Esta semana Simon Cowell, mais conhecido como o carrasco e mentor dos maiores reality shows de futuras celebridades – do tipo American Idol, The X Factor e Britain’s Got Talent – lançou no Youtube o programa The You Generation, um reality que vai caçar em 26 países – e o Brasil tá nessa! – “a próxima estrela youtuber” internacional.
Essa equação de Simon Cowell + Youtube é sintoma de uma coisa só: o Youtube é a nova TV. No Brasil ainda vai demorar muito pro Youtube substituir a TV de fato, mas já é certo que ele é a nova vedete da atenção de um dos maiores públicos consumidores do mundo: os jovens. E é certo também que esse novo meio tem sua própria linguagem, ícones, celebridades e influenciadores.
A ~mídia tradicional pré-internet~ faz questão de pintar esse ambiente como algo de nicho, coisa de nerds adolescentes que passam o dia nesse lugar esquisito onde têm o poder de determinar o que importa. Chegam até a dizer que a audiência da TV vem caindo por motivos climáticos e não pela existência dessa “nova mídia”. Aham, Globo, Senta lá!
Mas isso aqui não é nicho não!
Ousamos dizer que talvez hoje seja possível ver dois mainstreams rolando ao mesmo tempo. Sim, porque não dá pra dizer que a cultura que nasce na internet é algo de nicho. Temos o velho mainstream ligado à TV e celebridades da Caras mas temos um novo mainstream, muito mais poderoso, que vem da rede e que se pauta na liberdade de expressão, criatividade e colaboração.
Na gringa, alguns youtubers são tão famosos quanto celebridades da TV – caso do Philip DeFranco, por exemplo -, já têm documentário sobre eles e até festival pra reunir seus fãs. O impressionante vídeo abaixo, que mostra uma ida do youtuber Toby Turner ao parque, reflete bem o que estamos dizendo:
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Os novos rockstars brasileiros…
O poder de influência sobre a faixa etária que não lembra mais do mundo antes do Youtube (vc recorda como era? havia mamutes na rua?) vai muito além do que a vã audiência da novela das 9 imagina.
É comum nos youPIX Festivais da vida a gente ver celebridades da internet e do youtube sendo mais assediadas do que as que vem da ~mídia tradicional~ e dos 10 canais primeiros canais a somar mais de um 1 milhão de inscritos, todos pertencem à figurinhas que nasceram e cresceram na internet. O Youtube é o palco, e a plateia é todo mundo que está online.
Numa analogia exagerada pero no mucho, a cultura da internet (que é cada vez mais apenas A cultura do jovem de hoje) representa nos tempos atuais o que o rock n’ roll representou nos anos 50: uma revolução comportamental que redefiniu uma porção de coisas, do modo de se vestir à maneira como aos hábitos de consumo.
Os ícones dessa nova cultura são os novos rockstars. Eles são reconhecidos na rua, na fila do caixa automático, dão autógrafo, tem dezenas de fãs clubes, seguidores fervorosos que criam contas no Twitter pra homenagear seus peitos e, acima de tudo, eles pautam e, queira você ou não, formam a opinião dessa geração de jovens.
Gente que começou tudo subvertendo um pouco a ideia de Glauber do uma-câmera-na-mão-uma-ideia-na-cabeça e começou a produzir conteúdo com uma-câmera-em-cima-do-monitor-várias-ideias-ao-mesmo-tempo-na-ponta-da-língua. A lógica punk do Faça Você Mesmo persiste. E dá margem hoje para que uma nova linguagem e novas formas de ganhar dinheiro, se multipliquem pelo Youtube – que desde 2007 oferece aos canais formas de monetizar seus respectivos talentos por lá.
Para se ter uma ideia do impacto que essas pessoas têm, e como elas se relacionam com seu já gigante público além do Youtube, entrevistamos aqui Kéfera Buchmann, Felipe Neto e PC Siqueira, três youtubers que representam lindamente esse novo mainstream, ao lado de outros nomes como Cauê Moura, Jovem Nerd, galera do Galo Frito, da Porta das Fundos, Jacaré Banguela e mais. Sobre a fama, o glamour, os dólares toda essa visibilidade, eles falam:
Qual a coisa mais bizarra que já rolou com vc graças à sua popularidade no Youtube?
- Kéfera Buchmann – Me convidaram pra protagonizar um filme pornô e ainda mandaram a foto do pênis do ator que “contracenaria” comigo. Além de já ter sido mordida e estapeada pessoalmente pela pessoa que estava me vendo pela primeira vez não acreditar que eu existia de verdade. Mas, perto do filme pornô… Ser mordida é algo mais normal, né?
- PC Siqueira – Derramar bebida de uma janela num evento com pelo menos 50 pessoas embaixo com a boca aberta tentando beber.
