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“Estúdios estão abusando do 3D”, afirma James Cameron


Brainstorm9 participou do debate entre James Cameron e Michael Bay, ontem, na Paramount Studios, em Los Angeles, para discutir as peculiaridades do 3D e seu futuro!

a dFoto: @TF3Movie

Há cerca de dois anos, Michael Bay era parte da resistência ao 3D. Mesmo apaixonado pela grandiosidade, gigantismo e som alto de seus filmes, o diretor de “Transformers”, “Pearl Harbor” e “Armageddon” defendia o filme com unhas e filmes. “Serei o último diretor a usar esse sistema, parece ser truque, e adoro 35mm”, contou a esse repórter.

Além disso, chegou a dizer aos donos de cinemas, durante a ShoWest 2009, para adiarem ao máximo a compra de projetores tridimensionais. “Avatar” mudou sua visão, ou melhor, James Cameron operou o milagre na cabeça de Bay. “Ele parou o set de Avatar por meia hora e me mostrou tudo; o homem é meu ídolo!”, diz Bay.

Resultado: “Transformers: Dark of The Moon” (“O Lado Oculto da Lua”, no Brasil) usou a tecnologia de Cameron para realizar um 3D impressionante e, em alguns momentos, quase imperceptível. Mas nem tudo são flores e o Rei do Mundo avisa:

“Os estúdios estão tomando as decisões erradas e estão abusando do 3D!”.

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Fábio bate um papo com James Cameron

Antes de gerar antipatia por Bay, por conta de sua mudança de idéia, ele tinha razão. O truque (gimmick, em inglês) é um problema sério do 3D e foi algo que afetou a tecnologia cinematográfica quando surgiu pela primeira vez décadas atrás. No começo é divertido ver aquele monte de coisa sendo arremessada ou projetada contra o espectador, depois vira artifício forçado.

E se o público dos anos 50 e 60 se cansou disso, o que esperar do cinéfilo do século 21, orgulhoso por sua sofisticação e muito mais envolvido com a cultura cinematográfica e visual que seus colegas da Era dos drive ins? A história costuma se repetir e ser cauteloso é um caminho aceitável e sensato. A escolha de Michael Bay ao ir com calma e não afetar seus robôs pela então renovada tecnologia faz sentido. Aliás, foi a mesma decisão tomada por J.J. Abrams em relação a “Star Trek”.

James Cameron não queria saber disso e estava doido para filmar 3D há quase uma década, tendo dedicado sete anos à pesquisa de “Avatar”, que resultou no chamado Fusion System. Sem nunca deixar de ser um sonhador e empreendedor, Cameron tinha uma meta mais interessante em mente: encontrar um novo jeito de levar as pessoas de volta ao cinema. E isso era necessário, afinal, o circuito norte-americano possui 39 mil salas, 3.378 delas 3D (dado da revista Variety).

“Eu e outros diretores ajudamos a resolver esse problema, mas, de repente, os estúdios começaram a tomar as decisões erradas e estão abusando do 3D”, diz James Cameron. “Muita gente considera a conversão como algo similar à mixagem de som [é só mandar para uma empresa especializada e vai voltar perfeito] e isso é um erro”.

Essa menção ao som é interessante, pois, na visão dos melhores técnicos de som de Los Angeles, o cinema 3D “finalmente equiparou a imagem ao som, que sempre foi tridimensional”.

E há mais um player relevante nessa equação: Jeffrey Katzenberg, chefão da DreamWorks. “Logo que ele se apaixonou pelo 3D, começou a me ligar feito maluco dizendo que diretores como eu precisavam começar a filmar nesse formato para impulsioná-lo”, lembra Michael Bay.

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Michael Bay no site de Transformers: Dark of The Moon. Foto: Jamie Trueblood

“Minha resposta foi: ‘Então, Jeffrey, não!’ e desligava o telefone. Quando a Paramount sugeriu 3D para Transformers 3, resolvi dar uma chance e liguei para Jim [Cameron] na hora; ele me aconselhou a fazer alguns testes. O duro foi ele me dizer que havia câmeras handheld e não vi nenhuma dessas durante as filmagens; as steadycam 3D quebrariam a coluna dos operadores!”, brinca Bay.

