Este é um artigo de opinião.
O Brasil ainda é um mercado em desenvolvimento também em startups, entendendo-se que ainda não está maduro e que continua no caminho. Por exemplo: empresas são compradas/vendidas, fechadas, e nada de os empreendedores e investidores compartilharem as lições aprendidas sobre falha e fracasso. Por exemplo: empreendedor não ganha investimento e sai dizendo que investidor não presta.
Mas em meio à fraqueza, há lampejos de franqueza. Esses dias, dois empreendedores-investidores falaram em público fazendo uma espécie de “mea culpa” coletiva perante várias dezenas de empreendedores e investidores, cutucando o vespeiro.
“Investidores em startups não se movimentam tão rápido quanto os empreendedores e o mercado consumidor”, falou Marcelo Sales na abertura do Investors Day da aceleradora carioca 21212, quinta-feira em São Paulo. Ele é um dos empreendedores que fizeram grana com tecnologia mobile na Movile e vem aplicando parte em 35 startups, há praticamente 3 anos. “Temos que entender o que levou o Vale do Silício a ser o que é”, provocou. Ele quis que a gente pensasse sobre investimento massivo juntamente a empreendedores foda fazendo coisas até que dêem certo.
“A próxima empresa a valer 100 bilhões de dólares está nascendo agora, mas não necessariamente no Vale do Silício”, falou Fabrício Bloisi, que desde 1998 lidera a Compera nTime, que virou Movile, que domina o mercado latino, cresceu 50% nos últimos 5 anos, já fez uma série de investimentos (mais recentemente no Superplayer) “e ainda vai investir em mais cinco startups este ano” (nas palavras de Bloisi). “Aqui no Brasil a gente ainda não está vendo startups adquirirem este porte. A culpa não é só dos empreendedores: nós investidores não tomamos risco suficiente. Estamos sub-investindo consistentemente” (sic), argumentou.
Sabe o que mais? Esta é a terceira matéria sobre a 21212 que publicamos nos últimos dias, e digo por que: eles foram a primeira aceleradora a “chegar chegando”, estruturada aos moldes das badaladas. Antes deles, havia uma organização no Brasil que se chamava de aceleradora, mas não funcionava em uma sede, com uma equipe girando um programa específico e uma estratégia de investimento definida. A 21212 chamou atenção para si, elevando uma série de expectativas (ainda mais por enfatizar que tem sócio em Nova York – coisa que a Aceleratech também tem).
Tanto Fabricio quanto Marcelo e o restante da equipe da 21212 (e provavelmente de todas outras aceleradoras) estão trabalhando para captar mais investimento pulverizado de diversos investidores, para ofertando acesso cedo às oportunidades e diluição de risco. É bom os investidores correrem mesmo:
- muitos empreendedores perdem a fé, crença ou esperança em obter um investimento;
- outros acabaram se virando com o que tem (como a história do gaúcho Cassio Bobsin Machado, que empreendeu em modo bootstrap 4 vezes, fez fusão, fatura uma grana animal e fundou uma aceleradora que hoje é constituída por 50 investidores anjos);
- outras startups vem conquistando dinheiro até de family offices e de músicos de punk rock. Aposto que é consenso: espera-se muito mais características empreendedoras de investidores anjos e de venture capital do que de corporate venture capital e family offices. E se há até punk rockers tem grana e se interessam em investir, imagina o que esperar dos demais;
- há vários anos publicamos dois artigos que falavam sobre “disromper com software a ineficiente indústria de investimentos em software”. Muita gente achou balela, mas hoje vemos que já é realidade ver startups serem investidas em sites como Fundacity, Broota, AngelsClub, EuSócio, Gust, Angel.co. Tem startup levantando dinheiro até em site de crowdfunding, mostrando que tem público pagante para seu produto. Tem empreendedor levantando dinheiro (e estou falando de 2 milhões) em jantares de relacionamento. Não creio que tudo isso vai substituir a indústria de investimento e os investidores (até porque o dinheiro investido via sites vem de investidores, uai). Creio é que a diferença entre quanto rola hoje pelas vias tradicionais versus quanto rola nas formas alternativas vai diminuir (vai ser menor do que a quantidade que hoje rola nas formas alternativas);
- Talvez uma boa parte dos investidores que estão por aí “praticamente investindo” não estejam mesmo muito afim de se tornarem sócios de empreendedores, de gente que tem que correr bastante todos os dias – contrasta muito com quem só faz um movimento de vez em quando. Ninguém é obrigado a investir nem a tomar investimento e justamente por isso eu acho estranho ver gente se orgulhando de fazer bem pouquinho aquilo que na verdade nem gosta tanto assim de fazer, mas querer ser respeitado especificamente por esse fato;
- Motivo extra: várias startups passam a crescer de forma bem bonita, se mantendo e reinvestindo, logo colhendo dividendos. Quando elas chegam neste ponto, custa mais caro se associar a elas.
Falo por experiência própria de quem captou 20 investidores: as únicas formas de investidores “ajudarem a escrever a história”, ou se sentirem realizados, ou serem respeitados, é botando a mão na massa ou botando a mão no bolso pra tirar a carteira e assinar o cheque. Muita gente que tem muito menos dinheiro (e aqui também falo por experiência própria) é muito mais desapegada e participativa. Não vale botar a culpa nos “riscos vinculatórios” da burocracia pois para isso já tem jeito.
Para investir em startups, funciona ao contrário do ditado popular: quem não sabe brincar deve vir sim para o playground, ser um man in the arena – não na arquibancada.
O post 5 motivos para sub-investidores saírem da arquibancada e virem já para o playground apareceu primeiro em Startupi.com.br.
