O Android em tablets nunca mostrou a que veio. Teve uma versão própria para o formato, o Honeycomb, mas mesmo com várias fabricantes lançando os seus, nunca emplacou. A ASUS conseguiu se diferenciar um pouco com a série Transformer e seus teclados físicos e, talvez por isso, foi a escolhida pelo Google para criar o primeiro tablet com a grife Nexus. O primeiro tablet do Google, o Nexus 7. Ficou bom? Juntamos as análises que já saíram lá fora para tentar responder essa pergunta.
Um hardware que vale mais que US$ 200
É unânime: não parece um tablet de US$ 200. O acabamento é bom e algumas soluções são relativamente originais, como a traseira emborrachada que lembra couro (mas não é; é borracha mesmo). No Verge, Joshua Topolski:
“Ele é bom de segurar nas mãos. Aquela traseira macia me parece definitivamente diferente de qualquer outro tablet desse nível e aparenta ser muito mais resistente a marcas do que outros como o [Kindle] Fire. A moldura na frente parece um pouco grande para o tamanho da tela, embora enquanto eu lia um livro tenha achado o espaço extra útil porque, assim, eu tinha um lugar onde segurar (na realidade, [Matias] Duarte me disse que esse design foi intencional, não uma vítima de componentes baratos). Existem alguns pequenos problemas de construção, como o fato de que a tela apresente uma pequena ondulação se você apertar forte contra ela, mas a maioria das pessoas jamais apertará forte o suficiente para notar.”
No AnandTech, Brian Klug tenta desvendar a mágica usada para conseguir um produto tão sólido a esse preço:
“Quando você olha as especificações, parece um quebra-cabeça que a ASUS teve que resolver para conseguir chegar a US$ 199 com eficiência. Chegar a esse preço baixo é fácil com algumas coisas — dispositivo e tela fisicamente menores, exclusão de portas USB normais ou outras portas (há apenas uma microUSB), nada de câmera traseira e um bom fornecimento de componentes. Um benefício colateral é que se você roda 1280×800 em uma tela pequena, acaba com um painel de DPI alto ao mesmo tempo. De qualquer forma, você acaba com um dispositivo que é realmente impressionante, com um SoC quad-core e um formato atraente.”
Como dito, a oferta de portas de expansão é limitada. Existe apenas uma microUSB, saída de áudio (ambas na parte inferior) e um conector similar ao do Galaxy Nexus, presumivelmente para acessórios futuros ainda não anunciados. O resto das configurações Tim Stevens, do Engadget, conta:
“Dentro está um processador NVIDIA Tegra 3 quad-core rodando a 1,2 GHz (embora possa chegar a 1,3 GHz quando quiser) com 1 GB de RAM e 8 ou 16 GB de espaço em flash (dobrar a capacidade custará a você US$ 50 extras). Como não há expansão via microSD aqui, você provavelmente quererá pagar o valor extra. Wi-Fi (802.11b/g/n) é a sua única opção para conectividade de dados, ainda que, naturalmente, haja Bluetooth e NFC, sem falar em GPS, um acelerômetro, uma bússola digital e um giroscópio também.”
O preço baixo, claramente subsidiado pelo Google, deixa aberta uma discussão, levantada lá fora pelo camarada Brian Barrett: como ganhar dinheiro com isso? Ao AllThingsD, Matias Duarte disse que o preço de venda “empata” com os custos, logo, resta o conteúdo do Google Play para dar lucro ao Google. E ficou bem claro que a vocação do Nexus 7 é para o consumo de conteúdo vindo de lá. Mas as pessoas agirão assim? É um questionamento não só válido, como muito importante. Dessa resposta depende a viabilidade da estratégia do Nexus 7.
Voltando às análises, a tela foi elogiada nas três. O tamanho menor, de 7″, parece ter permitido à ASUS colocar tecnologia de ponta sem que, com isso, o valor final extrapolasse o “sweet spot” dos US$ 200. Do AnandTech:
“O próximo ponto é como a tela parece. Já vimos outros tablets de baixo custo antes, mas geralmente o primeiro lugar onde a economia se torna evidente são suas telas. No caso do Nexus 7, a ASUS lembra que se trata de um painel IPS com backlit de LED, multitouch de 10 pontos e brilho máximo de 400 nits. A resolução, claro, é WXGA (1280×800) em 7″. Se você fizer os cálculos, dá uma densidade de pixels bem alta [216 PPI] e, pessoalmente, ela é ótima — não consigo ver pixels a menos que me aproxime muito.”
O AnandTech compilou uma tabela com a densidade de pixel. No universo Android, o Nexus 7 só fica atrás do Transformer Pad Infinity e bem à frente de todos os demais.
Alguma baixa? Aparentemente, não. Mas o Engadget quase reprovou o áudio (mono, com o alto-falante localizado na parte inferior traseira):
“Ele passa no teste ‘alto o suficiente para encher um quarto de hotel’, mas a qualidade nesses níveis o deixará tentado a recorrer aos seus fones de ouvido.”
Desempenho e bateria
Acabamento, tela… ah sim: desempenho. Isso também chamou muito a atenção. O Tegra 3 mostra serviço e, segundo todos os relatos, garante um desempenho muito bom ao Nexus 7. Do Verge:
“O desempenho em geral é excelente — ajudado, sem dúvida, pelo Android 4.1 e sua iniciativa ‘Project Butter’ que se dispõe a melhorar drasticamente a resposta aos toques e a suavidade do Android. Os apps também abrem e fecham rapidamente e são velozes em uso. Em particular, jogos 3D otimizados para o Tegra são fantástico e seguram taxas de frame altas, e tarefas mais básicas como a multitarefa acontecem próximas do instantâneo.”
