Durante uma época trabalhei numa agência onde tinha um funcionário que – parafraseando o personagem criado pelo genial Marcelo Mainsfield – era o Sr. Merda. Aliás, quando entrei lá o cara era só um gerente, mas pouco tempo depois se tornou diretor. Sem experiência, num cargo de notoriedade, com um ótimo salário e poderes (quase) absolutos sobre diversos departamentos. E se você acha que essa era apenas a minha opinião tá enganado. Quase todos os funcionários (e até mesmo alguns diretores) concordavam com isso. E mesmo assim ele permanecia lá: Fazendo muita cagada e deixando para os outros limpar. A parte engraçada (se é que tem uma) é que ele não se achava um merda! Pelo contrário: Gostava de andar de peito estufado para lá e para cá, falando para todos sobre quão bom ele era nisso e naquilo. Um conhecedor de tudo. Um tipo de “messias da comunicação”.
Eu, sem entender, comentava com amigos sobre as enrascadas que caía para resolver a falta de competência do sujeito, e todos me diziam: “- Pô, na minha agência tem um cara igual e passo pelos mesmos problemas”. Mas será que toda a empresa tem essa carta na manga? Um funcionário que acaba se destacando (será?) entre os outros, mesmo sendo aquém que a média?
Eu não sei.
Um amigo (CEO de agência) me deu a seguinte opinião: “- Normalmente os caras bons recebem propostas que as agências não conseguem – ou normalmente não querem – cobrir e eles vão embora. Já os mais superficiais ficam, pois precisam do emprego, e anos depois são bem vistos (graças a pseudo-fidelidade e ao conhecimento adquirido depois de tanto tempo fazendo a mesma coisa). Se torna o cara que “nunca largou a empresa”, que “entende de todo o processo” e que “inspira confiança” pro chefe. Pronto! Vira diretorzão.”
Outra teoria que ouvi é que, para algumas empresas, é bom ter um cara assim. Normalmente eles são tradicionais e relutantes com as novas idéias. São adeptos da “fórmula que já funciona”. E isso segura a molecada que chega mordendo mesa e com vontade de revolucionar o mundo. A empresa fica em uma zona de conforto, não se arrisca muito e mantém o negócio caminhando. Devagar e sempre.
Mas particularmente não tomei partido. Discordo que (todo) funcionário com tempo de casa é fraco. Generalizar é sempre uma merda. Da mesma forma, não acredito que toda empresa quer ser tradicional. Afinal, não é revolucionando e buscando melhorias em produtos e serviços que elas se mantém vivas!? Anyway: Embora o Sr. Merda da minha história tenha me causado péssimas noites de trabalho na agência, limpando bosta dos corredores, prefiro acreditar que eles não passam de casos pontuais nas empresas. E que ainda assim, nos dão a possibilidade de ir além.
Primeiro, por uma questão pessoal: Provar para si mesmo que seu trabalho tem qualidade e profundidade suficiente para ir além do que determinaram para (leia-se: limitaram) você. Segundo, por uma questão ética: Fazer com que o Sr. Merda aceite e reconheça que suas idéias realmente propõem soluções inovadoras, sem passar por cima dele. E por último, por uma questão de trabalho em equipe: Não é porquê o Sr. Merda é ruim em uma coisa (e até já te prejudicou por isso), que ele é ruim em tudo. Às vezes ele é fraco pra criar, mas pode ser bom para gerenciar, ou para defender idéias… para administrar problemas. Quem sabe?
Sempre acreditei que é possível tirar proveito de todas as situações. E, como já disse Pitagoras, “O Universo é uma harmonia de contrários”. Então… pra que lutar contra a maré, se é possível remar, acrescentar e aprender com ela?
E pra quem nunca viu o Sr. Merda de verdade, vale a risada.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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