Em um futuro muito distante, uma espaçonave alienígena vai se deparar com uma das sondas Voyager. E quando isso acontecer, eles vão encontrar duas coisas: um disco de ouro – uma versão metálica de um disco de vinil contendo sons, músicas e imagens da Terra – e um toca-discos.
Quando isso acontecer, vamos submeter os aliens à mesma tortura que as empresas de gadgets nos fizeram sofrer por décadas: um manual de instruções. Se os aliens não tiverem paciência, isso é o bastante para causar uma guerra interplanetária.
A Voyager 1 é uma sonda lançada pela NASA em 1977 para estudar os limites do Sistema Solar. Ela tem uma gêmea, a Voyager 2, lançada no mesmo ano. Apesar de estarem chegando próximo ao espaço interestelar, elas ainda estão em funcionamento e transmitem dados de volta à Terra.
Quando a NASA começou a trabalhar nas Voyagers, Carl Sagan e outros cientistas que trabalhavam no projeto queriam incluir uma descrição dos humanos e do nosso planeta, feita para qualquer um que se deparasse com as naves, fosse alienígena ou humano. Sagan diz:
A nave espacial será encontrada e o disco será tocado somente se houver civilizações avançadas que naveguem pelo cosmos no espaço interestelar. Mas o lançamento desta ‘garrafa’ no ‘oceano’ cósmico diz algo bastante esperançoso sobre a vida neste planeta.
Sagan também disse publicamente que “para entender o registro, é melhor vê-lo como uma cápsula do tempo ou uma declaração simbólica de algo além de uma tentativa séria em se comunicar com a vida extraterrestre”. Mas, sabendo seus pontos de vista quanto ao assunto, acho que ele provavelmente tinha alguma esperança que a mensagem seria encontrada por alguém.
Para isso, uma equipe começou a curadoria de uma lista de sons, músicas e imagens que seriam a representação perfeita da Terra. Ou, pelo menos, um bom testemunho de como nós vemos nosso planeta.
Eles registraram todos estes dados em forma analógica em um lado do disco. Essa era a única tecnologia disponível na época, quando o disco foi lançado ao espaço em 1977. Não havia MP3, nem JPEG, nem GIFs animados. No outro lado do disco, foram gravadas as instruções de uso – é a imagem acima (veja aqui em tamanho maior). E sinceramente, eu não consegui entender – espero que os engenheiros dos alienígenas consigam.
Se eles forem bem sucedidos em decifrar este jargão – o que é possível, dado que eles teriam naves interestelares – eles começariam a ouvir os sons neste vídeo. Alguns deles são bem assustadores! Não sei se eu gostaria de visitar a Terra depois de ouvi-los. Se bem que, quando alguém achar o disco, provavelmente tudo o que faz estes sons já terá sumido da face do planeta. Jimmy Carter, então presidente dos EUA, incluía a seguinte mensagem:
Este é um presente de um mundo pequeno e distante, uma amostra de nossos sons, nossa ciência, nossas imagens, nossa música, nossos pensamentos e nossos sentimentos. Estamos tentando sobreviver ao nosso tempo, para que possamos viver no tempo de vocês.
Esta mensagem é um pouco sombria para uma saudação.
Os aliens também começariam a ouvir músicas de Beethoven, Mozart, Bach e Stravinsky, junto com Blind Willie Johnson e Chuck Berry. Estou muito feliz em saber que a música de Chuck Berry, um dos pioneiros do rock and roll, dará vida a alguma sala estéril de um Imperial Star Destroyer.
Eles também vão encontrar imagens no segundo vídeo. 116 imagens codificadas em forma analógica, compostas por 512 linhas verticais – um sinal de vídeo que funciona bem em qualquer aparelho de TV antigo. As imagens foram selecionadas para dar uma boa ideia do nosso lugar no universo, mostrando desde os planetas do nosso sistema solar até nossa estrutura corporal interna (sempre bom mostrar suas entranhas a aliens famintos) e diferentes cenas da Terra.
Apesar de mostrar nosso corpo, as imagens não incluíam fotos de pessoas nuas, para nos mostrar como uma espécie. Aparentemente, a NASA disse a Sagan e seus colegas que queria evitar a controvérsia das placas Pioneer, colocadas a bordo das sondas espaciais Pioneer 10 (1972) e 11 (1973). As placas foram atacadas por grupos conservadores nos Estados Unidos: idealizadas por Sagan e seus colegas, elas tinham imagens nuas de um homem e uma mulher – junto a outros símbolos – para servir como mensagem a alienígenas ou futuros humanos.
Em todo caso, imagino que os aliens vão descobrir os humanos antes de encontrem este cartão dourado de saudação. Afinal, sinais de rádio viajam à velocidade da luz, muito mais rápido que a Voyager, e viajam em todas as direções – e nós os enviamos há décadas. Mesmo que os sinais de rádio degradem depois de 50 anos-luz, uma nave a poucos anos-luz de distância os obteria antes – e mais facilmente – do que encontraria a Voyager. Na imensidão do espaço, esta nave é o exemplo perfeito da proverbial agulha num palheiro.