Aaron Swartz, um dos fundadores do Reddit e do DemandProgress, cometeu suicídio nesta sexta-feira em Nova York. Ele tinha 26 anos. Swartz estava lutando contra acusações criminais relacionadas às suas tentativas de tornar públicos os arquivos do JSTOR, e poderia pegar até 50 anos de prisão e US$ 4 milhões em multas.
Além de se tornar um dos primeiros coproprietários do Reddit até a empresa ser comprada pela gigante Condé Nast, Swartz também foi co-autor das especificações RSS 1.0 quando tinha 14 anos, além de fundar o Demand Progress, entidade essencial na última batalha contra o SOPA.
O JSTOR, que oferece artigos acadêmicos mediante assinatura, processou Swartz em 2011 por usar um script na rede da universidade MIT que baixou 5 milhões de artigos do catálogo. O JSTOR, no entanto, logo desistiu do processo (e recentemente abriu seu catálogo ao público).
No entanto, a Procuradoria dos EUA – que representa o governo – levou o caso de volta aos tribunais pouco tempo depois, e o próprio MIT parece ter apoiado a ação. Apesar das negociações, a Procuradoria queria colocá-lo na prisão, mesmo que ele se declarasse culpado. A família de Swartz diz em declaração que o suicídio “é o produto de um sistema de justiça penal repleto de intimidação e exageros da promotoria”; e diz que “ao contrário do JSTOR, o MIT se recusou a defender Aaron”.
A morte de Swartz teve um efeito enorme na internet. Membros da comunidade acadêmica postaram centenas de links para acesso livre a artigos protegidos por direitos autorais, com a hashtag #pdftribute. O Anonymous hackeou dois sites do MIT, transformando-os em memoriais e pedindo que o suicídio seja a gota d’água para reformar as leis de propriedade intelectual. E o MIT abriu uma investigação interna para determinar seu possível papel no suicídio de Aaron.
A morte trágica de Aaron Swartz não afeta apenas os que o conheciam pessoalmente, mas também todos nós familiarizados com os seus esforços de ativismo e seu trabalho em geral. Mark Bao explora a sua própria reação à partida prematura de Swartz:
Eu não conhecia Aaron Swartz pessoalmente. Nunca nos falamos, nem pessoalmente nem por e-mail.
No entanto, o seu suicídio deixou um grande buraco no mundo para mim. E senti que minha própria tristeza era confusa. Eu não conheço o cara. Por que eu, no fundo, sinto este vazio enorme no mundo? O motivo foi: eu senti uma rara conexão com Aaron por causa de seus pensamentos e ações. Uma conexão invisível que só existia no nível intelectual, não social, através de seus textos, tecnologia, política, e de sua vontade de mostrar que era humano.
Seus textos e pensamentos se conectavam comigo, especialmente sua série Raw Nerve sobre como se tornar um ser humano melhor. Seus textos me mostraram que outras pessoas estavam pensando sobre as mesmas coisas que eu, em termos dos “bastidores” em ser humano, o nosso interior. Eu senti como se estivesse na mesma sintonia com outro ser humano que estava pensando e dedicando tempo a essas atividades internas.
Seu código e contribuições para software foram inspiradoras, em Python, RSS, e em outros lugares, progredindo de forma incansável e pensando no jogo macro de software e tecnologia. Mesmo sintonia.
Seu incidente do JSTOR? Não exatamente a mesma sintonia. Mas lutar por políticas progressistas no governo, e liberar informações em ciência e direito, usando para isso a ferramenta mais próxima da democracia – a Internet? Absolutamente.
Seus textos sobre depressão mostraram que, como todos nós, ele era humano e, como todos nós, ele sofreu. Mas poucos de nós mostramos vulnerabilidade e humanidade. Muitos de nós nos escondemos atrás de fachadas de “como vai você?” “Ótimo!”, com fotos sorridentes e status alegres no Facebook, preferindo não falar sobre o que realmente se passa dentro de nossas cabeças.
Este era um cara com o qual eu sentia uma conexão profunda, porque estávamos na mesma sintonia – ao mostrar abertamente que somos humanos, a devoção a melhorar a si mesmo, o uso da tecnologia como ferramenta de mudança, e mudando o ambiente macro da política. Não há muita gente com quem eu sinta uma conexão multifacetada intelectual, mas Aaron era um deles.
E, apesar de eu não conhecê-lo em tudo, sua morte me deixou sentindo um vazio no mundo. Porque o mundo perdeu uma pessoa brilhante, mas também porque o mundo perdeu alguém em cujas ideias eu acreditava muito, cuja capacidade de colocar os pensamentos em ação foi admirável, cuja vontade de mostrar a vulnerabilidade e humanidade era algo que, para mim, é algo de que o mundo precisa mais, e desesperadamente.
Mas coisas boas muitas vezes vêm de coisas ruins. E o bom, neste caso, é a constatação de que devemos procurar nos conectarmos com mais pessoas, em uma sintonia mais profunda. Devemos todos trabalhar incansavelmente para colocar nossos sentimentos em palavras e em ação, e não ter medo de mostrar que, sim, somos realmente humanos, e sim, nós temos coisas nas quais realmente acreditamos mas ainda não colcoamos em prática, e nós temos momentos quando nos sentimos no topo do mundo, e também momentos em que nos sentimos absolutamente sem qualquer esperança.
E todos nós deveríamos trabalhar para aproveitar o máximo de nosso tempo no mundo, para garantir que não desperdiçar o nosso recurso mais limitado – em vez disso, vamos maximizá-lo, para nos conectar e afetar mais vidas neste mundo.
Podemos não ser todos socialmente conectados, mas o trabalho que fazemos nos conecta como uma comunidade. E o nosso trabalho coletivo faz a história.
Obrigado, Aaron.
Mark Bao, 20, é fundador de sua startup, atualmente viaja pelo mundo e trabalha em um software que ajuda as pessoas a construir hábitos. Ele escreve sobre vida, ciência comportamental, filosofia, design e outros temas relacionados com tecnologia, cérebro e ser humano em seu blog.
Fotos por Jacob Appelbaum e Peretz Partensky/Flickr