Oren Jacob, o ex-CTO da Pixar fala aqui um pouco sobre os segredos da cultura da empresa Pixar
Recentemente na Jump, eu tive o prazer de entrevistar Oren Jacob, o ex-CTO da Pixar, em frente a um pequeno grupo de convidados. Oren compartilhou conosco algumas histórias fascinantes do que está por trás das cenas na Pixar durante os 20 anos que esteve lá.
Durante seu início na Pixar, Jacob ajudou a empresa a crescer e ser uma das empresas de maior sucesso nos EUA (dos 12 filmes de longa duração, todos foram “blockbusters”!). Você precisa gastar apenas cinco minutos com ele para entender que ele incorpora tudo que acabamos amando nos filmes da Pixar. Ele fala apaixonadamente, compartilha histórias emocionais que vibram em todos nós, e sim, ele é bem animado (até levanta de sua cadeira para enfatizar um ponto).
Mas o que mais chama a atenção pra mim em Jacob é sua habilidade de cruzar princípios organizacionais, acadêmicos e indústriais tradicionais para fazer “as coisas acontecerem”. Ele é epitomo de um pensador híbrido. Um engenheiro mecânico de formação, ele teve papéis importante na Pixar além de criar a Pixar University e a plataforma de software proprietário para gestão do “pipeline” de animações. Ele também era parte integral do processo de criação das estórias e um bastião da cultura da empresa.
Por toda a conversa de Jacob houveram lições de como usar o pensar híbrido para resolver desafios grandes e ambíguos dentro da organização (a ilustração visual da conversa está abaixo feita por Jonathan Gabrio). Enquanto muito da discussão correu sobre a regra “O que acontece em Vegas”, eu fui capaz de perceber alguns outros pontos que Oren ficou confortável em compartilhar com uma audiência mais ampla. Aqui vão os cinco princípios que eu ouvi:
1. Quando estiver ruim, fale.
Em dezembro de 1998, a Pixar tinha acabado um trabalho de três anos em Toy Story 2. O filme estava preparado para ser a estrela da Disney para o fim do milênio. O problema foi que o filme não era bom. Com apenas oito meses para finalizar a produção, Jacob fez o inimáginável e depois de falar com todos os produtores, foi até o time de executivos e disse a eles que Toy Story não estava bom. De fato, Jacob e alguns outros disseram que o filme era horrível e podia arruinar a empresa se fosse lançado daquela forma. Após assistir o filme, Steve Jobs, CCO – Chief Creative Officer John Lasseter e o Presidente Ed Catmull e outros concordaram e lançaram mão de uma revisão no filme.
O filme foi completamente reescrito e produzido nos próximos oito meses. Toy Story 2 foi lançado para se tornar um dos filmes da Pixar mais bem aceitos pela crítica especializada mas apenas porque Jacob e os outros do seu time tiveram peito para dizer que o trabalho não estava bom o suficiente. Não estava algo que eles podiam acreditar.
É fácil acreditar que o pensamento criativo vive e respira melhor quando está longe de críticas. Enquanto um julgamento rápido pode matar boas idéias, uma crítica de cabeça erguida e consciente e tão importante quanto qualquer técnica de brainstorm.
Seja honesto com si próprio. Quando o trabalho não estiver bom, diga. E então, comece a trabalhar e a construir algo que você acredita.
2. Defenda sua opinião, e então pressione PLAY rapidamente.
O processo de produção na Pixar é longo com muitos grupos participando em vários estágios. Um ponto crítico no processo é chamado de “Notes Session”. É quando vários indivíduos chave, como o diretor e o escritor principal, senta e assiste o filme. Eles então capturam mudanças que precisam ser feitas em notas e entregam ao time (por isso o nome).
Esses são tempos estressantes para muitos. Dependendo das notas, muito retrabalho ter que ser feito. Jacob explica que se você não puder fazer as mudanças escritas nas notas, é melhor você achar uma boa justificativa. Porém gastar muito tempo explicando porque você não fez as mudanças pode se tornar um suícidio. “Mantenha as justificativas curtas, e então pressione PLAY rapidamente”, Jacob diz. Deixe o trabalho falar por si mesmo.
A mesma coisa é verdadeira em criar um novo negócio. Evite cair em uma meta-discussão que leva a perda de tempo. Ao invés disso, deixe as pessoas experimentarem rapidamente o que você estiver criando.
3. Procure pela origem do problema
Jacob explicou que quando alguém está confuso assistindo um de seus filmes, 99.99% do tempo não é por causa de algo na cena. O problema geralmente está antes no filme. Ou o personagem não foi bem desenvolvido anteriormente ou os pedaços da história não foi bem explicado. Se você simplesmente reagir e mudar a cena naquele momento onde se ficou confuso, você errou. Ao invés, é importante pensar sobre o porquê a pessoa não entendeu e trabalhar para corrigir isso.
Este princípio é aplicável para muitos processos internos em uma empresa, particularmente ao se desenvolver novas ofertas plataformas e negócios. Antes de reagir a um “feedback”, pergunte porque a pessoa está vendo as coisas dessa forma. Você poderá descobrir o que precisa ser mudado ou adaptado em fases anteriores. Procure pela verdadeira origem do problema.
4. Combine o meio com a mensagem
Já no início, Jacob percebeu que a empresa precisaria criar sua própria plataforma de software para gerenciar os projetos por toda a produção. Afinal de contas, a Pixar sabia de animações mais do que qualquer um, e não havia como ficar a mercê de uma empresa de software que estava focada em servir as necessidades da indústria de video games.
Quando era tempo de mostrar idéias para executivos, incluindo Steve Jobsm Jacob decidiu explicar seus argumentos usando rascunhos a mão – 50 páginas deles, para ser exato. Por que? Porque “storyboards” são moeda corrente na empresa. Jacob também aprendeu que se a idéia está muito polida, irá evocar um criticismo negativo ao invés da ajuda para se levar a idéia adiante.
Os rascunhos funcionaram. Jobs aprovou um orçamento sem precedentes e disse, “Não faça besteiras”. O próximo filme da Pixar, Brave, que sai em 2012, será o primeiro filme totalmente desenvolvido com o software proprietário.
Rascunhar e encenar scripts são como se passam idéias na Pixar. Tente uma variedade de diferentes mídias para achar o que funciona bem para você e para sua empresa.
5. Contrate para excelência
Quando a Pixar está avaliando um profissional potencial ela olha para três traços: humor, a habilidade para se contar uma estória, e um exemplo de excelência. Essas não são as únicas qualidades a serem vistas em um profissional. Não importa em que você é excelente, mas se você atingiu um nível de excelência. É importante que você saiba como a excelência é, como você se sente com ela, e como chegar a ela. Pode ser jardinagem, jiu-jitsu ou cozinhar. A coisa mais importante na Pixar é que você saiba o sabor da excelência e como chegar até ela.
Como você contrata? Saber o sabor da excelência é um dos seus requisitos?
É por causa de pessoas como Jacob que enxergam além do status quo para criar melhores sistemas que possibilitem grandeza, que nós devemos encarar o desafio de resolver os mais ambiguos problemas do mundo hoje. Espero que esses pontos possam se provar eficazes em nossas próprias abordagens híbridas.
Escrito por Deve Patnaik, CEO e fundador da Jump Associates, uma empresa que ajuda empresas a criarem novos negócios e reinventar existentes.
Clique aqui para ler a matéria original na FastCompany.