Dizem os neurologistas que a maior parte do que pensamos é mera repetição do dia anterior, da semana anterior, do mês anterior, do ano anterior… Se for isso mesmo, nada mais fazemos do que nos repetir, indefinidamente. Com o intuito de alterar, nem que seja um pouco, essa tese fatídica, vamos a algumas provocações.
Sobre a riqueza
Negócios, empreendimentos e empresas existem para gerar riquezas. Nem todos conseguem. Alguns sucumbem antes do tempo e desistem da empreitada. Outros persistem, mas seguem cambaleantes. Há quem conquiste riquezas à custa da saúde física, mental e espiritual. Longe, portanto, da plenitude. E há quem conte histórias e deixe pegadas. Esses constroem a verdadeira riqueza.
O objetivo de todos é o mesmo, mas tanto o resultado como o processo são diferentes em cada caso. Podemos elencar uma série de razões e culpar as condições externas, quando o que se consegue é pífio, mas existe algo irrefutável: o mundo externo é e sempre será uma projeção do mundo interno. Para conquistar riqueza nos negócios, antes devemos averiguar o significado que tem essa palavra em nosso interior.
Sobre o significado
Palavras têm poder!
Não as palavras em si, ou seja, enquanto junção fonética de vogais e consoantes, mas o que elas significam a partir das imagens geradas em nossa mente. Essas imagens compõem a percepção que temos de um conjunto de letras, algo, portanto, que delineia nossa estrutura de pensamento ou modelo mental. A partir daí decidimos e agimos. E a riqueza gerada é o resultado da estrutura mental que inclui significado, percepção e ação.
Por isso, se desejamos mudar a qualidade da riqueza que produzimos, devemos antes mudar o significado que essa palavra tem para nós e para aqueles que colaboram conosco nessa busca. Tal exercício poderá fazer uma grande diferença na construção de futuras riquezas a partir de uma visão sistêmica.
Sobre visão sistêmica
O significado nunca está nas partes, sempre no todo. Fatiar uma empresa como uma pizza – feita de finanças, mar-keting, produção, logística, recursos humanos, etc. – é fazer com que as partes prevaleçam sobre o todo. O máximo que se consegue com isso é aumentar ainda mais a fragmentação por meio de departamentos, cargos e funções. É como tratar o corpo humano como se seus sistemas digestivo, respiratório ou circulatório fossem separados, estanques. O mesmo raciocínio vale para fragmentar o ser humano entre o corporal, o mental e o espiritual.
Uma empresa também é constituída de corpo, mente e alma, com um único propósito e o mesmo conjunto de valores.
Sobre os valores
Há valores decorrentes do mundo exterior e que servem, a priori, a todas as empresas: competitividade, agilidade, objetividade, lucratividade, retorno aos acionistas, etc. Tais valores organizacionais não constroem uma identidade de empresa, nem possuem força de mudança ou alavancam resultados.
Os valores que verdadeiramente fazem a diferença positiva são aqueles que vêm de dentro das pessoas e representam suas melhores virtudes, tais como a verdade, o respeito, a dignidade, a bondade. Há quem não consiga ver esses valores reverberando no mundo árido das organizações. Mas não pense organização, pense comunidade.
Sobre comunidade
A organização tradicional tem cerca de 100 anos e a comunidade no sentido histórico existe desde que o ser humano se tornou gregário. São as comunidades, então, que atravessam os séculos e muito por conta dos valores virtuosos que as governam, muito distintos dos organizacionais, pasteurizados, comuns a todos os empreendimentos.
A palavra “comunidade” significa “mudança compartilhada por todos”. Inclui, portanto, investidores, fornecedores, clientes e colaboradores. Um líder de organização atua de modo diferente de um líder de comunidade.
Sobre liderança
O principal desafio do líder é trazer a realidade para a empresa. Isso porque agimos e reagimos a partir das nossas imagens da realidade, não da realidade. Nossos desacertos decorrem mais das deformações das imagens que fazemos da realidade do que de todo o resto. Por isso, o líder é, antes de tudo, um gestor de percepções.
Sobre percepções
Existem miragens e existem imagens. São coisas distintas, não sinônimos. Olhe ao seu redor e verifique as miragens materializadas nos controles e seus mecanismos, nas formas de poder e de comando. A origem dessas distorções está nas crenças, aquelas “verdades” absolutas que influenciam decisões e ações. Em geral, miragens decorrem dos preconceitos, dos pressupostos, das desconfianças.
Imagens, por sua vez, são exercícios de criatividade. A imaginação é um ato de fé, a capacidade de apostar no que ainda não existe.
Sobre a imaginação
Imaginação tem a ver com imagens e imagens não são aquilo que vemos, mas sim o que percebemos. Existe aí uma sutil diferença e esta diferença está na fé. Pois as coisas estão no mundo, mas nem todos enxergam.
Modificar nossa imagem de mundo é muito útil. Considerar o mundo como um lugar próspero e trabalhar para fortalecer essa imagem de modo que ela se torne uma realidade é um dos grandes ganhos do exercício de imaginação e criatividade.
O que nos impede de imaginar é o medo. Quanto mais vivemos sob uma ameaça constante, seja física, emocional ou psicológica, mais a imaginação se paralisa.
Sobre o medo
É o medo que nos faz reduzir a riqueza a algo meramente relacionado à dimensão econômica. “Afinal, precisamos sobreviver”, ele justificaria. É o medo que nos impede de buscar um significado maior àquilo que fazemos. “Afinal, não temos tempo a perder com questões filosóficas”, ele diria com objetividade. É o medo que gera a fragmentação da empresa. “Afinal, é ameaçador alguém com a visão do todo”, ele desconfiaria. É o medo que prefere o pragmatismo dos valores organizacionais à força moral e espiritual dos valores virtuosos. “Afinal, isso aqui é negócio, não religião”, ele diria, contrariado. É o medo que prefere a ditadura das organizações à democracia das comunidades. “Afinal, aqui não é a Casa da Mãe Joana”, ele diria, certo de estar certo. É o medo que prefere um chefe que dita as regras a um líder que ajusta percepções. “Afinal, são as regras que asseguram o controle, não um conjunto de percepções duvidosas”, ele diria, com argumentação lógica. É o medo que produz as miragens que deturpam a realidade. “Afinal, esse é o meu papel”, ele diria, com o seu sorriso maroto.
Sobre o amor
Somente o amor é capaz de vencer o medo. Para isso, devemos transformar nossas empresas e negócios em projetos em que o amor esteja no comando. Implica trocar o eu pelo nós e considerar a coletividade; a parte pelo todo, e pensar em uma empresa como um organismo vivo; as miragens pelas imagens, e colocar em cheque os velhos preconceitos; a crença pela fé, e deixar que a vida faça a sua parte; a sobrevivência pela prosperidade, pois é uma evolução natural; a escassez pela abundância, pois essa é a realidade; a mera riqueza pela riqueza plena, pois para isso existem os negócios e empresas.
Parece complicado? Pois, acredite, é mais simples do que se deixar levar pelas miragens. E é o único caminho que realmente abre perspectivas. Embora não seja fácil, em frente!