Quando eu comecei a escrever este artigo, ainda não haviam ocorridos terremotos, tsunamis e consequentemente acidente nuclear em Fukushima. A ideia inicial era falar de Belo Monte, apagões e como o crescimento brasileiro poderá ter como gargalo o potencial brasileiro de gerar energia.
Devido aos últimos acontecimentos a autora sentiu-se na obrigação de discutir a questão energética num panorama mundial. A geração de energia é responsável por aproximadamente 40% das emissões de gases de efeito estufa. Por isso os países começam a discutir a questão energética e como mitigar as suas emissões.
Recentemente, a China adotou o limite de consumo de energia elétrica oriunda do carvão de 4 bilhões de toneladas até 2015, o que permitirá apenas um crescimento de 4,24% por ano, a Europa continua apostando na eficiência energética e seus edifícios governamentais começam a serem reformados para aumentar este ganho.
Enquanto isso no Brasil, comemoramos o “PIBão” de 7,5% praticamente no escuro, depois de uma série de apagões no nordeste e sudeste e as trapalhadas na liberação das licenças de Belo Monte, acho que não temos mais muito o que comemorar. O PIB de 7,5% foi mais reflexo das políticas de incentivo ao consumo do que um crescimento da produção brasileira. Enquanto isso, a construção de Belo Monte é defendida como a solução energética brasileira. Embora o investimento em hidrelétricas como parte da solução para o problema da energia oriunda das termelétricas a carvão ou combustíveis não renováveis seja bastante proveitoso, no caso de Belo Monte, os problemas ambientais e sociais oriundos dessa construção são maiores do que o potencial energético gerado. O potencial instalado terá capacidade máxima de produção de 11.233 megawatts (MW) de energia. A produção média, entretanto, será bem mais baixa, de 4.571 MW. Isto significa energia gerada para 25 milhões de habitantes, com um investimento de 19 bilhões de reais. Enquanto isso, o bagaço e a palha da cana podem gerar 12.200 megawatts (MW), segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), do Estado de São Paulo, que concentra 60% da produção açucareira e de álcool combustível do Brasil, país líder em biocombustíveis.
Lógico que estamos falando de dois extremos do país. Infelizmente a energia é consumida regionalmente devido às perdas do sistema de distribuição. Porém, ainda temos muito potencial energético subaproveitado, como o bagaço de cana no sudeste, o potencial eólico do nordeste e outros. Infelizmente, ainda não estou convencida que o custo social, energético e ambiental compensa a construção de Belo Monte.
Enquanto isso o mundo assiste a mais um acidente nuclear e coloca mais uma vez em discussão sobre a produção energética, especialmente a energia nuclear.
Embora a energia nuclear não emita GEE, ela produz radiação que pode ser extremamente nociva ao meio ambiente. A discussão sobre o uso da energia nuclear é válido e acredito que ela deve ser explorada como fonte de energia. Porém, é no mínimo imprudência montar uma central nuclear numa zona que é afetada por terremotos.
Nós como consumidores podemos optar por aparelhos que sejam mais eficientes energeticamente. No Brasil temos o Selo Procel de eficiência energética e o Ibama junto como Inmetro começa a divulgar tabelas que medem o consumo de diversos aparelhos e até veículos.
Por isso, você consumidor agora pode avaliar o desempenho ambiental dos veículos e começar a pressionar as empresa do setor para produzirem carros mais eficientes. Ou seja, o desafio ambiental de melhor aproveitamento energético já chegou à sua sala e está estacionado na sua garagem.
Andreia Cristina Gondim é bióloga e pós-graduada em Administração de Empresas, e consultora da Green Domus Desenvolvimento Sustentável.