Trabalhei na internet da MTV por nove anos. Lá, ajudei a construir, muitas vezes mal acompanhado, mas, na maioria delas, em excelente companhia, na segunda metade dessa quase década, um projeto que chamamos de Portal MTV. Lembro que, na época, o presidente da casa e responsável pela viabilização do mesmo era Jose Wilson Fonseca e que, inclusive, o nome do projeto é de sua autoria.
No que consistia a brincadeira?
Reunir expoentes de uma despontante e ao mesmo tempo já madura geração de produtores de conteúdo web e fomentar a indústria tupiniquim de notícias, hits, memes e, o que mais importava, emoções. Ninguém é criança, todo mundo tem contas pra pagar e, óbvio, a MTV previa lucro na empreitada, mas grana sustentável, a médio prazo.
Reunimos ali, durante a trajetória portalense, coisa graúda e variada como Judão, Just Lia, Badalhoca, rraurl, Popline, Não Salvo, MariMoon (que na época ainda era mais web que TV), Brogui, IdeaFixa, YouPix, Bebida Liberada e Interbarney, juntamos ao conteúdo da TV (passamos a postar, peitando a matriz gringa, todos os programas na íntegra on demand, algo inédito no Brasil até então), acrescemos jornalismo esperto, produção/curadoria criativa e lançamos dezenas de apostas bloguísticas.
Eu era o editor-chefe desse oceano de conteúdo. Sonhava acordado, embora fosse um sonho insone, estressante, cheio de tretas pra resolver nas internas da MTV, com uma chuva de agências interessadas em projetos especiais (o que era bom, mas acabava overdosando o cotidiano) e cada vez mais gente procurando seu espaço no nosso parque de diversões online.
Lembro que, assim que saía do trampo, já queria voltar. Foi assim por uns bons três anos. Meus amigos mais estreitos, as paixonites, o amor, a loucura, as drogas eventuais e, principalmente, a cerveja que eu queria beber, que era o que amarrava tudo isso, lá estavam (ali do lado, vai, na Real).
Assumo que, pouco antes de eu mudar de andar e aceitar o desafio de escrever e dirigir o Furo MTV, já não andava mais tão apaixonado pelo cotidiano da coisa, até por um desgaste natural, mas doeu muito largar esse osso.
Hoje, eu olho pro que sobrou do mais ambicioso projeto jovem da web nacional, voltado não apenas ao público novato, mas pra quem curte novidade, aos que abraçam a alvorada desse céu de coisas que aparecem nas nossas telas todos os dias, e fico chateado, como quem olha uma ex ou um amigo antigo, hoje distante, que virou uma caricatura do que lhe pareceu um dia.
Eu mesmo tinha meu blog lá, o Chuva Ácida. Ia fazer quatro anos em 2011. Mas apagaram. Sim, a nova administração deletou as centenas de posts sem sequer ter o pudor de me avisar. Aliás, não apenas o meu blog foi apagado sem que o autor fosse avisado.
Mas oquei.
Já passou, o Portal MTV agora é história pra contar. Costumo dizer que, jogando com ele, ganhei a Champions League e a Libertadores.
Porque é isso: havia um time, nele a gente contava com craques, carregadores de piano e talentos promissores. E, sem modéstia, eu aprendi a ser Guardiola, mas também a ser Mourinho. No final das contas, mesmo sendo corintiano, o que eu gosto mesmo é de ser Felipão, de brincar de Famiglia Vargas.
E isso, mano, só a prática ensina. Aquele mundo de conteúdo e personalidades diferentes e fascinantes foi minha pós-graduação em comunicação, com especialidade em gente.
Tava me perguntando até agora onde quero chegar com esse texto confessional que provavelmente deve me trazer algum tipo de problema e vagabundo desmerecendo seja lá o que for, embora eu esteja cagando.
As pessoas. É isso.
Você, que trabalha com comunicação, seja qual for o ramo ou função, deve lembrar-se disso: só as pessoas importam. É pra elas, através delas e com elas que a gente trabalha.
Esse é meu post de hoje.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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