Nos posts iniciais desse blog, preocupei-me em fazer uma introdução mais conceitual – ainda que fundamental – para o entendimento do que se propõe o movimento das Lean Startups. Argumentei que o principal desafio das Startups é encontrar mercado para o seu produto visionário, que o modelo tradicional de desenvolvimento tem sido o responsável pela alta taxa de fracassos das Startups por alguns motivos bem conhecidos, e que há uma metodologia chamada Customer Development destinada a mitigar o risco de mercado associado à criação de qualquer produto de base tecnológica.
A Lean Startup é a forma prática de implementar a cultura de aprendizado necessária para as Startups, principalmente para o caso das empresas de software. Essa filosofia está ganhando cada vez mais corpo nos círculos de empreendedorismo tecnológico ao redor do mundo, especialmente em seu epicentro, o Vale do Silício, onde os efeitos da crise econômica têm refletido bastante na quantidade de Venture Capital disponível, o que consequentemente tem obrigado as Startups a serem muito mais eficientes e objetivas.
A premissa principal da Lean Startup é de que quanto maior a velocidade e menor o custo de cada grande iteração – onde a Startup valida ou descarta hipóteses importantes sobre o seu produto ou mercado – maiores são as suas chances de sucesso. Não raros são os casos onde essas iterações resultam em mudanças significativas na idéia original dos fundadores, o que Eric Ries chama de pivôs. De fato, em retrospectiva, um ponto em comum que caracteriza a grande maioria das Startups bem sucedidas (ex. Paypal, Flickr, Microsoft, eBay, Youtube, etc.), é que elas souberam fazer esses pivôs conforme iam descobrindo novas evidências sobre o seu negócio. Esse fenômeno fica bastante claro na leitura do excelente Founders at Work.
A Lean Startup baseia-se na combinação do seguinte tripé:
– Customer Development: Processo detalhado para testar e validar suas hipóteses sobre clientes, produto e mercado. (mais detalhes no post anterior)
– Desenvolvimento Ágil: Aplicação de metodologias tais como XP e Scrum (ajustadas para o ambiente das Startups) que possibilitam grande redução do tempo de cada iteração de desenvolvimento, aumentando a velocidade do aprendizado através de feedback real dos clientes/usuários.
– Plataforma Tecnológica como commodity: Uso de serviços, frameworks e tecnologias diversas (ex. WordPress, Amazon EC2, Google Adwords, Ruby on Rails, só para citar alguns), que garantem baixo custo e uma agilidade sem precedentes na construção de produtos de base tecnológica.
Em suma, a Lean Startup parte do princípio que tanto o Problema (necessidade do cliente) quanto a Solução (produto) são desconhecidos, e que a descoberta de ambos é um processo iterativo que aglutina o desenvolvimento do produto com atividades de Customer Development, seja por investigação qualitativa (entrevistas, testes de usabilidade, etc.) ou por experimentação quantitativa com software em produção com clientes reais. A figura abaixo ilustra essa integração.
Para o caso das experimentações quantitativas, Eric Ries fez um diagrama simplificado do que ele chama de Loop Fundamental de uma Lean Startup, que ilustra melhor como a equipe deve proceder nas atividades “dentro do escritório”.
O termo Lean aplicado para Startups vem do conceito de Lean Manufacturing, filosofia de gestão focada na redução de desperdícios. No caso de empresas de software, a maior fonte de desperdício é “produzir software que ninguém quer”. Desta forma, a promessa da Lean Startup é a de acelerar o aprendizado e reduzir esse desperdício, garantindo que a Startup chegue o quanto antes ao Product/Market Fit.
Há uma série de técnicas para serem aplicadas que serão discutidas em posts futuros aqui no blog, tais como split-testing, métricas, MVP, Continuous deployment, Five Why´s, entre outras.
Para finalizar, deixo abaixo uma apresentação sobre Lean Startups feita pelo Eric Ries no Web 2.0 Expo em San Francisco deste ano. Tive o prazer de assisti-la presencialmente junto com meu amigo Miguel Cavalcanti, e depois participamos de uma sessão bate-papo com o Eric Ries e outro empreendedores sobre práticas mais específicas. Para quem ainda tiver tempo, recomendo também assistir ou escutar essa ótima entrevista dele com o Andrew Warner no Mixergy.
Gostou? Em breve Eric Ries vai lançar seu livro que deve valer a pena:
Matéria do Site Manual da Startup