Taí um livro ótimo pra você não ler: Don’t Make me Think, do Steve Krug. O livro é tão bom que só o título basta, e sua ideia central é tão elegante que até sobra espaço no Twitter: não me faça pensar. Quem quer pensar, afinal? Se quiser uma prova, ligue a TV, veja os trending topics do Twitter ou vá a eventos de digital. Pensar não dá ibope.
Curiosamente, esse livro do Krug é focado em interatividade digital, uma área que costumamos associar à tecnologices, a geeks, a códigos e complicações. Ledo engano. E a prova está na palma da tua mão: o iPhone é um sucesso porque você não precisa pensar. Os outros, well, dão muito trabalho. Uma anedota rápida: uma amiga minha estava conversando com uma candidata a diarista. A conversa estava indo bem e ela perguntou quanto a senhorinha cobrava. “Com pensamento ou sem pensamento?”, ela perguntou. A moça ficou desentendida. A senhora explicou “Se a senhora jantar em casa, eu vou ter que pensar no que vou cozinhar. Se não, não preciso pensar”. Voilà: com ou sem pensamento.
Que consumidores não queiram esquentar a cabeça não me preocupa tanto, isso é, no máximo, algo a se levar em conta quando criamos alguma coisa nova. O que me intriga é ver empresas caindo na mesma armadilha. Não sei quanto a você, mas de uns bons anos pra cá estou parecendo o Jonas, vendo baleias por dentro, ponto de vista privilegiado (ou não) por trabalhar em grandes empresas de todo tipo. Tendo estado onde estive, aprendi que o que realmente faz diferença para qualquer empresa é fazer a lição de casa, lidar de frente com os bodes pretos no meio da sala. Problemas são como baionetas: não é bom sentar em cima.
Olho em volta e vejo empresas (e instituições, governos, marcas, etc) empurrando problemas crônicos pra dentro do armário enquanto se travestem com o que acreditam ser fashion e moderno. Pra quem leu, Dorian Gray 2.0. Pra quem não leu, meu #desaforismo serve: “tendências e novidades são uma ótima desculpa para não se focar nos problemas crônicos”. Ou outro #desaforismo do mesmo dia: “olhar sempre à frente é o primeiro passo para se ficar pra trás”.
Well, se você for muito competitivo, essa febre do oba-oba pode ser uma benção: é uma ótima chance de focar enquanto teus concorrentes perdem tempo. Infelizmente, porém, competição não é a minha praia, carnaval tampouco, e o que eu gosto mesmo é de bons problemas. Nisso dá gosto pensar.
René de Paula Jr. está teimando no mercado interativo há 15 anos.