Caso você seja um detetive que está procurando por um cadáver, existem diversas maneiras de encontrá-lo: você pode vasculhar matagais usando linhas de pessoas para fazer a busca, ou procurar por covas escondidas usando radares que capazes de analisar o solo. Mas na maior parte dos casos, o método mais versátil e confiável tem quatro patas e um nariz molhado. Nenhuma máquina é capaz de identificar o odor da decomposição com segurança, mas cães farejadores treinados para detectar restos humanos podem.
Entretanto, cientistas não sabem dizer exatamente quais químicos compõem o cheiro que esses cães treinados reconhecem. Um corpo humano em decomposição libera 478 compostos químicos diferentes, e pesquisadores tentam descobrir quais são aqueles que realmente importam para os cães farejadores. Saber essa reposta melhoraria o treinamento dos cachorros e isso pode auxiliar na solução de crimes e nas buscas por pessoas desaparecidas.
Qualquer que seja a assinatura química, ela está presente em todo o processo, desde cadáveres frescos, mortos há poucas horas até esqueletos de muitos anos de idade. O cheiro está presente em diversos tipos de tecidos, incluindo sangue, ossos e gordura. Os cães farejadores treinados de forma apropriada podem identificar o cheiro não apenas em cadáveres completos, mas em poças de sangue, ossos e em restos mortais cremados. Eles podem até mesmo identificar o cheiro deixado no solo depois de um corpo ter sido removido do túmulo.
O cheiro único que seres humanos mortos exalam é realmente único: cães farejadores treinados para isso podem diferenciar entre o cheiro de restos mortais humanos e o cheiro de carcaças de animais.
É claro que para reconhecer e identificar o cheiro de restos humanos dentre muitos contextos, estes cães precisam de muito treinamento, incluindo práticas para encontrar restos mortais humanos das mais diversas formas possíveis — de sangue fresco a sangue velho, ossos secos, e de cinzas a corpos inteiros — assim, eles podem reconhecer restos mortais em uma busca real, não importa a forma a qual o corpo será encontrado.
Tá, mas como eles fazem isso?
Que cheiro é esse?
Dois dos químicos mais conhecidos são a cadaverina e a putrescina, compostos produzidos pela quebra de aminoácidos durante a decomposição, mas eles só contam um pedaço da história.
Um estudo de 2004 de Arpad A. Vass do Departamento de Pesquisa Antropológica da Universidade de Tenessee — melhor conhecida por Body Farm — colheu amostras de químicos no solo de túmulos e no ar acima delas. Vass e seus colegas encontraram mais de 400 compostos, mas nenhuma medida de cadaverina e putrescina. Esses dois compostos não parecem fazer parte do cheiro da morte, pelo menos não em todos os estágios do processo de decomposição.
Fabricando o cheio da morte
Por anos, cientistas pensaram que estes químicos eram responsáveis pelo distinto cheiro de restos mortais humanos. Existem até versões sintéticas no mercado, que ainda são utilizadas no treinamento destes cães, mesmo que haja muito debate entre os treinadores acerca do uso desses produtos.
Para aprender a encontrar algo pelo cheiro, os cães precisam praticar com o cheiro real. É por isso, por exemplo, que treinadores de cães farejadores de drogas podem trabalhar com drogas reais para fins de treinamento. Então, para aprender a encontrar gente morta, os cães farejadores precisam praticar — nisso mesmo que você está pensando: gente morta de verdade, ou pedaços de corpos. Entretanto, ter acesso a corpos reais não é muito fácil. É por isso que “pseudo-cheiros”, como cadaverina e putrescina sintéticas, ainda são tão populares; elas são muito mais fáceis de encontrar, mas a ciência parece expor que elas não são boas o suficiente para substituir o cheiro real.
Ela está nos nossos ossos?
Os ossos têm apenas uma parte da resposta. Um estudo de 2008 na Body Farm comparou vapores químicos de ossos de humanos, cães, cervos e porcos e descobriu que cada tipo de osso produz uma proporção diferente de cada classe de químicos. Pesquisadores dizem que esses cheiros provavelmente contribuem para o cheiro completo da decomposição, mas ainda não é claro o suficiente se esses mesmos compostos estão presentes em, por exemplo, sangue e cinzas. Essa pesquisa deu continuidade a um outro estudo de 2006, que pesquisou o solo do acampamento da Donner Party e descobriu que o fosfato pode ser um subproduto mensurável da decomposição de ossos humanos.
Vass e seus colegas fizeram uma série de estudos de corpos em decomposição, de 2004 a 2012, e o resultado formam uma base de dados da análise do odor da decomposição. Enquanto isso, apesar do exato mecanismo ainda não ter sido compreendido pela ciência, é correto dizer que cães propriamente treinados podem encontrar restos mortais com segurança, seja em covas escondidas ou em áreas de desastre.
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