Entenda quais são os desafios da uma rotina criativa e, como superá-los
Parece que temos uma fixação cultural estranha, mas muito humana pelas rotinas diárias e os rituais. E embora muito disso possa ser mero voyeurismo cultural, há algo a ser dito sobre o valor de uma rotina diária bem projetada.
Em, “Manage your day-to-day: build your routine, find your focus & sharpen your creative mind” editado pela editora-chefe do Behance, Jocelyn Glei, temos a contribuição dos 20 pensadores mais famosos da atualidade sobre o segredo da criatividade.
Refletindo a frase de Thomas Edison muito citada, “a genialidade é 1% de inspiração e 99% de transpiração”, o 99% é nomeado a importância crucial da execução desse 1%.
No prefácio ao livro, o fundador da Behance, Scott Belsky, autor do indispensável, “Making Ideas Happen” aponta para o workflow reacionário – a nossa tendência para responder às solicitações e outros estímulos ao invés de criar um trabalho significativo – como o maior problema de hoje:
É hora de parar de colocar a culpa em todo que nos rodeia e começar a assumir a responsabilidade. Embora nenhum trabalho seja perfeito, os maiores desafios são os pessoais. Nossas práticas individuais finalmente determinam o que fazemos e como fazemos.
É a nossa rotina (ou falta dela), nossa capacidade de trabalhar de forma proativa, em vez de reativa, e nossa capacidade de otimizar sistematicamente os nossos hábitos de trabalho ao longo do tempo que determinam a nossa capacidade de fazer as ideias acontecerem.
[…]
Só ao assumir o comando do seu dia-a-dia, você pode realmente impactar o que realmente importa para você. Chamo-lhes a construir uma melhor rotina ao encontrar o seu foco, elevando sua atividade acima da cacofonia e aguçando seu talento criativo, analisando o que realmente importa quando se trata de fazer ideias acontecerem.
Uma das ideias mais fortes do livro vem de Gretchen Rubin, autora de “The Happiness Project: Or, Why I Spent a Year Trying to Sing in the Morning, Clean My Closets, Fight Right, Read Aristotle, and Generally Have More Fun”, intitulado um dos 7 livros essenciais sobre a arte e a ciência da felicidade, aponta a frequência como a chave para a realização criativa:
Nós tendemos a superestimar o que podemos fazer em um curto período, e subestimar o que podemos fazer por um longo período, desde que trabalhemos lentamente de forma consistente.
Anthony Tollope, escritor do século XIX, que conseguiu ser um escritor político e, ao mesmo tempo revolucionar o sistema postal britânico observou: “Uma pequena tarefa diária, se é realmente diária, vai bater os trabalhos de uma espasmódica tarefa hercúlea”.
A frequência ajuda a definir o que Arthur Koestler denominou como “bisociation” – a habilidade crucial para vincular o aparentemente não vinculável, que é a característica da mente criativa.
Você é muito mais provável de detectar relações surpreendentes e ver as conexões entre as ideias frescas, se a sua mente estiver sempre cantarolando com as questões relacionadas com o seu trabalho.
Quando estamos imersos em um projeto, tudo que experimentamos parece se relacionar com ele de uma maneira absolutamente hilariante. O mundo inteiro se torna mais interessante.
Por outro lado, trabalhar esporadicamente faz com que seja difícil manter o foco. É fácil ficar bloqueado, confuso ou distraído, ou esquecer o que você estava prestes a realizar.
[…]
A criatividade surge de uma constante rotatividade de ideias, e uma das maneiras mais fáceis para estimular isso é manter a mente ocupada com o seu projeto. Quando você trabalha regularmente, a inspiração lhe atinge regularmente.
Ecoando Alexander Graham Bell, que memoravelmente escreveu que “é o homem que, cuidadosamente avança passo a passo… que é obrigado a ter sucesso no mais alto grau” Virginia Woolf exalta os benefícios criativos de se manter um diário:
Passo a passo, você caminha à frente. É por isso que práticas como escrever diariamente ou manter um blog podem ser tão úteis. Você se vê fazendo o trabalho e mostra a si mesmo que pode realiza-lo.
O progresso é reconfortante e inspirador e o pânico é desesperador quando você vê que não conseguiu realizar nada novo ao longo de um dia. Uma das ironias dolorosas da vida no trabalho é a ansiedade de procrastinação, que muitas vezes faz com que as pessoas fiquem para baixo.
Riffing, na sabedoria de seu livro mais recente, “Happier at Home: Kiss More, Jump More, Abandon a Project, Read Samuel Johnson, am My Other Experiments in the Practice of Everyday Life”, afirma:
Eu tenho uma longa lista de segredos da vida adulta, as lições que eu aprendi quando cresci, como: “a tarefa que nunca começamos é a mais cansativa”, “os dias são longos mas os anos são um resumo” e “sempre deixe muito espaço na bagagem”. Um dos meus segredos mais úteis é: “o que eu faço todos os dias é mais importante do que o que eu faço de vez em quando”.
Com um sentimento de reminiscência de palavras atemporais de William James sobre o hábito, ela conclui:
Dia após dia, nós construímos nossas vidas, e dia a dia, podemos tomar medidas no sentido de tornar reais as magníficas criações de nossa própria imaginação.
O guru do empreendedorismo e cultura, Seth Godin adverte contra a confusa ritualização dos rituais criativos que estimulam a produtividade.
Todo mundo que faz o trabalho criativo descobriu como lidar com seus próprios demônios para realizar o seu trabalho. Não há nenhuma evidência de que a criação do seu cavalete – como fez Van Gogh – faz você pintar melhor. Táticas são idiossincráticas. Mas as estratégias são universais, e há um monte de gente de talento que não está conseguindo fazer as coisas porque suas estratégias estão erradas.
A estratégia é simples, eu acho. A estratégia é ter uma prática, e ter uma prática significa fazer com regularidade o trabalho habitual.
Há muitas maneiras que você pode justificar a si mesmo sobre sua prática. Por exemplo, algumas pessoas usam um jaleco branco de laboratório, ou um par de óculos, ou sempre trabalham do mesmo lugar. Ao fazer isso, eles estão profissionalizando a sua arte.
Manage Your Day-to-Day passa a explorar essas facetas da vida criativa, como otimizar a sua geração de ideias, desafiar os demônios do perfeccionismo, gerir sua procrastinação e romper com os bloqueios criativos, com ideias de mentes magníficas que vão desde economistas comportamentais como Dan Ariely ao amado designer Stefan Sagmeister.
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Este artigo foi adaptado do original, “The Pace of Productivity and How to Master Your Creative Routine”, do Brain Pickings.