O cenário brasileiro nunca foi tão favorável ao mercado de eletrônicos: economia pujante, recordes nas vendas de PCs e celulares e uma classe C emergente, com fartura de crédito e muita vontade de gastar. Mesmo assim, nossa indústria patina, patina e não sai do lugar.
Eu poderia listar nesta coluna dezenas de amigos e conhecidos, pequenos empreendedores, que nunca estiveram tão desanimados em produzir localmente.
Tem o que fabrica embalagens para doces e chocolates; as malharias; as fabricantes de sapatos; os fabricantes de brindes — que na última Copa do Mundo amargaram prejuízo graças ao preço imbatível de bandeiras e cornetas feitos na China, e para quem as eleições do ano que vem são a última esperança. Até o glorioso Exército Brasileiro passou a encomendar fardas e acessórios da Ásia, embora reclamem que em poucos meses os uniformes já estão rotos. E tem o empreendedor nacional de tecnologia, que aposta na fabricação local de componentes eletrônicos, mas na hora de vender para as grandes empresas de computadores, celulares e telecom, perde para a concorrente do outro lado do mundo, que muitas vezes até pratica dumping.
Conversei com economistas e advogados tributaristas para saber onde está o calo que aperta no nosso sapato. Nossos papos encheriam páginas e páginas do Tecnoblog.
Faturamento colossal, de verdade, é para os grandes empresários e varejistas, que vendem à uma margem de lucro pequena e ganham em volume. Geralmente são multinacionais ou parceiras de multinacionais. Ou bancos e financeiras, que alimentam-se das mais altas taxas de juros do mundo. Ou montadoras, que vendem carros a preços altíssimos, e, embora todo mundo reclame, ninguém deixa de comprar. Além de tudo, as fabricantes de veículos hoje possuem suas próprias financeiras ao invés de terceirizar. Vendem carro e dinheiro junto. A pequena e média indústria nacional é a que mais sofre com os altos impostos e entra em desvantagem junto às concorrentes. Pra piorar, o dólar desvalorizado tem sido o pesadelo dos exportadores.