Hoje, dia 20 de fevereiro, será o dia D para todos que assinaram a petição pelo impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros. Os organizadores do abaixo-assinado contra a permanência de Renan Calheiros (PMDB-AL) na Presidência do Senado vão entregar as mais de 1,6 milhão de assinaturas a uma comissão de senadores que se dispuser a recebê-los.
A petição, uma entre três que estão correndo a internet, já tem, assim, data para se tornar “real”, e também para seus devidos desdobramentos – várias mobilizações presenciais estão sendo marcadas para o próximo sábado, em diversas cidades do país. E não sejamos ingênuos, amigos: muito mais que um efeito prático (talvez não, neste momento, a efetiva cassação do senador), o resultado da petição é a mais legítima representação do nosso descontentamento, multiplicado por 1,6 milhão!
Não fizemos pouco, não, e o destino da nossa voz não será a lata de lixo, como estão dizendo por aí. Nessa confusão toda, fica uma grande lição, reconhecida apenas por quem é capaz de contemplar um copo meio cheio em vez de um meio vazio.
Junto à entrega “formal” haverá um tuitaço e os organizadores também pedem que mensagens eletrônicas sejam enviadas aos senadores e também para o ministro do STF Ricardo Lewandowski, pedindo que este acelere a análise de uma denúncia contra Renan que pode vir a resultar na cassação do mandato do senador.
No combo da petição vem uma boa oportunidade de amadurecimento do nosso ativismo, assim como de reconhecimento da internet como mola propulsora – e ferramenta! – da nossa cidadania. Se 1,6 milhão podem se unir para assinar um documento, não há 55 que derrubem! Mesmo que o resultado seja “apenas” demonstrar nossa desaprovação…
É preciso lidar com o movimento com a seriedade que ele merece. Ou corremos o risco de aceitar o que o próprio Renan afirmou, através de comunicado divulgado à imprensa, sobre a movimentação: “é coisa de estudante”, como se isso fosse o suficiente para desqualificá-la. Disse ele que “o número de assinaturas não é tão importante quanto a mensagem”.
É aqui que o nobre parlamentar se enganou: a quantidade, neste caso, é importante, SIM, tanto quanto a mensagem. Nada menos que 1,6 milhão de pessoas empenhou sua assinatura em nome de uma causa; toda essa gente está cansada de assistir, calada, enquanto maracutaias e conluios são costurados em plena capital federal.
Petições virtuais não são diferentes de abaixo-assinados “reais”; ambas são representações da vontade e da opinião de uma parcela da população que está de saco cheio e quer agir, mas não pode despencar até Brasília para mostrar sua indignação. Assinar uma petição é avalizar o conteúdo (ou seja, a mensagem) que ela veicula.
Neste caso, o nobre Renan não soube avaliar: as 1,6 milhão de assinaturas urram, gritam que ele saia, em nome de algum resto de decência que porventura possa haver na política brasileira. Não são 1,6 milhão de avatares, são 1,6 milhão de cidadãos. Estudantes, aposentados, servidores, executivos, todo mundo junto e misturado para mostrar que estamos de olho. Quer coisa mais assustadora que essa?
Dia desses, uma grande colunista de política afirmou que achava “interessante” a petição, mas que o povo nada podia fazer no caso Renan: a legislação não está do lado dos requerentes. Mas quem disse que isso deve ser impedimento para que façamos a nossa parte, pressionando nossos “representantes” e exercitando a cidadania plena, que nos preserva o direito de protestar? No caso, aqui, o grito é tão ou mais importante que o resultado, é dele que virá a mudança e é ele que assusta àqueles que fingem não ouvi-lo. Renan tem medo, sim, da petição e de todo e qualquer movimento que mostre que estamos acordados!
Também podemos e devemos ir às ruas e gritar o mais alto que pudermos. A internet é apenas um dos muitos instrumentos de cidadania, ainda que seja o mais eficaz. Mas não há distinção entre a vida offline e a vida online; sendo assim, somos o mesmo cidadão, na internet e na vida dita real. É desta distinção que os mal intencionados lançam mão na hora de desqualificar as ações nascidas em meio digital. Se não pode ver as 1,6 milhão de pessoas, tasca-lhes a pecha de “virtual” e se paralisa o mérito.
75 milhões de Voto para o BBB e nem 2 milhões de assinutaras para o Renan Renunciar. É o Brasil véi de guerra #selascar
— Seu Lunga (@SenhorLunga) February 20, 2013
Não é bem assim, não. Já estamos mostrando que acordamos para o ativismo, e não foi à toa o nascimento de movimentos como o Meu Rio, que usa plataformas digitais para fazer a diferença na sociedade. O “esquenta” e o agrupamento podem estar sendo feitos na internet, mas a cidadania é plena e real. E pungente.
Outro colunista chamou a petição de “sem eficácia”. Como e quando juntar 1,6 milhão de pessoas em um mesmo documento pode ser em vão? Ainda que não derrubemos Renan ou que não troquemos o nome do fuleiro mascote da Copa, estamos exercitando nosso sagrado direito de protestar e a fazer parte da discussão.
Ou o nobre colega preferia que ficássemos calados enquanto os senadores votam secreta e sorrateiramente, exercitando seus conchavos, e coloquem na presidência de uma das mais importantes casas legislativas do país um cidadão com passado manchado – currículo este que deveria estar sendo combatido por ele, e não representado?
Que venham muitas outras petições. Vamos assiná-las todas e continuar protestando e
mostrando que acreditamos.