Hitler não era bobo. Mesmo antes de tomar o poder na Alemanha, já perseguia e pressionava a Bauhaus (a mais famosa escola de arte, design e arquitetura). E como já era esperado, assim que os nazistas tomaram o poder, a instituição foi sumariamente fechada. E aí você me pergunta: mas em que uma escola de artes poderia atrapalhar o Führer alemão? Simples: eles eram intelectuais. E assim como na época da ditadura brasileira, pessoas criativas, com voz, boas idéias e cabeça aberta são um problema para o Poder. Mas não precisamos mais relembrar dessas coisas, né? Hoje em dia os artistas, criativos e pessoas com opiniões diferentes são respeitados, certo?
Não sei.
Hoje de manhã vi uma nota absurda, postada pelo meu amigo @cabralvitor: o artista gaúcho Antônio Crocco, conhecido por Tonho Crocco, recebeu uma intimação para comparecer no dia 22 de agosto lá no Foro Central de Porto Alegre, para responder a acusação de “CRIMES CONTRA A HONRA” de 36 deputados do Rio Grande do Sul. Explico: lembram quando os deputados estaduais aprovaram rapidamente um aumento de 73% dos próprios salários (de R$ 11.564,76 para R$ 20.042,34), em 2010? O Crocco, revoltado com essa situação, manifestou seu descontentamento em um protesto pacífico. Um rap, entitulado “Gangue da Matriz“. Postou no YouTube. E, segundo o Ministério Público, ele feriu a honra dos parlamentares. Veja o vídeo:
Eu não sei o que pensar. Todo mês, quando pago meus impostos, penso em tudo o que o governo não me oferece em troca. Segurança, saúde, estudo, moradia. E o pior: além de contratar e pagar tudo isso do meu próprio bolso, ainda tenho mais impostos inclusos nesses serviços. E falo por São Paulo: a cidade está caótica. E enquanto projetos importantes não saem do papel, coisas como “Dia do Orgulho Hétero” é discutido e aprovado. Ou (nesse caso) o aumento dos salários dos políticos: que entra na casa, é discutido e aprovado em uma velocidade que ninguém nunca viu.
Acredito que o Crocco tem todo o direito em expressar sua opinião e criticar os parlamentares que (vale lembrar) estão lá para servir a população. Mas é aquilo: estamos em 2011 e não é ano de eleição. No ano que vem a turma volta pra TV, com aquele velho chavão: “A minha luta é contra…”
… se for contra a CENSURA, já é um bom começo.
Sorte do @nicolasvargas, que está sem TV pra ouvir essa baboseira interminável que somos obrigados a cada dois anos. Afinal de contas, visto pelo que aconteceu com o Crocco, me parece que pra votar a gente serve. Mas pra cobrar não.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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