por Mônica Pupo
O pioneirismo tem suas vantagens, mas também representa muitos desafios. Que o diga o engenheiro mecânico Sergio Oberlander, fundador da Robtec, primeira empresa a inserir as tecnologias de prototipagem rápida não só no Brasil, mas em toda a América Latina. Quando fundou a companhia, em 1994, ele precisou lidar com a desconfiança inicial do mercado. “Tivemos de mostrar para as indústrias da região que esta tecnologia ia melhorar seus processos e que era um investimento, e não uma despesa”, afirma Sergio, que atualmente atende clientes como Mercedes-Benz, Fiat, Volkswagen e PSA Peugeot Citröen.
A vontade de empreender surgiu no início da década de 1990, quando Sergio cursava mestrado em robótica em Haifa, no Israel Institute of Technology. “Foi aí que tive os primeiros contatos com a tecnologia de 3D Printing, época em que este formato só estava começando no mundo inteiro.” Disposto a trazer a novidade para a América Latina, o então estudante decidiu se associar a dois colegas e, juntos, montaram o primeiro escritório em Porto Alegre. Um ano depois, a sede da empresa foi transferida para Diadema (SP), onde permanece até hoje.
No início, além de ser uma novidade, os produtos possuíam um custo muito elevado, o que dificultava ainda mais a vida do empreendedor. “Naquela época, as máquinas chegavam a custar US$ 300 mil”, conta Sergio. Para lidar com esse problema, a solução foi oferecer serviços terceirizados de prototipagem até que os compradores se convencessem a adquirir as impressoras 3D, o que levou cerca de cinco anos. Com a popularização da tecnologia, no entanto, atualmente o preço dos equipamentos gira em torno de R$ 5 mil.
De acordo com o empresário, para estar sempre à frente em um mercado tão dinâmico quanto o de prototipagem, o segredo está na inovação constante. “Buscamos reunir importantes representantes do segmento em busca das novidades de última geração neste que é um mercado poderoso e que pode traduzir, num futuro não muito distante, a terceira revolução industrial”, reflete Sergio. Entre os parceiros da Robtec estão importantes companhias internacionais, como a alemã GOM, a belga Materialise e a americana 3D Systems – esta última é hoje considerada a maior player do segmento, aumentando ainda mais sua oferta de produtos após a recente compra da Z Corporation.
Com tais investimentos, hoje a Robtec oferece aos seus clientes mais de 15 tipos de impressoras 3D, entre pessoais e profissionais, além de fazer o serviço de prototipagem rápida para aqueles que não possuem o equipamento. “Trabalhamos ainda com máquinas de medição e também com equipamento de realidade virtual”, completa Sergio. Entre os modelos mais vendidos estão a BFB-3000, da inglesa Bits From Bytes, uma das primeiras máquinas que possibilitam até mesmo o uso doméstico devido ao seu valor mais acessível – a partir de R$ 5.990. “Isso tem feito com que a tecnologia 3D vá além das grandes empresas, pois qualquer pessoa pode começar a criar seus próprios produtos.”
No ano passado, ainda na linha dos equipamentos pessoais, a empresa também lançou no Brasil a impressora 3D Touch, popularmente chamada de “plug and use”, que possui funcionamento similar à interação que temos com iPhones, tablets e smartphones, facilitando o contato do usuário com a máquina. A máquina também já é uma das mais vendidas pela empresa.
Outra novidade no catálogo de produtos da Robtec, as impressoras 3D coloridas possibilitam a produção de protótipos coloridos com velocidade superior em relação aos modelos anteriores. “Investimos US$ 250 mil para trazer essas máquinas ao Brasil”, informa o empreendedor. O lançamento oficial ocorreu no ano passado, durante um seminário de tecnologia que a empresa realiza sempre no mês de agosto na capital paulista. Em sua nona edição, o objetivo do evento é reunir importantes representantes do setor para discutir tendências e apresentar cases de negócios. Em 2011, por exemplo, Peter Fassbender, da Fiat, falou sobre o design automotivo e, em 2012, o executivo da 3D Systems esteve presente para introduzir aos profissionais do ramo todas as novidades de impressão 3D no mundo. “É um encontro importante para qualquer um que trabalha com essa indústria”, observa.
A variedade de produtos e serviços oferecidos pela Robtec permite que sua carteira de clientes inclua desde grandes companhias da indústria automotiva até pequenos designers. “Oferecer essas opções para o usuário comum tem ajudado a popularizar a tecnologia 3D e, como consequência, nossos planos para os próximos anos incluem nos estruturar cada vez mais para que estejamos preparados para um crescimento explosivo das vendas”, aponta o empresário.
Sergio acredita que assim como as multifuncionais foram privilégio das grandes companhias durante muitos anos, e agora qualquer pessoa já pode ter uma casa, esse será o futuro das impressoras 3D. Com isso, surge um novo desafio para o executivo: oferecer suporte técnico impecável. “A operação e manutenção desses equipamentos são mais complexas, então a confiança do cliente permanece somente se prestarmos um bom serviço.”
Além da sede instalada no parque industrial de Diadema, na região metropolitana de São Paulo, a Robtec possui ainda escritórios no México, Argentina e Uruguai. Recentemente, a empresa foi literalmente mais longe ao abrir uma unidade na China. “Mas lá não há vendas, o foco é a fabricação de moldes, o que nos permite ter custos bem mais competitivos”, destaca Sergio. Ao todo, a companhia emprega 110 funcionários e tem registrado taxa de crescimento anual de 20%.
Mas os negócios não param por aí. Para 2013, o empreendedor já planejou uma série de investimentos, incluindo a chegada de novas tecnologias ao País. “O foco da empresa neste ano é a substituição das máquinas de medição por contato (CMM) por sistemas ópticos da GOM nas principais indústrias, além da realidade virtual, que prometem ser o futuro da prototipagem.” Em abril, estão programados os lançamentos das modernas impressoras produzidas pela 3D Systems, a Cube e a Cube X, que prometem maior durabilidade, precisão e maior velocidade de impressão. “A longo prazo a meta é consolidar nossa marca no mercado de impressoras pessoais 3D na América Latina, assim como já somos no ramo industrial, sempre trazendo novidades da área para o Brasil com pioneirismo, qualidade e confiabilidade”, diz Sergio.