Além de pavilhões cheios de TVs de alta definição, câmeras e cases de celular, a CES tem há alguns anos um pedaço grande destinado aos audiófilos. Em três andares do Venetian, dos mais luxuosos hotéis de Las Vegas, há um quarto para cada fabricante de pré-amplificadores, tocadores de LP, cabos high-end e caixas acústicas. Passei algumas horas visitando cada sala, sentando nos sofás, filando amendoins e ouvindo os detalhes de cada nota, normalmente jazz, música clássica (Tchaikovsky é um dos favoritos) ou peças de violão. Tudo que se ouve neste ambiente de luxo é muito acima da média do que estamos acostumados a escutar no dia-a-dia, mas este conjunto aí da foto, especificamente, me pareceu algo alienígena. É impossível explicar a qualidade, a pureza de som do modelo S8 de caixas acústicas da Angel Sound (nome apropriado). E tamanha fidelidade tem um preço. Tente adivinhar.
Agora coloque um zero a mais.
160 mil dólares “o par”, como reforçou a simpática Marian Kurter, representante da empresa, que conversou comigo como se existisse para mim a opção de comprar mais de um. É claro que as caixas de som não davam conta de reproduzir algo tão incrível sozinhas, e elas eram ajudadas por um pré-amplificador de US$60 mil e um tocador de CD de US$6.500 (da marca “Esoteric”). A gigantesca fonte+“filtro de linha” também custava algumas dezenas de milhares de dólares, 40 mil nas minhas anotações. Mas o número era tão absurdo que eu já não sei se é correto, se estava delirando. O conjunto custava mais que um pequeno apartamento.
Depois de ficar hipnotizado por bons 2 minutos ouvindo a música pelas caixas dos anjos, pedi mais informações sobre a tecnologia envolvida naquela bruxaria, e Marian me direcionou ao site. Há tantos termos técnicos que prefiro deixar a explicação em inglês:
Extraneous vibration is one of the most challenging problems in loudspeaker design. Therefore, the unique combination of a curve-shaped cabinet and the fine-tuning crossover working together provides the ideal solution and gives a resonance-free environment for the driver units up to and beyond the 4 kHz crossover frequency.
In fact, the unusually thick cabinet walls have freed the driver units from unwanted cabinet diffraction and resonances caused by traditional rectangular enclosure, not to mention that exclusive-luxurious enamel painting on every Angel Sound loudspeaker, which enhances the intensity of every Angel Sound loudspeaker.
Os engenheiros da Angel Sound, que montam tudo lá mesmo em Las Vegas (com peças vindas da Alemanha, China e Dinamarca), acreditam que um design assim curvilíneo e madeira bem grossa livra os alto-falantes de ressonâncias e difrações indesejadas, o que quer que isso signifique. É um mundo muito louco esse dos materiais, técnicas e explicações dos audiófilos, que pagam por caixas gigantes e cabos estéreo que custam mais de mil dólares. Não sei o quanto que a qualidade de som é parte de um efeito placebo (você vê uma caixa de som de 160 mil dólares e ela parece ter de soar como algo caro), o quanto é puro luxo e o quanto é engenharia de altíssimo nível. Minha orelha de abano não é suficientemente apurada para apreciar todas as nuances, só sei que sentar ali naquele sofá foi uma experiência tão incrível quanto inatingível. Na próxima Mega Sena da Virada, quem sabe?
PS: Voltamos de Las Vegas mas ainda temos vários posts na manga sobre coisas legais que vimos na CES. Continuaremos com a série nos próximos dias.