Por Frederico Rizzo*
Pela primeira vez no Brasil uma empresa de bens de consumo, focada em alimentação natural para cães e gatos, decidiu utilizar o crowdfunding para levantar capital semente ao seu negócio. Num contexto em que a maioria dos investidores-anjos buscam apenas empresas de tecnologia para investir, forçando os empreendedores da dita economia real a recorrerem a amigos e familiares em busca de capital de risco, o investimento coletivo através da internet quer se provar uma alternativa viável para inovações além da web.
Para se ter uma idéia do desafio, mesmo nos EUA, com um mercado grande e maduro, a oferta de capital para startups de bens de consumo é quase inexistente para quem fatura menos que U$10 milhões/ano. Tanto é, que existem plataformas de equity crowdfunding focadas exclusivamente neste setor, ajudando empresas de bebidas e alimentos, moda e vestuário, beleza e higiene, esporte, restaurantes, entre tantas outras a acessarem capital.
A baixa disponibilidade de capital não parece ter correlação com o ganho dos investidores. Um estudo da renomada instituição de pesquisa em empreendedorismo Kauffman Foundation sobre retornos financeiros de investimentos-anjo em empresas de bens de consumo encontrou resultados bastante satisfatórios: os investidores tiveram um retorno de 3,6x o capital investido num período médio de 4,4 anos.
Se é verdade que estes resultados são para empresas norte-americanas, a força do consumo no Brasil não pode ser ignorada. No caso do mercado PET, onde o Brasil representa o segundo maior mercado do mundo, o setor movimenta mais de R$13bi por ano, sendo aproximadamente R$2bi destinados apenas ao mercado premium, conforme apresentação da Pet Delicia – startup com rodada de captação de R$600mil aberta ao público no Broota.
Com o objetivo de converter parte desses consumidores premium para o segmento natural, a Pet Delicia acompanha uma forte tendência de mercado: grandes empresas como a Nestlé viram suas vendas de PET crescerem em 2014 em grande parte devido a um posicionamento mais saudável. Com a marca Purina, por exemplo, a Nestlé cresceu 5,6% ao incluir super-ingredientes como quinua em suas receitas, além de evitar sub-produtos em suas fórmulas. Segundo o analista da Euromonitor Damian Shore, o segmento PET natural cresceu 16% nos EUA desde 2008, enquanto os segmentos econômico, intermediário e premium cresceram apenas 1%, 2% e 3% ao ano, respectivamente.
As startups de bens de consumo que aproveitam bons nichos e tendências de mercado são, em geral, recompensadas com altas taxas de crescimento. Nos EUA, as empresas que captaram através da plataforma de crowdequity Circleup tiveram, em média, um crescimento de 93% do seu faturamento em 12 meses. Por aqui, a Pet Delicia cresceu 50%, mas desde que introduziu seu produto enlatado, há 9 meses, observa crescimento de 10% ao mês!
Por fim, uma possível vantagem das startups de bens de consumo em relação aos aplicativos e plataformas virtuais, muitas vezes sem claros caminhos de monetização, é a maior facilidade na determinação do seu preço, ou valuation. Mesmo com séries históricas recentes, tende a ser mais simples prever um fluxo de caixa para negócios da economia real do que para startups de tecnologia. Os múltiplos de receita ou EBITDA são também uma boa alternativa quando existem empresas comparáveis: para se ter uma noção dos preços norte-americanos, a avaliação média de startups de bens de consumo por lá é de U$4,6MM ou 3,2x a sua receita LTM.
É provável que as startups de tecnologia continuem dominando a preferência dos investidores, pois são em geral muito mais baratas de criar e rápidas em escalar; mesmo que por isso enfrentem uma competição mais forte devido às baixas barreiras de entrada. O que as PMEs de bens de consumo poderão provar, entretanto, é que existem também boas oportunidades de retorno para investidores-anjos da economia real, principalmente num momento em que grandes empresas se abrem para inovação e começam a estruturar áreas de corporate venture que podem alavancar negócios ou, ainda melhor, garantir uma saída estratégica a esses investidores.
Disclosure: além de fundador da plataforma onde se encontra a oferta pública da Pet Delicia, me tornei recentemente um micro-investidor da mesma.
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*Frederico Rizzo – fundador do Broota, empresa pioneira em equity crowdfunding no Brasil. Formado em administração pela FGV-EASP, com MBA finanças e empreendedorismo pela Duke University, Rizzo trabalhou em empresas como Ideiasnet, Natura e Mãe Terra Produtos Naturais e Orgânicos. Antes disso, foi cofundador da ONG Vento em Popa.
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