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2012+, parte 3


Continuando nossa série interminável antes que o primeiro semestre acabe:

5. Música, vídeo e colaboração.

 

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A indústria fonográfica manipulou a mídia para que soasse como o fim dos tempos: a arte estava com os dias contados com toda essa pirataria. Chico Buarque e Caetano Veloso não seriam viáveis. Gilberto Gil seguiria sua carreira na Unilever. Download virou sinônimo de crime. Velhinhas foram presas. Associações como a RIAA entraram com a tropa de choque de seus advogados muito bem pagos. A velha mídia parecia reagir com tudo.

Todo esse barulho para nada. Kazaa minguou, Napster foi pra Bertelsman, AudioGalaxy foi repropositado, Megaupload fechou e discografias inteiras continuam acessíveis a um clique. CDs foram dividir a prateleira de curiosidades históricas com fitas cassete e cartuchos de áudio, enquanto vinis voltaram à moda por serem interativos. O celular é o novo Walkman e, para tristeza de muitos, o novo boombox em ambientes públicos. O cenário para a música paga não é nada animador, como apresenta o belo infográfico a seguir:

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Por essa ótica, a situação parece muito grave. Mas a história mostra, como sempre, que nas curvas de evolução exponencial só se estrepa quem teima em seguir em linha reta. A indústria fonográfica não morreu, mas foi obrigada a se transformar para compreender os novos tempos. É o mesmo ambiente de transformação que hoje se vê na Imprensa e nas Editoras de livros, e que nos próximos anos obrigatoriamente abraçará a Escola e a Política. O mundo não se tornou instantaneamente mais bonzinho e generoso, mas algumas barreiras de acesso e pedágios comodistas foram removidos.

A fabricação de CDs e sua distribuição nunca foi um bom negócio para as gravadoras. Fabricação, distribuição, estoque e encalhe são males necessários cujos custos, em parte repassados para o consumidor, geravam mais dores de cabeça do que dinheiro. Para grandes conglomerados como a Sony, a fabricação de tocadores de MP3 deve dar muito mais lucro do que a produção de discos de plásticos com a música de Michael Jackson. E não há royalties a pagar.

fc CrossMPPara todos os gostos, tipos e credos.

Ao dissociar conteúdo de forma e concentrar esforços na venda de conteúdo, produção de shows e muito, muito Marketing, a Indústria se chacoalhou e reestruturou o modelo de negócios em torno de uma cadeia de valor cuja venda de música é só um dos itens a gerar lucro.

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E não é pouco lucro, veja bem. O consumidor compra menos música, mas há muitos consumidores. E o gráfico não contempla músicas em plataformas móveis, que geram bastante dinheiro em pequenas quantidades por transação, para compensar a conveniência.

Foi o que a Apple entendeu muito bem ao lançar o iPod. Nada ali era novo: já existiam vários tocadores de MP3, várias lojas vendiam músicas a granel e o WinAmp tocava músicas em qualquer máquina Windows. A macieira de Cupertino só arrumou a galera em uma interface fácil e prática et…voilá! Até hoje tem quem compra seu primeiro iQualquercoisa e se assusta ao descobrir que precisa instalar um treco chamado iTunes.

Por mais que a Indústria chie – e leve com ela otários como os bebês chorões do Metallica – para os artistas a situação também ficou melhor. Sem o poder de distribuição que antes tinham, as gravadoras já não estão com a moral de outrora para impor contratos leoninos, de que Prince, Lobão e outros corajosos tanto reclamaram. Com a livre distribuição pela rede, muitos que não teriam acesso (ou padrinhos) para chegarem às gravadoras, agora podem se garantir com uma boa rede e talvez até algum talento.

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Amanda Palmer é um bom exemplo disso. Confesso que nunca ouvi uma nota de música de sua banda, a Grand Theft Orchestra, mas isso pouco importa. Seu uso das redes e de sua página no Kickstarter rendeu, até a escrita deste post, mas de 11 vezes a demanda por cem mil dólares. Isso mesmo, mais de um milhãozinho, praticamente sem comissão. E de quebra uma matéria na Economist.

Essa revolução parece uma grande novidade, mas faz total sentido. O que não tem cabimento é a uniformidade dos modelos pop em culturas completamente diversas. Michael Jackson e Madonna serem ídolos no Zimbabwe, Japão, Hungria e Tailândia é mais uma curiosidade histórica do que uma tendência. Deu muito dinheiro para quem esteve no topo, mas essa época é passado.

A música gravada é um hiato do século 20. Até então ela era um ritual comunitário. Alguns grandes mestres eram referência global, mas a maior parte da produção era local. Bandinhas de escola e música cover são os primeiros passos de quem pretende seguir na área. Popularizadas via YouTube, as novas bandas para público adolescente são uma mistura do pop industrializado global com algo feito pelo colega de turma. A tristeza de quem tem que ouvir isso com as crianças no banco de trás é que a qualidade sonora talvez fique ainda pior.

Só tome cuidado para entender a letra antes de cantá-la.

Acredito que as jam sessions daqui a pouco serão invadidas por smartphones, que dividirão o espaço com os onipresentes Macs. Do lado de fora delas, aplicativos que misturem Draw Something com acelerômetros poderão criar novos Instagrams – que, lamento dizer, dificilmente serão vendidos por tanto dinheiro, porque essa época de especulação também está com os dias contados.

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Para terminar o post, uma palavrinha a respeito de Instagram e seus congêneres, citados como tendência no ano passado. Acredito que esse tipo de aplicativo é mais do que um sucesso de público: é o embrião de uma nova linguagem, um créole multimídia que cria obras coletivas a partir de múltiplas referências. Colaborativo e influente como a arte sempre o foi, só mais rápido, participativo e dinâmico.

bd imgresComo a arte influencia e referencia o cotidiano por se alimentar e destacar elementos ainda pouco percebidos pelo público geral, podemos ver nela uma previsão de futuro bem interessante e diversa, muito diferente daquele mundo besta e asséptico mostrado em filmes como Gattaca e livros de “Tendências globais Econômicas”, ambos especialistas em projetar o futuro em linha reta.

A arte mostra uma visão de futuro mais fractal, orgânico, diverso, múltiplo e cheio de detalhes, muito mais parecido com a vida real do que com uma caixa de plástico e alumínio, lisinha, regular e besta. Vai parecer sujo e estranho para os nossos olhos de hoje, mas com o tempo a gente se acostuma.

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