A ideia é simples: em seu trabalho, esconda informação, não compartilhe seus contatos e, sempre que possível, instale sistemas e processos que só você entende. Com isso, uma dependência será criada e a sua empresa sempre precisará de você. Esse tipo de “estabilidade” é um cadeado que impede o progresso da equipe, a menos que você esteja participando do processo.
É uma atitude canalha, mas que provavelmente não vai trazer espanto a ninguém. Todos os que já estão no mercado de trabalho por alguns anos já tiveram a infelicidade de se deparar com uma figurinha assim. Sorte de quem ainda não viu isso acontecendo.
Essa técnica é usada por diferentes profissionais. O técnico de informática da empresa não deixa nada documentado e escolhe sistemas obscuros que só ele entende. O contador faz uns esquemas altamente suspeitos, mas ele faz questão de dizer que está tudo em ordem, desde que ninguém resolva fazer auditorias.
Um de meus clientes inclusive recentemente se queixou, observando que alguns de seus colegas programadores liberam módulos com falhas para causar dependência entre usuários. Com os bugs, os usuários pedem que eles forneçam suporte e inclusive elogiam a rapidez com que o problema é resolvido. Mal imaginam os usuários que a falha foi criada propositalmente, criando uma situação injusta com outros programadores que não participam do esquema.
Este post é uma resposta à pergunta formulada pelo meu cliente. Vale a pena criar essa dependência artificialmente? Pra responder a pergunta, vamos deixar o aspecto moral de lado e nos concentrarmos nos resultados e desdobramentos possíveis.
No curto prazo, funciona. Principalmente nos casos de empresas desorganizadas em que não há boa administração. Como todo “pega-trouxa”, o efeito dessa técnica é limitado. Os profissionais inteligentes vão cedo ou tarde sacar o que está acontecendo.
Se conseguimos enganar os nossos colegas de trabalho com um truque desses, é indicador de que não estamos na melhor empresa possível. Desafio o programador que deixa falhas propositais no código a criar um módulo desses para uma empresa que atrai gente talentosa, como Google, Oracle, Adobe ou Facebook. Em empresas respeitadas que são bem gerenciadas, o programador malandrinho vai rodar em pouco tempo, pois haverá sempre programadores melhores que vão perceber a maracutaia.
Como a criação de mecanismos de dependência ainda praticada por profissionais mais inseguros, certos diretores já estão vacinados e, ao identificar esse tipo de padrão, eliminam assim que possível. Além de prejudicar a empresa, a demissão funciona como uma mensagem para toda a equipe.
A melhor dependência portanto, acaba sendo produzir resultados acima do que é esperado, com boa comunicação para mostrar o que foi feito e estabelecer novas metas.