Eike Batista lança uma autobiografia com jeito de autoajuda para inspirar jovens empreendedores
O empresário Eike Batista teve dois filhos e plantou muitas árvores – de dinheiro. Aos 56 anos, faltava ainda escrever um livro. Não mais. Eike Batista, o X da questão – A trajetória do maior empreendedor do Brasil (Sextante, 161 páginas, R$ 29,90) chega às livrarias neste mês. Quando o homem mais rico do Brasil e o oitavo do mundo resolve escrever sua história, a curiosidade é natural. Espera-se que ele nos conte os bastidores de grandes negociações e – por que não? – revele algumas fofocas sobre sua vida.
Logo no início, Eike diz que a obra não entrará em detalhes sobre sua vida pessoal. Isso será tema de outra publicação, que será escrita pelo jornalista Alan Riding, do jornal The New York Times. O livro tampouco contém grandes segredos empresariais. Tem, sim, um jeitão de livro de autoajuda, como o empresário reconheceu em entrevista a ÉPOCA.
Eike não renega o rótulo. Diz que seu objetivo foi inspirar jovens e ajudar empreendedores. “Muita gente já vinha falando para eu escrever o livro. A gente acaba servindo como exemplo”, diz ele.
O X da questão, uma alusão ao “x” presente no nome de todas as suas empresas (“x de multiplicação”, como explica no livro), foi organizado pelo jornalista Roberto D’Ávila, com base em conversas com o empresário. Eike diz que foi ele mesmo quem escreveu o livro – e não o amigo. O empresário começa o livro pela sua infância e revela que, até os 12 anos, tinha asma. A mãe, a alemã Jutta Fuhrken, matriculou o garoto na natação e o fazia mergulhar na piscina (aquecida), fizesse frio ou calor. O menino Eike sofria de ansiedade com as crises de falta de ar. Em menos de um ano, estava curado, graças às braçadas. Dali ele diz que tirou a lição de que “você cresce com as dificuldades”.
Com 18 anos, morando na Europa e recebendo uma mesada “que dava para apenas metade do mês”, Eike começou a vender seguros de porta em porta. Nessa época, ele diz que aprendeu a ouvir as pessoas, a compreender sinais faciais e a vender, claro. Afirma que levou essa experiência para toda a vida. A lição: “Acredite em si mesmo”.
Em outro trecho, Eike lembra que chegou a levar um tiro pelas costas no garimpo em Alta Floresta, Mato Grosso. Ele xingou um homem que lhe devia dinheiro e, ao se virar e sair caminhando, foi atingido. Por sorte, a lesão foi superficial. Eike diz que ali aprendeu a ser gentil com as pessoas para não fazer inimigos. O símbolo máximo do capitalismo brasileiro inspira-se em Che Guevara para ilustrar a situação: “É possível endurecer sem perder a ternura”.
Foi no garimpo que Eike começou a construir sua fortuna. Ele conheceu garimpeiros que vendiam diamantes no Rio de Janeiro e passou a intermediar o negócio, encontrando compradores na Bélgica e em Portugal. Acabou abandonando a facul-dade de engenharia pela metade e rumou para a corrida do ouro em Goiás, com US$ 500 mil emprestados de dois amigos relojoeiros. Enganado por um sócio, perdeu o dinheiro, e sua dívida chegou a US$ 800 mil.
ESTREIA
Com sua lábia de vendedor, conseguiu convencer os joalheiros a injetar mais dinheiro no negócio. “Aquele foi meu primeiro road show”, diz ele. Road show é o ritual que antecede o lançamento de ações no mercado financeiro, no qual a empre-sa procura possíveis compradores e fala sobre suas qualidades. Os amigos toparam, e Eike acabou transformando o prejuízo inicial em US$ 6 milhões. Daí não parou mais. Nos primeiros 20 anos como empresário, acumulou uma fortuna pessoal de US$ 1 bilhão. Hoje, segundo a revista americana Forbes, seu patrimônio é estimado em US$ 30 bilhões. É tanto dinheiro que muitas vezes nem as máquinas aguentam. Ele conta que, em 2008, preencheu um cheque de R$ 700 milhões para pagar Imposto de Renda (sobre a venda de parte de um de seus negócios) e se viu numa situação curiosa. “Não havia no Rio de Janeiro uma caixa registradora capaz de computar tantos zeros. Parece brincadeira, mas tive de ir a São Paulo para que o cheque fosse liberado.
O livro é repleto de outras passagens saborosas e de conselhos que esbarram em clichês. Seu maior mérito é ter sido escrito por alguém que efetivamente fez o que prega. As prateleiras de autoajuda estão cheias de livros que prometem fazer do leitor um milionário – mas escritos por pessoas que não chegaram nem perto do milhão. “Isso é 100% de incentivo para comprar. As pessoas sabem que eu fiz. Sou o empresário mais multifacetado do planeta. Construí 20 negócios multibilionários em áreas diferentes, começando do zero”, afirma Eike. Ele admite ter tido uma grande dose de sorte.
O homem mais rico do Brasil lembra que ela o acompanha desde criança e lhe valeu o primeiro apelido, dado pela mãe: “Bundinha de ouro”. A expressão, correspondente alemã à nossa “virado para a lua”, não foi incluída no livro, mas ainda tira gargalhadas do empresário. Ao investir em mais um empreendimento novo, desta vez como escritor, a sorte de Eike será no-vamente testada.
Matéria de NELITO FERNANDES para Revista Época. Leia a matéria aqui.