De tempos em tempos nos amamos (sendo que as Copas dos Mundo são um desses momentos mais intensos) e, normalmente, mais comumente, nos odiamos e mostramos todo o nosso complexo de cucarachos, daqueles que acham que tudo que é gringo é melhor, mais bonito, mais organizado, mais sério, etc., etc. Conhece a cena? Pois é.
2012 começou com tudo e, como não poderia deixar de ser, com uma bela polêmica nas mídias sociais: Michel Teló.
Pra entender, resolvi ver os vídeos do moço e, claro, ferrou, pois não consigo mais tirar da minha cabeça o “ai se eu te pego na minha humilde residência!” Ok, ok, eu sei que misturei as músicas… mas que elas pegam, pegam, já ouvi em inglês, uma dupla francesa ótima (abaixo), os israelenses fake, e várias impublicáveis, etc. e aí fiquei pensando.
O cara é bom. Não é erudito, não é um Chico, mas nem acho que seja a proposta dele. O que ele perde pruma Macarena, por exemplo, ou prum Axé ou pruma Lady Gaga? É pop, é fun, é lazer, é só diversão. Toca Teló no autofalante do cara parado na praia com o porta-malas aberto, toca na favela, toca nos casamentos da classe média e toca no Jurerê Internacional, ou seja, toca no Brasil – a revista Época tem sua razão. E toca Teló no mundo!
Aí, vendo a reação nas mídias sociais, a revolta de quem não se sente incluído no “todo mundo” da Época ou quem acha que Teló é muito ruim ou ainda quem acha que o Brasil é muito ruim por conta de gostar/ouvir/falar do moço, me bateu uma sensação muito forte de que temos uma puta vergonha de nós mesmos, como povo, como ajuntamento de pessoas, não nos assumimos e não nos orgulhamos do que somos.
E, interessante, as mídias sociais têm funcionado para nós como um enorme espelho, uma imensa vitrine onde estamos todos expostos, tudo ali para quem quiser olhar. Os súditos estão nus!
Orkut, Facebook, Twitter, G+, tanto faz onde estejamos, estamos ali escrachando nossas idiossincrasias, nosso jeito, nossa ética flexível, nosso “faça o que eu digo, mas não faça ou que faço”, nossa lei de Gerson, nosso jeitinho brasileiro, nosso gosto musical, de leitura, nosso humor, nossa educação, nossa religião, nosso sincretismo, nossos hábitos, nossos costumes, nossas línguas, nossos preconceitos, nosso racismo, nossa genialidade, nossa inventividade, ou seja, nossa brasilidade toda!
As mídias sociais estão transformando a nossa vida de todo em um enorme livro aberto, explícito e transparente para quem quiser ler. Faz isso individualmente, mas faz isso em massa, como povo.
E quando a gente lê tudo o que as mídias sociais nos mostram sobre nós mesmos, a gente se estranha. É isso que sou como povo? A gente pensa “eles gostam, não eu”, mas canta no Jurerê Internacional ou na balada! A gente arruma desculpas para explicar ou justificar, a gente se envergonha da gente mesmo e tenta mostrar que aquilo é “alguém” não a gente, e a gente não consegue se ver simplesmente como um povo alegre, eclético, divertido e que, no caso do Teló, está só having fun.
Deixando Teló de lado, as mídias sociais podem cumprir um papel fundamental de nos fazer olhar nosso umbigo e nos sacar melhor como povo, quem somos, entender que Brasília é um reflexo de nós, que o Lula é a nossa cara, que não mudamos as situações que nos incomodam pois temos essa ética elástica, que nossa alegria e leveza com o mundo é contagiante, linda e talvez uma das coisas mais incríveis que temos como povo e, até, por que não, que o mundo cantar, curtir, rir, plagiar e brincar com o Teló é superbacana pra gente e não o contrário!
Aí se eu te pego… delícia!
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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