Existem duas correntes de pensamento principais quando se pensa em sucesso e fracasso. Uma diz que você deve buscar o sucesso a todo custo, como se os meios justificassem os fins. É a corrente de mudar de estratégia para alcançar o objetivo, da persistência, da obsessão. É o caminho dos desbravadores aguerridos, facão em riste abrindo picadas pela mata inexplorada, do poder do mais forte.
Outra corrente abraça o risco do fracasso em nome do aprendizado. Evangelistas de leal startup dizem que uma startup significa uma organização temporária em busca de um modelo de negócio escalável – e que, para isso, tem como missão sair das condições de extrema incerteza. Nesta corrente, aprender o que não dá certo é tão importante quanto descobrir o que dá certo. É a corrente dos experimentos, das validações de hipóteses. Tem toda uma ciência aplicada. Quando se testa na prática uma hipótese e se descobre que ela não tem validade, considera-se como uma vitória parcial para sair da escuridão do nada, em direção à luz do viável – enquanto a corrente do sucesso a todo custo diria que é uma derrota parcial.
Nem sempre você está absolutamente em apenas uma das correntes, elas são águas que se misturam – pois vivemos em sistemas, como fontes aquáticas que se encontram e misturam suas diferentes águas. Mas muitas vezes ficamos cativos, capturados em uma dessas mentalidades. E dizem que empreender e inovar é uma questão de cultura tanto quanto de técnica, processo, método. O que me lembro desde a faculdade é que “você pode ter uma ideia, mas uma ideologia é uma coisa que tem você”. Isso sinaliza que a determinação tem limite – e aí entra tanto o desapego quanto a sabedoria de não ficar batendo com a cabeça na parede.
Markito Zuckerberg espalhou pelo mundo seus mantras “feito é melhor do que perfeito” e “mexa-se rápido e quebre coisas”. Todo mundo adorou, porque dá uma sensação de empoderamento, de “vai e faz”, ao mesmo tempo em que nos lembra de não ficar paralisado em eterna análise e planejamento (analysis paralysis). Ainda assim, a turma do Zuck só testa e volta atrás (desativando funcionalidades) porque consegue medi-las, compará-las, analisá-las.
Foco é direção. Ou ainda, “foco é dizer não”, explicava Steve Jobs da firma da maçã. Ainda, outro expoente atual dos negócios inovadores movidos a tecnologia, Jack Ma, fundador do Grupo Alibaba, costuma dizer que (de acordo com o que me revelou Alex Tsai) na realidade do grupo, as prioridades e interesses seguem a seguinte ordem de importância: primeiro os clientes, depois os funcionários, depois os stakeholders (acionistas e outros envolvidos). Vale lembrar que, no dia em que abriu capital na Bolsa de Valores de Nova York, esse grupo chinês bateu o recorde de arrecadação no primeiro dia, catapultando o valor de mercado dos seus negócios a um valor comparável ao Facebook. E convenhamos: dançar a música que os clientes tocam não é uma questão de se apegar puramente à execução, ao toque de caixa, ao plano determinado – há toda uma flexibilidade.
A lição toda que para mim faz sentido é: a perfeição não é um objetivo nem um caminho, é um resultado. Mas é um tipo de resultado de longo prazo, geralmente, porque todo projeto segue evoluindo, melhorando, se ajustando enquanto cresce. Portanto, é imperfeito – como ficava implícito no milênio em que se falava de “qualidade total” e se explicava que é um norteador, algo em construção, nunca pronto.
O caminho do empreendedor e do inovador parecem requerer que se evite a parálise da análise mas também a afetação da visão imutável. Criar, construir e crescer coisas não é uma questão de ser dono da verdade. Então, não fiquemos congelados perante a ideologia da “execução perfeita do imperfeito”. E lembre: mesmo que no início o empreendimento dependa totalmente do empreendedor, são coisas separadas e diferentes. Se um dia o negócio acabar ficando perfeito, não se trata da perfeição do empreendedor. Portanto, pare de se torturar (ou deixar alguém torturar você) em nome da perfeição.
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