Não sei o que me desapontou mais na entrevista de Gaby Darbyshire para o ProXXima, se foi o total desconhecimento do que vem acontecendo na blogosfera brasileira nos últimos anos, se a desinformação do ProXXima em dar tanta atenção para alguém que está de saída do seu cargo, ou os brasileiros que acreditam que o Gawker pode salvar a publicação independente de conteúdo no Brasil.
Gaby deveria saber o que acontece no Brasil, eles estão aqui desde 2008 através da F451 (ex-Spicy Media), se conversassem com eles saberia o que tem rolado aqui com redes de blogs como o Bloglog, o F*Hits, o InterNey Blogs, o Genkidama, o The Experts, ABBV, entre outros.
Redes de blogs não são novidades por aqui faz algum tempo, e as dificuldades do mercado brasileiro, com concentração de mídia em grandes portais e baixo investimento no marketing digital, são diferentes do que acontece no mercado americano.
Gaby durante a entrevista supervaloriza os comentários em blogs para falar do Kinja, nova ferramenta proprietária do Gawker, todo mundo que trabalha com conteúdo independente sabe que os comentários estão diminuindo, as pessoas ainda querem conversar, mas agora essa conversa é feita na rede social delas, no perfil do Facebook, Twitter ou grupos do Linkedin entre outros. Ferramentas como Facebook Comments acabam sendo mais úteis dando destaque para os melhores comentaristas e ainda gerando mais visibilidade.
Outro grupo americano que montou seu próprio sistema de comentários foi o Huffington Post. O único motivo do Gawker e Huffington Post terem sistemas próprios de comentários é para veicular publicidade nesses espaços, esses são os tais formatos inovadores na visão dos americanos.
O ProXXima comeu bola ao dar tanto destaque pra alguém que está saindo de cena, ao contrario de várias declarações dadas durante sua entrevista, Gaby está saindo do Gawker porque o negócio comoditizou e está procurando novos desafios. Mais detalhes nessa matéria do All Things D, onde ela confirmou a saída por e-mail.
O Gawker defende a criação de blogs premium, conceito que fazia muito sentido em 2002, mas o mercado de hoje já tem suas cartas marcadas em diferentes segmentos, e mesmo falando com os blogs de maior audiência a cobertura é deficiente. É preciso dividir os investimentos de mídia digital com portais, ad networks, Facebook, links patrocinados e outros para ter uma cobertura e repetição decente, é um jogo novo que por falta de qualificação e preguiça dos atuais mídias nacionais vai deixando alguns anunciantes cada vez menos presentes na internet brasileira.
Outro problema é que grande parte da sua receita vem de posts patrocinados, formato que anda com a credibilidade em baixa no mercado brasileiro, eles defendem o fim do banner porque é um tipo de publicidade que não funciona no modelo de negócio deles, simples assim.
Eu defendo o crescimento do conteúdo co-branded como alternativa para gerar mais impacto, ou o uso de tecnologias alternativas em ad networks para gerar mais visibilidade que o banner tradicional, como substituição de texto, vídeo embed e troca de background. São inovações que não exisitam em 2002 quando o Gawker foi criado ou em 2008 quando eles chegaram aqui, não dá pra querer conquistar o mundo de 2013 com armas do passado.
A Gaby Darbyshire está pendurando as chuteiras! Quando o mercado vai parar de ouvir os dinossauros e prestar atenção no presente?