Woody Allen continua sendo um dos diretores mais importantes do cinema.
Suas obras são basicamente constituídas de diálogos inteligentes e humor irônico, grandes atores em seu elenco e tramas lineares, sem uma grande reviravolta ou clímax, mas são filmes quase sempre bem agradáveis e impossíveis de deixar de assistir.
Os filmes, como os livros e as músicas fazem parte da nossa vida. As nossas escolhas e gostos vão se modificando dependendo da fase que passamos, tanto profissional como pessoal, mas sempre presentes na nossa história.
O diretor fala aqui sobre os livros que fizeram mais impacto para ele como cineasta e escritor cômico.
Confira a lista:
1. The Catcher in the Rye by JD Salinger (1951)
“O Apanhador no Campo de Centeio” sempre teve um significado especial para mim porque eu li quando era jovem mais ou menos- 18. Ele ressoou minhas fantasias sobre Manhattan, no Upper East Side, Nova York em geral. Foi um alívio comparado com todos os outros livros que eu estava lendo no momento. Todos os outros eram como um trabalho, uma obrigação para mim. Middlemarch ou Sentimental Education é trabalho, enquanto que O Apanhador no Campo de Centeio é puro prazer. O autor é uma carga de entretenimento. Salinger cumpriu essa obrigação a partir da primeira sentença em diante.
Quando eu era mais jovem a leitura era algo que você fazia para a escola, algo que você fazia por obrigação, algo que você fazia, se você quisesse impressionar um certo tipo de mulher. Não era algo que eu fazia por diversão. Mas Apanhador no Campo de Centeio foi diferente. Foi divertido, ele estava no meu vernáculo, uma grande ressonância de emoção para mim. Eu tive que reler o livro em algumas ocasiões e sempre me divirto com isso.
2. Really the Blues por Mezz Mezzrow and Bernard Wolfe (1946)
Aprendi ao longo dos anos com encontro de músicos de jazz legítimos, que conhecia Mezzrow e as pessoas que ele escrevia nesse livro (as memórias estavam cheia de histórias apócrifas).
Eu estava aprendendo a ser um clarinetista de jazz, como Mezzrow e aprendendo a tocar o idioma da música que Bernard Wolfe e ele escreviam e teve um grande impacto sobre mim. A história embora seja provavelmente um lixo, foi convincente para mim, porque tratava-se de muitos músicos que eu conhecia e admirava, os meandros das articulações de jazz que eu sabia e as canções lendárias que foram tocadas nas boates lendárias. A minha paixão por jazz estava se formando então eu tive um grande momento de ler esse livro. Mas eu sei que o livro não é muito bom nem muito honesto.
3. The World of SJ Perelman (2000)
SJ Perelman é o ser humano mais engraçado na minha vida, seja em qualquer meio, stand-up, televisão, teatro, prosa, ou filme. No começo seu material inicial era um pouco selvagem, não tão sutil nem tão bom. Mas ele se desenvolveu ao longo dos anos e as coisas foram se tornando inexoravelmente sensacionais. Existem muitas coleções de Perelman que são excelentes. Este que eu escrevi o prefácio, tem números de partes que são espetaculares. Os editores fizeram isso em ordem cronológica, mas na minha opinião os quatro primeiros ensaios são os mais fracos. Depois de bater o quinto, com o New Yorker ele acerta em cheio e o resto deles são geniais, cômicos absolutos.
Para aqueles que cresceram com Perelman é impossível evitar a sua influência. Ele tinha um estilo forte e inventivo.
4. Memórias Póstumas de Brás Cubas por Machado de Assis (1880)
Um dia eu recebi esse livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. Algum brasileiro enviou e escreveu: “Você vai gostar desse”. É um livro fino, por isso eu li. Se fosse um livro grosso, eu teria descartado.
Fiquei chocado ao ver quão encantador e divertido que era o livro. Eu não podia acreditar que ele viveu tanto tempo. Você teria pensado que ele escreveu ontem. É tão moderno e divertido. É um trabalho muito, muito original.Um livro que me tocou tanto quanto O Apanhador no Campo de Centeio. Tratava de um assunto que eu gostava na época e foi abordado com grande perspicácia e originalidade, nada de sentimentalismo.
5.Elia Kazan: A Biography por Richard Schickel (2005)
É o melhor livro de showbusiness que eu li. Brilhantemente escrito e é sobre um diretor brilhante que foi muito significativo para mim quando eu estava crescendo e tornando um cineasta. Schickel Kazan entende de Tennessee Williams, compreende Marlon Brando e A Streetcar Named Desire. Ele escreve com grande histórico de conhecimento, visão e vivacidade. Os livros de showbusiness geralmente não valem à pena ler. São tolos e superficiais. Mas este é um livro fabuloso. O que você achar de Kazan politicamente, não tem nada a ver com o fato de que o cara foi um grande diretor.
via guardian.co.uk