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Por que o sistema de previdência tradicional não funciona para os profissionais do século XXI?


O artigo abaixo foi escrito por Mauro Amaral no portal Carreira Solo, focado em dicas para freelancers.

O conceito de previdência vigente hoje começou a ser implantado no período pós 2ª Guerra Mundial. Ele foi ancorado em um tripé composto pelo governo, empresas e trabalhador. Nesse tripé cada um tinha sua responsabilidade.

Para o governo coube criar um sistema de previdência universal que visa fornecer ao aposentado uma renda suficiente apenas para manter o nível de subsistência do individuo.

Para a empresa coube a responsabilidade de criar um sistema que complementasse a previdência governamental, com objetivo de preservar o nível de vida que o trabalhador tinha na empresa.

Já ao trabalhador cabia fazer uma poupança individual caso quizesse possuir uma renda igual aquela de quando trabalhava.

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Porém esse sistema tem prerrogativas não escritas que refletem as características da sociedade que o criou. Uma delas é a existência de megaempregadores, empresas com 1.000, 10.000 ou até 100.000 funcionários. Empresas extremamente verticalizadas, onde um fabricante de automóveis era dono de toda a cadeia de produção do seu produto, desde a mina de ferro até a concessionária.

Um dos exemplos era a empresa Ford. Seu fundador, Henry Ford foi um pioneiro do“capitalismo do bem-estar social” concebido para melhorar a situação dos seus trabalhadores e especialmente para reduzir a grande rotação de empregados de muitos departamentos, que contratavam 300 homens por ano para preencher 100 vagas. Eficiência significava contratar e manter os melhores trabalhadores.

Em 5 de janeiro de 1914, Ford anunciou seu programa “cinco dólares por dia”. O programa revolucionário e sistemático incluía uma redução da duração do dia de trabalho de 9 para 8 horas, 5 dias de trabalho por semana, e um aumento no salário-mínimo diário de US$ 2,34 para US$ 5 para trabalhadores qualificados. Outra inovação para o período foi a repartição com seus empregados de uma parte do controle acionário.

E hoje?

Hoje as empresas tem como único objetivo diminuir os custos e maximizar o retorno ao acionista. Diminuir custo não significa fazer produtos baratos, em essência quer dizer fazer mais com menos. É obvio ver esse processo refletido em empresas como a Nike e Wal Mart, mas o mesmo processo acontece com queridinhas do mercado como a Apple. Ou vocês acham que é mais barato manter funcionários para desenvolver seus apps ou deixar que programadores autônomos o façam, cobrando taxas e percentuais nas vendas?

Outro ponto importantíssimo era a estrutura da família. Na década de 1950 cada família tinha em média 6,2 filhos no Brasil, ou seja, cada casa contava com 8 pessoas, dois adultos e seis crianças. Nesse desenho de sociedade boa parte da renda era destinada ao vestuário, alimentação e moradia da família.

Dessa forma, a parcela da renda que o trabalhador utilizava para ele mesmo era relativamente pequena em relação ao seu ganho total. Quando os filhos saíam de casa e o trabalhador se aposentava ele não precisaria de um valor de aposentadoria igual aquele que recebia enquanto trabalhava pois sua maior despesa, os filhos, havia desaparecido.

Ele precisava receber apenas a renda referente as suas necessidades e as do seu cônjuge. Atualmente cada família tem em média 2 filhos e embora reclamemos das despesas com colégio e escolinha de futebol, acreditem, antigamente era bem pior.

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Hoje uma parcela maior da renda é destinada as necessidade do chefe da família e a tendência é que essas despesas aumentem na velhice. Um idoso do Sec XXI, precisará de um plano de saúde de ponta que será ainda mais caro do que é hoje pois esse plano refletirá os avanços da medicina em diagnóstico, tratamento e equipamentos.

Além disso, precisará morar em um condomínio especial, que esteja adaptado as suas necessidades hospitalares e sociais, garantindo assim sua qualidade de vida.

E ainda tem outra: hoje vivemos mais

Por último, deixei a mudança mais esquecida mas que é a principal conquista da humanidade no século XX, e posso dizer que não foi a internet. Trata-se do avanço avassalador da medicina. Só para se ter uma idéia em 1950 a expectativa de vida no Brasil era de 47 anos. Isso mesmo! As pessoas viviam em média 47 anos. Então, em média ninguém chegava na idade de aposentadoria. As pessoas que atingiam a idade de aposentadoria eram casos raros e não viviam muitos anos depois disso, pois levavam uma vida de muito esforço físico desgastando o seu corpo.

Hoje a expectativa média de vida no Brasil é de 73 anos a mudança é brutal. Em média as pessoas vão passar 18 anos aposentadas, sabendo-se que muitas vão ultrapassar essa marca, pois a medicina esta se acelerando cada vez mais e os ganhos que isso trás a expectativa de vida vão se refletir nas pessoas que estão vivas hoje.

Mas nós não somos os idosos de hoje, aqueles que vão viver até 73 anos. Nós somos os idosos do amanhã, nós seremos os idosos de 2040, 2050 e 2060. Então se em 60 anos, de 1950 a 2010, a expectativa de vida evoluiu tanto, quanto será que ela terá evoluido quando chegar a nossa vez de receber a aposentadoria?

A verdade é que ninguém sabe, mas com certeza a direção é do aumento, podemos esperar que uma pessoa com 60 anos em 2050, ainda tenha 30 ou mais anos de vida.

Nessa situação podemos deduzir que:

1. A parcela da aposentadoria paga pelo governo será cada vez mais reduzida, pois os recursos serão divididos por uma quantidade cada vez maior de idosos.
2. A parcela paga pela empresa tende a desaparecer por que as empresas tendem a ter o número mínimo de funcionários próprios, sendo todo o resto terceirizado.

Isso significa que aqueles que estão no mercado de trabalho hoje devem se preparar para um cenário em que as promessas feitas pelo governo e pelas empresas não serão cumpridas.

A forma como vamos tratar esse assunto tão delicado será crucial para o bem estar futuro de nossa geração, mas uma coisa é certa o sistema previdenciário tradicional não será capaz de atender as necessidade dos profissionais do Sec XXI.

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