O Brasil dispõe de uma das maiores redes hidrográficas do planeta, mas ainda utiliza muito pouco desse potencial. Dos 63 mil km de extensão existentes, 41.635 km são de vias navegáveis e, destas, apenas 20.956 km (50,3%) são economicamente navegadas. Das 12 regiões hidrográficas que compõem a malha hidrográfica brasileira, apenas seis apresentam dados de transporte de carga. São elas: Amazônica, do Tocantins/Araguaia, do Paraná, São Francisco, do Paraguai e Atlântico Sul. No ano de 2012, o transporte de cargas por meio da navegação interior movimentou 80,9 milhões de toneladas, ou seja, apresentou um crescimento de 1,4% em relação ao ano de 2011, quando foram transportadas 79,8 milhões de toneladas.
Os dados são da Pesquisa CNT da Navegação Interior 2013. O relatório, disponível no site da Confederação Nacional de Transportes (CNT), traça um panorama desse modo de transporte no Brasil. O levantamento pontua as características da infraestrutura, a movimentação de cargas, os principais gargalos e apresenta soluções para o aperfeiçoamento do sistema hidroviário nacional. Entre os principais problemas do setor identificados na pesquisa estão a ausência de manutenção nas vias navegáveis, a falta de investimentos do governo, o alto custo de manutenção da frota e o excesso de burocracia.
Segundo o presidente da CNT, senador Clésio Andrade, se o modal hidroviário fosse mais utilizado no Brasil, a economia nacional seria fortalecida. “Esse sistema de transporte gera redução nos custos da movimentação de cargas, aumentando, assim, a competitividade dos nossos produtos. Além disso, a utilização das hidrovias aumenta a segurança e reduz o consumo de combustíveis e a emissão de gases do efeito estufa”, afirma. Pra se ter uma ideia, para transportar o mesmo volume de um comboio hidroviário (6 mil toneladas em quatro chatas e um empurrador) são necessários 2,9 comboios ferroviários modelo Hopper (total de 86 vagões de 70 toneladas) ou 172 carretas rodoviárias de 35 toneladas. Em relação ao consumo de combustível, para transportar uma tonelada por 1 mil quilômetro na navegação interior são gastos 4,1 litros, enquanto no ferroviário 5,7 litros e no rodoviário 15,4 litros.
De acordo com a pesquisa, os níveis de investimentos em infraestrutura hidroviária apresentam-se abaixo das necessidades do setor. No acumulado entre 2002 e junho de 2013, o valor de investimentos autorizados pelo governo federal no setor foi de R$ 5,24 bilhões, mas apenas R$ 2,42 bilhões foram realmente aplicados.
Segundo estimativas da CNT, são necessários investimentos de, aproximadamente, R$ 50,2 bilhões em melhorias na infraestrutura das hidrovias no País. As intervenções propostas abrangem, entre outras, abertura de canais, aumento de profundidade, ampliação e construção de terminais hidroviários, construção de dispositivos de transposição (eclusas), dragagem e derrocamento em canais de navegação e portos.
Na Pesquisa CNT da Navegação Interior 2013 também foram identificados os principais componentes dos custos da atividade. O valor do combustível é o principal item, seguido pelos gastos com tripulação, tributos e mão de obra avulsa. O item seguinte refere-se a serviços gerais, e no caso específico de terceirização de rebocadores e empurradores mais da metade dos usuários consideram os custos elevados.
Ainda foram avaliadas as conexões das hidrovias com os outros modais de transporte. Os acessos ferroviários ocorrem em número bastante reduzido, o que impede um melhor desempenho logístico do País. Nos acessos rodoviários, foram verificadas deficiências, como estado precário de conservação das vias e ausência de pavimentação, além de travessias por áreas urbanas. Nos acessos hidroviários, os principais problemas estão relacionados à profundidade e largura do canal, à falta de sinalização e balizamento e à profundidade e quantidade insuficiente de berços.
Outro gargalo do setor identificado diz respeito à construção de usinas hidrelétricas sem a implantação de eclusas que permitam a navegação dos rios. O relatório aponta a necessidade do compartilhamento correto das águas, como previsto em lei, considerando os empreendimentos de geração de energia e a navegação.
Também recebeu destaque a mão de obra: 83% dos entrevistados consideram a qualificação profissional deficiente ou insuficiente, e 40,4% afirmam que há baixa oferta. No Brasil, existem apenas dois centros de instrução para a formação de categorias oficiais de fluviários, o Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (Ciaba), em Belém, e o Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (Ciaga), no Rio de Janeiro.