- Felipe Neto – Já aconteceram algumas. Uma vez fui jantar com meu pai numa praça de alimentação de shopping enquanto esperávamos pelo horário do cinema. Só que a praça estava entupida de jovens e eu senti que estava numa situação delicadíssima. Todos estavam olhando, à espreita, pensando no que fazer. Eu fiquei sem fazer movimentos bruscos e, na hora em que ia sair de fininho, o primeiro tomou coragem e veio tirar foto, seguido por pelo menos mais 150 pessoas ao mesmo tempo que se encorajaram ao ver o primeiro ir. Foi constrangedor, meu pai ficou muito incomodado e eu tive que tirar foto com cada um antes de chegar atrasado no filme. Ah! E teve essa daqui também (que aconteceu enquanto eu gravava o programa do Multishow no Anime Friends em SP):
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Já te ofereceram algum presente estranho depois que teus vídeos começaram a fazer sucesso?
- PC Siqueira – Já ganhei um caixão de madeira, em miniatura. Nunca entendi.
- Felipe Neto – Não. Nos primeiros 8 meses eu saía muito mais, ia a muito mais festas e lidei com todo tipo de bizarrice, a maioria não publicável por aqui, mas é um mundo selvagem esse lá fora. Depois que entrei em um relacionamento sério eu abri mão de tudo e foquei somente no trabalho e na minha vida em casa. Não saio de casa pra quase nada e me isolei completamente dessa loucura toda.
- Kéfera Buchmann – Falei que estava de dieta no Twitter, e me deram um pé de alface e um tomate de presente na saída de uma peça teatral que eu apresentava na época.
A migração para mídias tradicionais é inevitável? Todo youtuber quer ir pra TV?
- PC Siqueira – Não é inevitável. Mas é uma forma de conhecer novas formas de trabalhar, e de divulgar as coisas que fazemos para outro tipo de público. Não tem obrigatoriedade de sair da internet pra ir pra TV, isso é bobagem.
- Kéfera Buchmann – Acaba sendo na maioria dos casos… Acho bom porque sempre agrega.
- Felipe Neto – Eu fui para a TV apenas por dois motivos: financeiro e pelo desafio. Nunca foi minha paixão e sempre soube que, assim que tivesse uma vida estável, sairia. Foi o que aconteceu. Na virada deste ano não aceitei renovar nem com a Globo nem com o Multishow. Não acho que ir para a TV seja uma necessidade, principalmente se levarmos em conta que diversos Youtubers já tem muito mais audiência que praticamente todos os canais da televisão fechada brasileira.
O Não Faz Sentido, por exemplo, é mais assistido que alguns programas da própria Rede Globo. Se você considerar que 1 ponto de audiência representa 60 mil domicílios e há diversos programas na Globo com média de 10 pontos, isso significa 600 mil domicílios. Os dois últimos vídeos do Não Faz Sentido, somados, renderam mais de 10 milhões de visualizações.
Toda essa premissa de que televisão é maior que o Youtube está morrendo. O Brasil está passando por uma revolução do entretenimento e muita coisa mudará nos próximos 5 anos. Estamos trabalhando muito pra isso.
Você acredita que o Youtube é ainda a melhor plataforma para criação de conteúdo próprio?
- PC Siqueira – Acredito que o Youtube ainda é a melhor plataforma porque lá tem a maioria dos usuários ativos como ferramenta social. O Youtube é, antes de tudo, um site de relacionamentos. As pessoas gostam de ter suas contas por lá, e deixar comentários e essas coisas. Claro que o Youtube vai se transformar em algo diferente ou até ser substituido por outro, com o tempo. Mas atualmente, não vejo nenhuma outra forma mais rica de publicar conteúdo do que ele.
- Kéfera Buchmann – Sim, ainda é a melhor plataforma. Só acho que o Youtube brasileiro precisa cuidar mais com seus problemas técnicos, investir para que tenha menos erros, evitando que nós, youtubers, nos prejudiquemos. Gosto de outras plataformas, mas o Youtube acaba sendo a principal e de popular acesso.
- Felipe Neto – O Youtube é, sem dúvida alguma, a melhor plataforma da atualidade, mas é claro que poderiam melhorar muitas coisas, principalmente em métricas de destaque para vídeos de sucesso e formatação de layout de algumas páginas. O Vimeo não pode ser comparado, pois é nichado e busca atingir outro tipo de público. Para se ter ideia, em um canal como a Parafernalha, que gera em torno de 16 milhões de visualizações por mês, 60 a 70% disso vem da própria ferramenta do Youtube e a forma como a exploramos.
Tendo tudo isso dito, PC Siqueira e Kéfera acrescentaram apenas que: