Eu não queria estar na pele da Maria Rita.
Nesse mês ela começará a turnê Viva Elis, na qual homenageia sua mãe, Elis Regina, num projeto patrocinado pela NIVEA que relembra os 30 anos de morte da cantora. Os shows serão gratuitos e começam dia 24 de março, em Porto Alegre. Ela se apresenta em SP no dia 22 de abril.
Com certeza Elis merece todas as lembranças e homenagens. Ela foi inegavelmente uma das maiores cantoras que o Brasil já teve (se não a maior) e marcou profundamente a história da nossa música, cantando e sendo imortalizada por compositores tão talentosos e poderosos quanto suas cordas vocais (João Bosco, Gilberto Gil, Chico Buarque, Milton Nascimento, Edu Lobo, Tom Jobim, Belchior, só para citar alguns).
Quando Elis cantava, o país parava para ouvir.
Sua afinação e interpretação eram impressionantes, e ela hipnotizava o público com seu jeito de mergulhar como nenhuma outra cantora em cada canção.
Você pode rir e chorar com Elis. Você pode viajar até o espaço com ela na “Lunik 9” ou ficar solidário a ponto de querer abraça-la e emprestar seu ombro a ela depois de ouvir “Retrato em Branco e Preto”, assim como você pode querer sair pulando de alegria com ela em “Vou Deitar e Rolar”. Tudo era intenso quando se tratava de Elis Regina. E assim ela conquistou os corações de todo um país com seu jeito único de cantar.
E naquele trágico 19 de janeiro de 1982, a morte de Elis aos 36 anos de idade causou uma das maiores comoções nacionais de que se tem notícia. Até hoje ela é a cantora mais querida do Brasil e continua emocionando gerações com sua obra, um dos maiores legados da MPB.
E por isso mesmo eu não queria estar na pele da Maria Rita.
Ela vai subir num palco para interpretar clássicos imortalizados pela sua mãe.
É uma homenagem louvável e um presente incrível para os fãs (tanto dela quanto de Elis). Mas, ao mesmo tempo, pode ser um tiro no pé. Se já era difícil não comparar as duas com um repertório totalmente diferente, como vai ser quando a filha começar a entoar a história recente da nossa música em cima daquele palco, reproduzindo todos os trejeitos e maneirismos da mãe?
“… homenagear Elis colocando-se à dura prova de fazer o que ninguém jamais conseguiu: cantar como ela.”
(Em tempo: eu gosto da Maria Rita. Considero-a uma grande e talentosa cantora, dona de um dos melhores primeiros discos de carreira da MPB moderna, – não posso dizer o mesmo sobre os seguintes – afinadíssima e quase sempre bem-sucedida na escolha de seu repertório. E admiro-a ainda mais pela coragem de homenagear Elis colocando-se à dura prova de fazer o que ninguém jamais conseguiu: cantar como ela.)
Torço para que ela brilhe no palco e resgate a magia que sua mãe tinha ao entoar cada nota. Eu sei que vou compreender a homenagem e me emocionar com ela, sem fazer comparações ou julgamentos. Vou me juntar à Maria Rita e ao João Marcelo no sentimento de saudade e de celebração, e tenho certeza que será um belo espetáculo. E torço para que o resto do público sinta o mesmo.
Mas… definitivamente? Eu não queria estar na pele da Maria Rita.
Projeto Viva Elis, com Maria Rita
Elis Regina em Montreux (1979) – Madalena
Elis Regina – Tatuagem
Elis Regina e Tom Jobim – Águas de Março
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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