Tem dias que paro para refletir sobre as consequências sociais de toda essa tecnologia que nos cerca. Na maior parte das vezes, só tenho elogios. Por exemplo, por aproximar as pessoas. Há quem ache o contrário. Contudo, pela quantidade de famílias separadas pela distância, que conta apenas com a tecnologia para matar a saudade, o saldo é positivo. São um respiro de alegria para parentes que vão estudar ou trabalhar fora. E para certos avós, cujos filhos e netos estão espalhados pelo país, significa até a cura de quadros depressivos. Sou uma otimista defensora da tecnologia fortalecendo laços humanos.
Porém, quando se trata de redes sociais e a desgraça alheia, até meu eterno otimismo fica abalado.
Vou confessar para vocês: meu uso do Twitter, que já andava meio morno desde que adoeci, sofreu um sério abalo desde a morte da Amy Winehouse. Não que eu fosse fã da cantora, ao contrário: só conhecia 2 hits, e minha opinião era apenas que ela tinha algum potencial. Quanto ao comportamento da moça, sempre fiz pouco caso. Acho que cada um faz o que quer da sua vida. Mas o que eu li — ou melhor, caiu no meu colo — naquele dia deixou-me infeliz.
Sei que não dá para levar a sério os juízes da internet, já que basta um teclado para todo mundo virar formador de opinião. Mas foram postagens tão baixas que minha fé na humanidade arrefeceu.
Algum tempo depois o fenômeno se repetiu com a morte de Steve Jobs. Neste caso, no geral, o clima era mais de comoção, de dor, com muitas homenagens. Mas sempre tem aqueles dispostos a polemizar para aparecer. Pena que prefiram a sordidez em vez de argumentos.
Mais recentemente veio o anúncio do câncer do ex-presidente Lula. Felizmente, esses posts eu não li. Não me refiro a críticas sobre o uso da rede pública ou particular de saúde, uma discussão que é até coerente. Falo da às vezes irresistível vontade de despejar ódio, rancor e até inveja diante de uma pessoa fragilizada. Só de ouvir falar do tamanho da repercussão na web, e que grandes portais de notícias até suprimiram a seção de comentários dos artigos sobre o tratamento do ex-presidente, resolvi tirar uns dias de férias das redes sociais.