Quando o assunto é Geração Y fica difícil não mencionar algumas características geralmente associadas aos jovens que pertencem a essa época. Descompromissados, insubordinados e não leais são apenas alguns (de muitos) adjetivos negativos estampados aos millenials. Por conta disso, muitos deles estão sendo prejudicados no mercado de trabalho, que sofrem preconceitos e outros tipos de descriminação dos mais experientes. Mas será que podemos julgar toda essa geração de maneira tão leviana? Até que ponto tudo o que dizem sobre esses jovens é de fato real ou mito?
Separando o joio do trigo
Antes de tudo, é preciso destacar que educação vem de berço e algumas características, como caráter e ética, se desenvolvem individualmente. “Generalizações são inevitáveis (e sempre existirão), mas é preciso diferenciar entre os atributos de toda uma geração e de ser jovem”. A afirmação é de Sabrina Sato, autora do blog “Eu sou Y, Geração Y”, mas poderia sair da boca de qualquer outra pessoa dessa época que já está cansada de ter que pagar pelos rótulos alheios.
Colocar rótulos em alguém sempre foi e vai continuar sendo a coisa mais fácil de fazer quando não se conhecem essas pessoas e não se sabe o contexto em que vivem. Além disso, a juventude sempre foi rotulada: “começa com crianças mimadas, passa por ‘aborrecentes’, depois vai para juventude sem rumo e hoje virou modinha chamar todo e qualquer comportamento jovem de ‘Geração Y’’, provoca Sabrina.
Na opinião de Alexandre Santille, sócio-diretor da LAB SSJ, esse papo de ficar rotulando gerações é bastante relativo. “Muito do que se diz, na verdade, está relacionado à fase de vida. Ou seja, existem comportamentos que, em geral, todo jovem apresenta, independente da geração que ele pertence”, conta. Mas, também, o pior de tudo é que muitos acabam se adequando às expectativas que se têm sobre eles. E isso exige um rompimento no comportamento atual dos principais responsáveis por gerir essa geração.
“O ideal é que gestores e pessoas que lidam com esses jovens profissionais não reforcem esse comportamento e promovam maior alinhamento do diálogo franco e aberto”. (Alexandre Santille)
A queda dos mitos
Na tentativa de compreender melhor o comportamento desses jovens da Geração Y, a LAB SSJ organizou uma pesquisa onde puderam encontrar sinais que rebatessem um pouco os estereótipos desses jovens. Mais de 15.600 respostas depois, a primeira constatação foi que eles, a tal da Gen Y, não são tão ligados a tecnologia quanto se diz. “A tecnologia não é o principal fator que norteia a vida dessas pessoas. E segundo que, no fundo, todas as pessoas querem mesmo é se desenvolver, progredir e aprender, principalmente, aqueles que estão entrando no mercado de trabalho”, explica Alexandre Santille, sócio-diretor da LAB SSJ.
Fiéis, sim, senhor. Mas a eles mesmos.
Uma outra constatação feita pela LAB SSJ nos leva a refletir sobre um terceiro ponto, também bastante relacionado a essa geração: a falta de fidelidade à empresa onde trabalham. É um tanto óbvio que com mais acesso à informação, mais recursos, mais escolaridade e mais estabilidade econômica, os “Ys” se sintam mais preparados e confiantes que a geração anterior. Mas, antes de tudo, é preciso estarmos atentos a um detalhe: a pressa em crescer é apenas uma parte da equação. A outra é a busca da felicidade, a obsessão do nosso tempo em encontrar um trabalho que gere satisfação permanente, que dê sentido para vida e carreira, que conceda ao jovem a sensação de que o que faz é importante e tem eco nos seus valores pessoais. Sim, eles querem subir na carreira (e quem não quer?), mas querem tanto ou mais canalizar suas energias e ideias em algo que valha a pena.
Além disso, ao questionarmos a falta de fidelidade dos jovens, é preciso perguntarmos qual o seu referencial de fidelidade. Se ela for passar dez ou 20 anos em uma mesma empresa, isso pode ser uma falácia, pois, hoje em dia, nem mesmo os “não-tão-jovens-assim” são fiéis. “Hoje o limite de tolerância do jovem com uma empresa é baixo. Há muitas opções e a vida é curta demais para ficar em um emprego que não gosta, que não combina com o que ele acredita ou que não o satisfaça. Ainda mais quando ele mora com seus pais – como é o caso de muitos. Portanto, ele pode se dar o luxo de fazer algumas mudanças sem tantos riscos”, palpita Fabio Tadashi Suzaki, Diretor Geral de Desenvolvimento Humano e Organizacional da Vivo.
As empresas, por sua vez, tendem a reciclar velhas ideias ou embarcar em modismos para reter jovens. Acontece que, em alguns casos, muitas nem sabem para quê querem ter jovens na equipe. “Pegue alguns programas de estágio ou de trainee: o primeiro, às vezes, é apenas uma fonte de mão de obra operacional. Já o segundo traz jovens de excelente formação, mas com pouca maturidade emocional para aprender a regra do jogo da empresa e conquistar seu espaço”, explica.
“As empresas tendem a reciclar velhas ideias ou embarcar em modismos para reter jovens. Acontece que, em alguns casos, muitas nem sabem para quê querem ter jovens na equipe”. (Fabio Tadashi)
X=Y=Z?
Mas, afinal de contas, será que a data em que nascemos é capaz de determinar as características do comportamento de toda uma geração? E será que podemos afirmar, de fato, que existem diferenças entre as gerações? Pode até ser que sim, mas não podemos desconsiderar o contexto em que cada uma foi criada. “Mas tenho observado também que traços culturais (o jeito brasileiro de ser), educacionais (estilo da criação que receberam dos pais e da escola) e até o nível socioeconômico são tão ou mais determinantes da pessoa que a geração em si”, aponta Fabio. E conclui: “somos filhos do contexto no qual fomos criados”.
Se tomarmos como exemplo uma pessoa nascida em 1989, pode-se dizer que ela viveu a adolescência sem hiperinflação, viu o surgimento da Internet e já teve acesso regular ao Google para seus trabalhos escolares. Seus pais já se casaram um pouco mais tarde e ambos tiveram que trabalhar para dar um nível de conforto e estudo, mesmo que isso tenha resultado em uma menor convivência com os filhos que eles mesmos tiveram.
“Somos filhos do contexto no qual fomos criados”. (Fabio Tadashi)
Aliás, o conceito de Geração Y geralmente utilizado por aqui é importado dos Estados Unidos, e não condiz muito com a nossa realidade. Portanto, não seria incoerente afirmar que diferenças entre gerações existem, mas devem ser sempre relacionadas à cultura local e à história do país para serem realmente válidas.
Mas há também quem considere mais relevante apostar em características comportamentais que cronológicas. O Pew Research Center, por exemplo, elaborou um teste que avalia o nível de Geração Y na sua personalidade, de 0 a 100, através de 14 perguntas. E o teste, por mais lúdico que seja, pode mostrar que tem muito mais tiozinho com a cabeça de Y por aí e jovem se achando “o cara” – mas não passando de um cara antiquado – do que imagina, não é mesmo?