Meus caros, nem só de donos dos próprios negócios sobrevive o espírito empreendedor. Ele está presente na raiz da inventividade humana, no exercício da livre iniciativa sob qualquer aspecto, e como não podia deixar de ser, na atuação profissional em organizações e empresas de todo tipo.
Esta vitalidade de transformar sonhos em realidade e coisas concretas, permeia o imaginário de qualquer colaborador que se preze. Não é de outra forma que se desenvolve uma equipe comprometida com senso de iniciativa e realização, tão necessário para encarar a competitividade dos dias de hoje.
Contudo, como sempre, entre o sonho e a realidade existe uma estrada de distância.
O fato é que de nada adianta uma equipe realizadora e corajosa, sem uma cultura organizacional que invista na mesma aposta. Neste caso, muitas vezes, este desejo pode não passar de simples retórica – daquelas que eventualmente se escutam nos eventos corporativos e nas festas de confraternização de final de ano ou em outras comemorações semelhantes.
Transformar colaboradores em empreendedores nos seus campos de atuação dentro da empresa, demanda mais do que bons propósitos e registros em apresentações corporativas, mas sobretudo exige um clima corporativo fértil para o desenvolvimento de uma mentalidade que pode ser fatalmente massacrada com a falta de alguns cuidados. Uma questão de DNA.
Então, caso seja você um executivo ou colaborador, que deseja colocar para fora o seu empreendedorismo a serviço da organização onde trabalha e em benefício da sua própria realização, não se iluda. Algumas características corporativas, se não confrontadas e modificadas, podem sepultar para sempre qualquer ambiente digno de um empreendedor.
Vamos lá:
- Liderança disfuncional. Independentemente de uma estrutura vertical com comandos claros, ou matricial com multiplicidade de coordenação, o que interessa mesmo, é que líderes, chefes, diretores, encarregados, supervisores, ou qualquer outra coisa semelhante (o título do cargo é absolutamente irrelevante) estejam preparados para lidar com o senso de iniciativa, voluntarismo e autodeterminação típicos das pessoas empreendedoras – o que significa bom senso, autoconfiança, desprendimento e elevada maturidade profissional;
- Não existe um planejamento claro com objetivos, metas e ações. Essa situação fatalmente transformará o ambiente em uma baderna generalizada, onde a atuação de um colaborador pode se chocar diretamente com a atuação de outro (e ambos sendo bons empreendedores) neutralizando o resultado geral. É necessário que se tenha uma direção clara para ser seguida, possibilitando convergir esforços e energia criadora;
- A dominância da retórica inflamada. É a insistência demasiada nas modinhas de gestão e na manutenção da ditadura do politicamente correto. O resultado disso é a transformação de um combustível profissional fortemente realizador em pura encenação. Preocupados com a própria sobrevivência no emprego, os colaboradores imersos neste tipo de cenário tendem a atuar como caixa de ressonância da “ordem” vigente. Deixam de lado a originalidade, escondem a criatividade e a iniciativa, e claro, torcem para uma boa oportunidade surgir para que possam cair fora dali o mais rápido possível;
- A instabilidade pela instabilidade. Não se discute aqui a necessidade de ajustes, adaptações e calibragens recorrentes em função da competitividade e das inevitáveis batalhas mercadológicas, mas a mudança pela mudança, ou o transformar pelo transformar, por si só, acabam por gerar uma rotina cansativa, sugadora de energia e muito chata.
A lista até poderia ser maior, mas creio que ela garante um bom mapeamento do DNA contrário ao empreendedorismo.
Até o próximo.
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Gustavo Chierighini, publisher da Plataforma Brasil Editorial.