Se você está acompanhando os Jogos Olímpicos, pode ter visto algum atleta com fita colorida no corpo: no joelho, nas costas, até no bumbum. Não é enfeite: é a fita kinésio, que promete aliviar a dor e proteger músculos e articulações. Só tem um detalhe: não há provas concretas de que ela funcione. É tipo a versão 2012 das pulseiras de equilíbrio?
Você deve se lembrar da pulseira Power Balance: ela ficou popular entre esportistas e logo virou modinha. Esses caros braceletes de plástico prometiam dar mais resistência, flexibilidade e equilíbrio ao corpo. Só que não funcionavam: a empresa Power Balance confessou que não há provas científicas para comprovar a eficácia de suas tiras de plástico. Em novembro, a empresa pediu concordata nos EUA.
Mas essas modas sempre voltam. No início do ano, a Folha já comentava as fitas kinésio “estampando as peles de astros do tênis, do basquete, do vôlei, do futebol”. Alguns atletas usam há anos! Agora ela volta a chamar a atenção nas Olimpíadas de Londres.
O kinésio não tem qualquer medicamento: é 98% algodão, mais elastano e cola. Ele é usado para aliviar a dor, reduzir inchaços, controlar a circulação do sangue, entre outros. Ele é aplicado na pele, acima de músculos e articulações – existem cursos para aplicá-lo direito. A fita kinésio é importada: o rolo de 5m custa cerca de R$60, e a Anvisa permite a venda no país.
Mas funciona? Segundo a Reuters:
O uso do kinésio é abundante, mas estudos científicos rigorosos sobre ele ainda são raros. E alguns deles sugerem que a habilidade da fita em aliviar a dor e aumentar a força muscular é limitada…
Num resumo de toda a pesquisa científica feita até hoje, publicado em fevereiro no periódico Sports Medicine, cientistas encontraram “poucas provas concretas para recomendar o uso do kinésio, em vez de outras fitas elásticas, no tratamento ou prevenção de lesões no esporte”.
A fita de kinésio foi criada na década de 70, e ainda hoje as provas de que ela realmente funciona são escassas. O próprio criador da fita, o japonês Dr. Kenzo Kase, admite isso. Mas a resposta da Kinesio UK, empresa que faz treinamentos para aplicar a fita, é ótima: os estudos científicos têm que alcançar o que os clientes deles já sabem!
Bem, os atletas continuam usando essas fitas, que provavelmente são apenas placebo. Por quê? Justamente pelo efeito psicológico do placebo. Como bem lembra Steve Harridge, professor de fisiologia na King’s College, um placebo eficiente “pode fazer toda a diferença entre a vitória e a derrota”. Só espero que não vire moda como as pulseirinhas. [Reuters/O Globo via Science 2.0]
Foto por Colman Lerner Gerardo/Shutterstock