Brasília – “Olha a mangaba!” A oferta corta o ar e abre o relato da história das catadoras do fruto que descobriram no associativismo um meio para ampliar a renda e lutar pela preservação da cultura. Esses ingredientes, temperados com o canto característico das mulheres que vendem a fruta em Sergipe, deram sabor especial à reportagem sobre a história das catadoras, contada por Juliana Almeida, da Rádio Liberdade 930 AM, de Aracaju. Com essa reportagem ela venceu a 4ª edição do Prêmio Sebrae de Jornalismo na categoria Radiojornalismo.
Nativa da região litorânea do Nordeste e do cerrado brasileiro, a mangaba é um fruto verde e leitoso, nutritivo, rico em ferro e vitamina C. O nome da fruta, de origem indígena, significa “coisa boa de comer”. É encontrada do Norte até o Sudeste do país e sustentou gerações de famílias, principalmente em Sergipe. A mangaba é, por decreto, símbolo do estado.
Segundo a radialista, a cata da mangaba é feita tradicionalmente por mulheres para ajudar no sustento da família. Elas vendiam o fruto in natura, de forma individual, e uniram forças para ampliar a renda ao fundar a Associação das Catadoras de Mangaba e Indiaroba (Ascamai). “Na associação elas produzem biscoitos, doces, musses, licores, trufas, balas e outros produtos artesanais utilizando como principal matéria-prima a mangaba”, relata Juliana.
Na reportagem, o depoimento da presidente da Ascamai, Alicia Santana, exemplifica a importância da iniciativa. “Antes, o quilo da polpa da mangaba era vendido no máximo por R$ 5,00. Hoje, com um quilo do fruto, são produzidos 200 bombons que rendem R$ 200,00”. Para Juliana, as catadoras também fizeram do movimento um front de luta pela preservação das mangabeiras que estão sendo reduzidas na região por causa da “expansão imobiliária, da monocultura e do veneno derramado pelos tanques de criação de camarões”. Elas lutam pela criação de uma reserva extrativista que possibilite a preservação da mangabeira e da tradicional cata do fruto.
A matéria relata as vitórias alcançadas pela Ascamai, como o projeto Catadoras de Mangaba, gerando renda e tecendo vidas em Sergipe, patrocinado pela Petrobras e desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Sergipe e Conselho Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional. O projeto, que visa fortalecer a sustentabilidade das comunidades extrativistas, “atende diretamente a 600 catadoras de mangaba e, indiretamente, a mais de 1,3 mil famílias que trabalham em terras devolutas ou de terceiros”, conforme o relato.
Hoje, segundo a radialista, as catadoras de mangaba lutam para ampliar a comercialização de seus produtos e já têm até site na internet onde podem ser feitas encomendas. Por meio do projeto financiado pela Petrobras participaram de um vídeo-documentário sobre a vida delas e gravaram um CD com as cantigas que suas avós e mães cantavam enquanto catavam o fruto da mangabeira.
A reportagem ilustra esse trecho com a história de Josefina dos Santos, que conta a emoção de entrar num estúdio de gravação, do nervosismo que experimentou na primeira vez que sentou numa sala de cinema, quando foi assistir ao vídeo-documentário, e do orgulho que sentiu ao ver o trabalho aplaudido. “Eu não tenho vergonha de ser o que sou, catadora de mangaba, porque minha mãe criou a gente catando mangaba e, hoje, a maioria das coisas que eu dou para minhas filhas vem do dinheiro da mangaba”, resume.
A reportagem termina com trechos do canto das catadoras: “Vamos catar mangaba, vamos encapotar, o galho da mangabeira onde eu vou me balançar…”
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