“Hey, eu filmei a maior parte de Avatar com handhelds!”, devolve Cameron. Bay resolveu exagerar ao equipamento na cabeça de um grupo de base jumpers saltando sobre os céus de Chicago. O Fusion System de Cameron é composto por 3 câmeras e cada uma delas pesa 11 quilos. Uma nova opção será lançada em setembro, a Alexa M, que pesará apenas 3 quilos e permitirá mais abrangência dinâmica para as cenas, ou seja, mais variedade de cores.

“Qualquer filme pode ser beneficiado pelo 3D e cada cineasta vai usar de uma forma diferente”, declara Cameron. “Sempre vi a lucidez do shot design de Transformers como algo fantástico e quando Michael me ligou, não pensei duas vezes ao dizer que adoraria ver essa franquia em 3D! E digo, acabei de ver filme e fiquei maravilhado com o resultado! Transformers é agressivo e adoro a profundidade de campo desses filmes”.

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Cameron fala sobre uma das grandes marcas registradas de Michael Bay: trabalhar três planos, ou seja, sempre ter alguma coisa acontecendo na frente, no meio e no fundo. O Fusion System permite ao cineasta calibrar a quantidade de 3D presente numa cena como se fosse um controle de volume, por exemplo.

Mesmo com suas facilidades, o 3D ainda é uma tecnologia cara e trabalhosa, custando cerca de US$ 30 milhões de investimento adicional por filme. “A quantidade de técnicos necessários é gigantesca, demora mais para alinhar as cenas para os efeitos especiais e nunca é perfeito; meu diretor de fotografia pirava a cada tomada!”, lembra Bay.

“Nunca fica perfeito e uma das coisas fundamentais desse filme foi eu ter que entender a velocidade com a qual a equipe de 3D podia mudar de lentes e se mover para adaptar ao meu estilo. Só termos duas câmeras foi algo que me atrasou muito, até por isso filmei 60% de Transformers 3 em filme.”

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Outro ponto sensível é a iluminação, afinal, o 3D é baseado em algorítimos e isso se traduz em variáveis. Com iluminação natural, essas variáveis são incontroláveis e o sistema pira um pouco. “Filmar durante o dia nos céus de Chicago foi meio alucinante para as câmeras”, comenta Bay. “Não tivemos problemas com Avatar, pois estávamos iluminando para fundo verde, logo dava para controlar”, devolve Cameron. “Mas o Fusion não gosta de algumas cores, Jim. Vocês precisam dar um jeito nisso!”, brincou.

Numa coisa James Cameron e Michael Bay não conseguiram concordar: qual é melhor, digital ou película? Sinceramente, são duas coisas diferentes e a comparação soa até forçada. Bay é partidário da película e Cameron foi para o digital exatamente pelo fato de ser o formato ideal para 3D.

Enquanto estúdios procuram maneiras diferentes de explorar o público, cineastas buscam modos de usar a ferramenta, bem, como ferramenta e não como simples truque, mais um capítulo do cinema é escrito. Ver 15 minutos de “Transformers: Dark of The Moon” em 3D foi algo impressionante pela qualidade do resultado final e pelo modo como a tecnologia agregou valor.

Somado a isso, um roteiro mais sério e relacionável fez tudo aquilo fazer sentido. O novo Transformers parece uma real História Alternativa, digna de Harry Turtledove, com direito a recriações de momentos fundamentais da Humanidade e algumas ideias interessantíssimas que podem recuperar a moral de uma franquia desgastada pelos exageros do segundo filme. Finalmente, parecemos estar diante de mais Ficção Científica e menos posicionamento de marca da Hasbro.

Na saída do evento, enquanto todo mundo corria atrás de Cameron e Bay, vi Lorenzo DiBonaventura saindo de fininho. Para quem não conhece, ele é o produtor que deu luz verde para “Matrix”, por exemplo, e trabalha há alguns anos com Bay.

Já conversei com ele algumas vezes e o fato dele ter me reconhecido ajudou bastante na minha pergunta: e então, teremos Transformers 1 e 2 convertidos para 3D? A resposta foi meio evasiva, mas é positiva: “Ainda não falamos sobre isso, mas é natural, faz sentido e acho que Michael vai querer igualar todos os filmes”. Ou seja, em breve, a trilogia Transformers num cinema perto de você, ou na sua TV! :p

E você, gosta do 3D? Acha que há exagero? Qual seu filme 3D favorito? Participe!

cd b feedPost originalmente publicado no Brainstorm #9
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