Nossa já tradicional sessão de visitas ao QG de sites e blogs que fazem a internet brasileira, nos levou a uma redação que, na verdade, é dividida em três: o Blue Bus, site que completa 17 anos de estrada esse mês, tem uma redação que é totalmente virtual, com editores que nunca se encontraram fora do universo digital.
Pois é… os 3 membros que compõe a bancada fixa do Blue Bus moram cada um em um estado: Julio Hungria (fundador do Blue Bus) mora no Rio de Janeiro, Jacqueline LaFloufa (editora executiva do site) em São José dos Campos e Debora Schach (também editora) mora em Porto Alegre. Debora nunca viu Jacqueline ou Julio ao vivo, Jacqueline só viu Julio ao vivo uma vez e, por incrível que pareça, eu sou a única que conheci Julio, Debora e Jacqueline na vida real. 🙂
Com a equipe espalhada pelo Brasil, aproveitei uma viagem e resolvi visitar o QG do fundador do Blue Bus – e também uma das pessoas mais reservadas da internet brasileira – no Rio de Janeiro.
17 ANOS ATRÁS…
O Blue Bus nasceu como um BBS em 29 de novembro de 1995, um sisteminha que é meio que um precursor da internet de hoje. Foi só em 1997 que o BB veio pra web como conhecemos e ele tinha toda uma pegada de Blog (a palavra nem tinha sido inventada na época), misturado com o Google e o Twitter (que também não existiam): indexava notícias sobre o mundo da publicidade em notas rápidas, dispostas em ordem cronológica e com comentários de leitores.
Os posts do Blue Bus sempre foram rápidos, breves, diretos e avessos às firulagens tão típicas das redações tradicionais. Ele entrega a notícia que importa e também o que importa da notícia.
No começo, a limitação talvez tenha sido menos editorial e mais relacionada com a conexão a rede, tudo era lento e não permitia muito mais que notas rápidas. Hoje ela permite, mas em momentos de overload de informação, é um alento ter alguém que separa pra gente o que precisamos ler, mantendo a mesma qualidade ~curatorial~ de sempre. o/
Quado eu pergunto qual o momento mais marcante do Blue Bus ao longo desses 17 anos, entre lágrimas, Julio diz: “TUDO!”. E os próximos 17 anos? “Continuaremos no mesmo lugar! O BB não é um modismo, mudamos a cara mas o resto é igual, é o mesmo ônibus de sempre levando as pessoas à lugares”, diz o motorista.
No mais, segue a filosofia do ex-técnico de futebol Nenem Prancha: bola pra frente e chuta onde o goleiro nao está. 🙂
SANGUE, 8 LINHAS E FALTA DE ACENTO
Julio Hungria se formou advogado mas já fez de tudo nessa vida: foi crítico de música, trabalhou ao lado do cartunista Jaguar no Pasquim e da Condessa Pereira Carneiro no Jornal do Brasil, foi editor da capa do jornal Última Hora (de Samuel Wainer) e também criador de jingles pra rádio.
Da experiência de editor de capa de jornal veio a prática de ter que criar títulos chamativos em menos de 50 caracteres e também ter a sacada da notícia que venderia que, na época, se resumia a “Sangue, Mulher Nua e Sorriso de Criança“. Polêmica e emoção continuam vendendo muito bem hoje, menos as “mulheres nuas”, artigo banalizado pela própria internet.
O trabalho com jingles deu origem à norma do site de condensar a informação em textos concisos e não maiores que essas 8 linhas, a quantidade limite de cada jingle.
E por que não tem acento no Blue Bus? “Houve um tempo que os acentos eram um estorvo pra usuários de diferentes plataformas na internet. Ainda era uma guerra a diferenciação de PC e MAC, e o teclado de cada um escreviam coisa que os outros não liam normalmente”. Pra facilitar, Julio decidiu banir os acentos e sinais gráficos que causassem confusão e/ou sujassem o texto. O ~til~ foi o primeiro a cair e qualquer acento que não fizesse diferença na compreensão do texto foi abolido em seguida. Com o tempo, a falta de acentos se tornou uma marca registrada do site.
Print do Blue Bus de abril de 1997, quase um Twitter…
UMA REDAÇÃO 100% VIRTUAL
“O mundo é cada vez mais mobile, a conexão, a notícia, tudo vai com a pessoa, não precisa ficar concentrado em um lugar”, diz Julio. As duas editoras curtem o esquema: “ano passado resolvi passar um mês viajando pelo sul do país e continuei trabalhando normalmente”, conta Jacqueline.
E como começa o dia no Blue Bus? Na véspera.
As notícias de manhã são feitas na noite anterior, e as da tarde são feitas de manhã e ao longo do dia. Toda noite rola uma reunião de pauta no Skype. Durante minha visita, tive a honra de participar de uma delas. Na conversa, os 3 decidem o que é notícia, as pautas pro dia seguinte (média de 20 notas diárias) e já dividem as tarefas. Cada um trabalha suas 8 horas por dia mas quase em sistema de rodízio:
- Julio acorda às 5 da matina, dá uma pedala na bike posicionada na varanda com uma vista incrível pra Lagoa Rodrigo de Freitas e então se joga na internet, de onde não sai até às 5 da tarde. Julio foca nas notícias nacionais e costumar ler (apenas online) a Folha, o Globo, Jornal do Brasil, Observatório da Imprensa, Meio & Mensagem, Propagando & MKT, a fanpage da Globo no Facebook e os Trending Topics do Twitter.
- Débora “pega no serviço” umas 8 da manhã e vai sem parar até meio dia e depois da reunião de pauta a noite, começa a preparar as notas do dia seguinte, fazendo um segundo turno a partir das 19h00 e até a hora que o sono bate.
- Jacqueline divide seu dia entre manhã e noite. De tarde só coisas eventuais, tipo frilas ocasionais e projetos paralelos. De manhã, a hora de começar vai pelo fuso dos EUA, já que ela cobre as notícias internancionais. Agora estamos 3 horas à frente de NYC, então as pautas boas só começam as 10 da manhã. De noite, fico até umas 2 da manhã escrevendo e checando o que ainda tem de bom. (Veja aqui um print dos feeds dela).
Jacqueline (no alto), Debora, Julio e eu na reunião de pauta no Skype!
CADA QUAL NO SEU CANTO
Os editores dizem que a pergunta que mais fazem é: “Qual o endereço da redação, qual o telefone do site”? Bom, cada membro tem o seu endereço e o seu telefone. Abaixo você conhece um pouco mais do espaço fixo de cada um: