Ambiente virtual criado pelo Sebrae mostra oportunidades e características dessa nova modalidade de empreendedorismo
Ao perceber que moradores da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, não recebiam as correspondências que deveriam ser entregues pelos Correios na porta de suas casas, três amigos se reuniram e decidiram transformar em empreendimento o que vinha sendo um problema para a comunidade. O ano era 2000 e o tráfico de drogas intimidava os carteiros a subirem o morro.
Dali surgiu o Grupo Carteiro Amigo, empresa de entrega de correspondências da Rocinha que representa uma nova modalidade de empreendedorismo, que alia lucro ao impacto social em um grupo ou comunidade. A iniciativa vem sendo chamada de negócio social. Para mostrar as características e principais diferenças entre esse novo jeito de empreender – intermediário entre o que é feito por organizações não governamentais (ONGs) e pelo modelo convencional de negócio –, o Sebrae acaba de disponibilizar em seu portal um ambiente virtual dedicado ao tema.
Para o Sebrae, mais do que oferecer produtos ou serviços a preços acessíveis às classes C, D e E, esses empreendimentos devem causar impacto positivo na vida de seus clientes ao ampliar perspectivas, gerar renda e acesso às cadeias produtivas. Outro ponto defendido pela instituição é de que os lucros devem ser divididos entre os proprietários. “Dessa forma, esses negócios podem atrair mais investidores e empreendedores”, afirma o analista de Desenvolvimento Territorial do Sebrae, Krishna Aum de Faria.
Água e saneamento básico, agricultura, artesanato, cultura, educação, meio ambiente, tecnologia de informação e comunicação, saúde e serviços financeiros são alguns dos alvos dessa nova modalidade de empreendedorismo destacados no site. A página virtual também enumera as soluções já empregadas pelo Sebrae no atendimento a micro e pequenas empresas, que podem capacitar e orientar empresários ou potenciais empreendedores dispostos a abrir um negócio com base nesse modelo de atuação.
O site também compartilha material de parceiros da instituição, como a Artemisia, que produziu um vídeo lúdico para ilustrar o assunto, com desenhos sendo construídos ao longo da narração.
Oportunidades
A ideia do Grupo Carteiro Amigo tem mudado não somente a realidade da Rocinha, mas de outras comunidades da capital carioca. Com a orientação e capacitação do Sebrae, os proprietários formataram a franquia do negócio e, em apenas três meses, a iniciativa chegou a mais oito comunidades. “Uma das exigências aos franqueados é que os colaboradores sejam moradores locais, porque assim resolvemos a questão das correspondências e também cumprimos o objetivo de gerar renda naquelas localidades”, afirma Carlos Pedro da Silva.
A pernambucana Ana Borba também enxergou em um problema a oportunidade de empreender. Lonas de banners, discos de vinil, garrafas PET, disquetes e outros materiais que iriam para o lixo viram design na Lixiki.
A empresa capacita mulheres de baixa renda para produzirem bolsas, nécessaires, bijuterias, objetos para casa e itens de intervenções urbanas. Mais do que oferecer um salário, a empresária procura fazer com que elas empreendam. “Queremos que essas trabalhadoras desenvolvam e comercializem seus próprios produtos e gerem renda a partir do que ensinamos”, afirma Ana Borba, que está firmando uma parceria com o Sebrae no Rio Grande do Norte para ensinar suas técnicas de reaproveitamento a comunidades daquele estado. Junto à instituição, ela também pretende produzir um material audiovisual para espalhar esse conhecimento pelo país.