Um único fio quebrado de luzes natalinas é quase inútil, mas 9.000 toneladas disso são uma mercadoria valiosa. Bem-vindo à capital mundial da reciclagem de pisca-pisca: Shijao, China.
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No livro Junkyard Planet, o jornalista Adam Minter descreve sua viagem a Shijao, onde ele encontra as luzes natalinas sendo agrupadas em fardos de uma tonelada. Ele descreve o processo de trituração do pisca-pisca, que basicamente o desfaz em matérias-primas:
Com gemidos estrondosos, os trituradores pulverizam os emaranhados em pedaços milimétricos de plástico e metal, e depois cospem uma gosma semelhante a lama. Próximas a esses trituradores, há três mesas vibratórias com três metros de comprimento.
À medida que os funcionários usam pás para colocar os pisca-piscas na superfície, uma fina película de água passa sobre eles, criando listras verdes e douradas bem distintas. Eu chego mais perto: a linha verde é de plástico, e ela cai na borda da mesa; a linha dourada é cobre, e ele se move lentamente até cair dentro de um cesto, 95% puro e pronto para o smelting [produção de metal pelo processo de redução].
Shijao criou toda uma indústria para minerar o lixo dos americanos. Todo ano, 9 mil toneladas de luzes de Natal são moídas até virarem uma gosma, da qual se separa o latão, cobre e plástico. Depois, isso é usado em tudo, de chinelos a novos gadgets.
O trabalho na China é muito barato, mas essa não é a única razão pela qual a China se tornou a líder mundial em transformar lixo em ouro (ou qualquer outro metal precioso). Diversos países compram uma infinidade de produtos fabricados na China, mas os navios de carga não têm o que levar na viagem de volta – às vezes, eles até retornam vazios.
Em vez disso, alguns desses navios de carga acabam levando lixo: papel usado que será transformado em papel higiênico; latas de refrigerante que virarão revestimento de alumínio; e luzes natalinas (que são apenas uma pequena fatia do total).
As luzes de Natal são um bom exemplo de engenhosidade movida pela necessidade. Quando as fábricas de Shijao começaram a reciclar pisca-piscas, elas queimavam o isolamento de plástico para chegar ao bronze e cobre, mais valiosos. À medida que o preço do petróleo aumentou na China, o plástico – um derivado do petróleo – se tornou mais valioso também. Minter visitou uma fábrica onde os proprietários encontraram uma maneira de reciclar até mesmo o plástico das pequenas lâmpadas, que é vendido para uma empresa que fabrica solas de chinelo.
Junkyard Planet está disponível na Amazon brasileira por R$ 26,57 em versão e-book, apenas em inglês.
Foto por lilybug/Flickr
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