Mantendo a tradição, muitas tabelas comparativas no AnandTech. O único em que ele ficou em primeiro lugar, à frente do Transformer Pad Infinity e dos iPads, foi no SunSpider. Mas isso não é ruim; em todos os demais, o Nexus 7 ficou na ponta, perdendo apenas para esses referidos tablets. Um feito e tanto, especialmente se considerarmos que ele é o mais barato — na sequência, vem o iPad 2, que custa o dobro (US$ 399).
Como de nada adianta bom desempenho sem uma boa autonomia, mesmo com o tempo curto os sites conseguiram testar a autonomia. Joshua Topolski conseguiu 6h de páginas web sendo recarregadas com brilho em 65% — um cenário incomum, tanto que ele próprio ressalta que, em condições mundanas é de se esperar pelo menos umas 9h. O número é ratificado pelo Engadget, que no seu teste padrão (um vídeo em loop com o tablet conectado à Internet via Wi-Fi), conseguiu mantê-lo longe da tomada por 9h49.
Jelly Bean, o melhor Android de todos
E como não tem como falar de tablet sem entrar na parte de software, o Jelly Bean também foi citado. Com louvores. Todos adoraram a nova versão do Android. Do Verge:
“Uma grande parte do que faz o Nexus 7 o tablet que ele é se deve, claro, ao Jelly Bean. O anúncio do dispositivo não foi só significativo pelo seu hardware e pelo preço — de alguma forma, a última versão do Android é a atração principal de fato.
O Google deu passos largos em usabilidade e design com o Android 4.0 (Ice Cream Sandwich) ano passado e, baseado no que eu já vi do 4.1, a empresa não mostra sinais de estar diminuindo o ritmo quando se trata de melhorar e refinar o sistema.”
Há outros dois pontos importantes que Topolski cobre. O primeiro, sobre a câmera: só tem a frontal e ela não é muito útil para massagear o seu ego, ou seja, para tirar fotos de si mesmo. A maioria dos apps de fotografia do Google Play não está disponível para o Nexus 7, então ela foi, definitivamente, feita para vídeo chamadas — e está tudo bem quanto a isso. O seguinte é aquele velho problema da falta de apps otimizados para tablets…:
“Um comentário final sobre software. Embora o novo sistema do Google e as suas iniciativas em apps sejam muito, muito bons, o Android em tablets ainda sofre com uma incrível falta de suporte dos desenvolvedores. Apps populares como Twitter ainda precisam ser atualizados para um layout apropriado, amigável a tablets, enquanto outros, como o Pocket, parecem estar levemente adaptados, mas ainda assim não funcionam 100% corretamente. Alguns apps não estão otimizados para tablets de forma alguma. O SDK do Android 4.1 já está disponível para os desenvolvedores, então esperamos que isso mude em breve.”
Como não é muito a praia do AnanTech, nada de Jelly Bean foi dito por lá. No Engadget, Tim Stevens guardou o assunto para um post à parte, mas destacou alguns pontos positivos, como a transformação do Chrome, não mais em beta, no navegador padrão do sistema, e outros negativos, como os preços sensivelmente mais elevados do Google Play em relação aos praticados pela Amazon.
Concluindo, a sensação que fica é que o Nexus 7 é o melhor tablet com Android já lançado e, mais do que isso, mostra que o direcionamento do Google para competir com o Kindle Fire, com a combinação preço baixo + oferta de conteúdo, tem potencial. A qualidade acima da média do equipamento conta valiosos pontos a favor — pelo menos até a Amazon anunciar o sucessor do Kindle Fire. O Engadget vislumbra um futuro bonito para os tablets baixo custo:
“Este é o melhor tablet Android por menos de US$ 200 e o melhor tablet barato de 7″ do mercado. No momento. A corrida pelo menor preço no espaço dos tablets está, afinal, apenas começando e se o Nexus 7 for um indicativo do que está por vir, teremos um passeio muito agradável.”
Mais empolgação no AnandTech:
“Honestamente, acho que a ASUS e o Google fizeram um excelente trabalho no Nexus 7. A combinação de um SoC quad-core, painel IPS, construção sólida e a última versão do Android, tudo isso por um preço matador, torna difícil encontrar problemas aqui.Claro, seria melhor se ele viesse com uma porta USB convencional, slot microSD (embora nenhum Nexus a tenha desde o Nexus S), Wi-Fi a 5 GHz (o do Nexus 7 opera apenas em 2,4 GHz) ou conectividade via redes móveis, mas nesse caso não estaríamos falando de um tablet de US$ 199. Eu também acho, de verdade, que o formato de 7″ na diagonal é o ideal, e o Nexus 7 está rapidamente subindo no meu conceito.”
E o ápice dela no Verge:
“O Nexus 7 do Google não é apenas um excelente tablet por US$ 200. É um excelente tablet, ponto final. Na realidade, é o primeiro tablet Android que eu posso recomendar com confiança aos consumidores — e não apenas por causa do preço baixo (embora isso certamente ajude). Ele é um produto bem feito, poderoso e útil, com um monte de detalhes legais que o fazem parecer com um dispositivo mais caro.
Acredite ou não, a última vez que fiquei tão surpreso com um produto com essas mesmas qualidades, ele se chamava iPad.”
Enquanto o Nexus 7 não chega ao Brasil (ou a sua viagem para os EUA não acontece), clique nos links ao lado para ler as análises completas. [The Verge, Engadget, AnandTech]