que não vê smartphones caríssimos nos metrôs e ônibus do dia-a-dia?
Pecamos por olhar com olhos de profissionais, com olhos treinados para identificar falhas e criticar aquilo que é diferente. Muitas pessoas que entraram na onda das críticas nem ao menos sabe o que está dizendo. Criticou porque o amigo disse que se “sentiu enganado”. Enganado? Você é enganado o tempo todo nos comerciais da TV, na publicidade dos jornais ou nos banners que você clica. Você não foi enganado, mas pode-se dizer que foi enrolado, já que tudo não termina de um jeito tão bacana como começou.
A ação foi bacana e inteligente, mas não soube se sustentar até o final. Fora isso, qual a sua – real – opinião? Ah, e pra quem não viu já tem uma paródia (meio agressiva) do viral: