Negócios se tornam mais competitivos com ajuda da Internet
Por Bruno Vieira Feijó
Exame PME
Nos últimos tempos, blogs, microblogs e redes sociais abriram as portas para que os empreendedores pudessem se comunicar diretamente com seus consumidores.
Agora, muitos donos de pequenas e médias empresas estão descobrindo que podem usar as ferramentas interativas disponíveis na internet como se fossem uma espécie de campo de testes para desenvolver novos produtos ou uma fonte de informações sobre as tendências do mercado.
Leia à matéria na íntegra!
Consumidor-surpresa
No começo de 2010, a mineira Erlana de Castro, de 39 anos, criou um blog para divulgar uma nova linha de produtos de sua empresa, a fabricante de fertilizantes Biofert, de Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. O público-alvo eram consumidores que cultivam flores e hortaliças em casa.
Erlana esperava tornar a marca mais conhecida entre donas de casa, pequenos agricultores e gente que fazia da jardinagem um hobby — mas foi surpreendida pelos comentários que passaram a ser deixados nos textos publicados no blog.
“Eu achava que as pessoas fariam perguntas sobre a dosagem e o modo de aplicar os fertilizantes nos canteiros”, diz ela. “Mas a maioria usava os comentários para perguntar se nossos produtos podiam causar algum tipo de problema em animais domésticos, como gatos e cachorros.”
O tipo de comentário deixado no blog ajudou Erlana a descobrir qual o canal de vendas mais adequado aos fertilizantes de uso doméstico.
“Comecei a pesquisar o assunto e percebi que os donos de bichos de estimação quase sempre também gostam de plantas”, diz. Em mercados maiores, como os Estados Unidos, por exemplo, viceja um próspero nicho do varejo conhecido como pet garden, formado por lojas que reúnem produtos para animais de estimação e jardinagem.
Há quatro meses, a Biofert passou a vender seus produtos em pet shops. Embora o trabalho ainda esteja no início, Erlana está satisfeita com os resultados colhidos até agora. “Já recebi ligações de donos de pet shop dizendo que querem dar mais espaço à nossa linha de produtos em suas lojas”, afirma.
Público no alvo
A família da mineira Grazielle Caetano, de 26 anos, sempre evitou mudar o que quer que fosse na receita da cachaça que deu origem à fabricante de bebidas Germana. Por mais de um século, a aguardente foi produzida em alambiques artesanais no município de Nova União, numa região montanhosa do interior de Minas Gerais, tal como nos tempos do avô de Grazielle, fundador da empresa.
Há dois anos, o negócio começou a dar mostras de que não poderia mais suportar o peso da tradição. Na época, o pai de Grazielle transferiu a ela o comando da cachaçaria. Ao avaliar as perspectivas para o futuro, ela chegou à conclusão de que era hora de mudar.
“A empresa havia parado de crescer”, diz Grazielle. “Não estávamos conseguindo conquistar novos consumidores, principalmente entre o público jovem.”
Grazielle decidiu que era hora de criar novos produtos, numa tentativa de rejuvenescer a marca. “O problema é que eu não sabia por onde começar”, diz. Foi quando resolveu buscar a opinião dos consumidores mais jovens num ponto de encontro muito frequentado por esse público, como as redes sociais.
Grazielle montou uma comunidade da cachaça Germana no Orkut, na época a principal rede social no Brasil. “Ao abrir discussões sobre cachaça, muitos jovens diziam preferir bebidas de sabor mais suave”, diz ela. “Havia uma forte rejeição para aguardentes mais fortes, como era o caso da Germana.”
As discussões ajudaram os donos da Germana a descobrir quais eram as marcas de cachaça preferidas pelo público jovem que frequenta as baladas.
Com base nas características dos produtos concorrentes, a empresa começou a desenvolver uma receita adequada ao paladar desses consumidores — a conclusão foi que a bebida ideal teria de ser envelhecida em barris de cerejeira, madeira que imprime à aguardente um sabor mais suave que os tonéis de carvalho que a empresa usava na época.
Encalhe mínimo
O publicitário Alberto Osório, de 52 anos, encontrou no Twitter uma maneira de descobrir rapidamente se as novas coleções de sua grife de roupas femininas, a carioca Maria Filó, caem no gosto das consumidoras. Ao lançar novos modelos de vestidos, camisas e outros tipos de peças, ele divulga imagens de seu catálogo para as mais de 12.000 pessoas que seguem o perfil da empresa no Twitter.
“Pelos comentários que surgem espontaneamente, em poucas horas consigo saber se uma peça agradou ou se ela corre o risco de ficar esquentando a prateleira até a próxima estação”, afirma Osório.
Fábrica de ideias
O catarinense Cláudio Grando, de 43 anos, vem conseguindo arregimentar um exército de gente disposta a ajudá-lo a aperfeiçoar seus produtos. Ele é dono da Audaces, fabricante de softwares para automação de confecções com sede em Florianópolis.
Em outubro, Grando pôs no ar uma rede social na qual estilistas, designers e estudantes de moda têm acesso a uma versão gratuita dos programas da empresa, que permite criar desenhos de roupas simulando formas, estampas e costuras.
Atualmente, a rede reúne mais de 30.000 membros. Ao desenhar moldes com as ferramentas online da Audaces, eles ajudam os técnicos da empresa a identificar problemas e a aperfeiçoar os softwares.
Cliente localizado
Em julho do ano passado, uma movimentação atípica chamou a atenção do administrador Flávio Beretta, de 32 anos, dono da loja virtual Só Futebol, especializada na venda de camisas de times.
Dezenas de usuários entraram no site e digitaram no formulário de busca combinações de palavras como “camisa coreia do norte” e “seleção coreia do norte”. O súbito interesse pelo uniforme da seleção coreana de futebol tinha explicação trivial.
O time seria o primeiro adversário do Brasil na Copa do Mundo da África do Sul. Depois de entrar em contato com a embaixada norte-coreana em Brasília, ele encontrou o fornecedor dos uniformes — uma fabricante italiana — e encomendou um lote de camisas, vendidas em poucos dias. “Vi uma boa oportunidade para aumentar as receitas e aproveitei”, diz Beretta.