Na cartilha do jornalismo 2.0, a alfabetização em internet tem que ser a primeira lição. Não me refiro a aprender o vocabulário web ou mobile, com memes, #hashtags e pixels. O que é necessário à formação dos jornalistas de hoje é a compreensão do que é internet. A estrutura, as origens e o funcionamento da rede constituem o abecedário de quem planeja trabalhar com mídias digitais.
A internet nasceu e cresceu como um modelo horizontal de comunicação. O navegador aberto na tela do computador revela essa geometria. São numerosas abas e janelas nas quais os jugglers hiperativos clicam, buscam, descobrem. A disposição social – e sociável – da rede é um convite para os internautas explorarem o mundo por conexões diversas, incluindo as desconhecidas.
A web é uma fonte inesgotável de conhecimento porque é um hipertexto. É um texto horizontal sem início nem fim. É um meio, um medium em construção permanente. Ao contrário de um jornal ou de um livro, a internet é uma obra inacabada na qual sempre haverá espaço para mais e novas informações, abordagens, opiniões, conexões. Como produtos da internet, o Google, as redes sociais e todos os mash-ups que derivam deles são hipertextos, são horizontais.
No entanto, a força da cultura verticalizada do “impresso” ainda impera em redações online. Textos loooongos, verticais, blocos de informação são comuns em sites brasileiros e estrangeiros de veículos de comunicação. Repórteres pseudo 2.0 apostam no mesmo formato ou na mesma linguagem de um jornal, pronto e finito, para a web. Acham que escrever muito, como numa página de jornal corrida, é necessário para explicar a quantidade de coisas apuradas na pauta e, também, para ir além da superficialidade.
Acontece que textos loooongos dissuadem a leitura. Nem mesmo uma obra-prima da apuração e redação vai garantir que o internauta chegue ao fim láááááá embaixo. Aliás, o resultado final de uma matéria assim – medido por acessos, cliques, compartilhamentos – pode ser muito mais superficial que um texto breve e objetivo, porém com informações preci(o)sas. Sem enrolações nem os centímetros a mais das publicações impressas. Mas com os hiperlinks, os caminhos certos para textos complementares e relevantes.
Por isso, um texto loooongo deve ser substituído por um hipertexto. Uma grande reportagem, cheia de nuances, fontes e opiniões, deve ter um roteiro horizontal na web. Deve ser várias matérias, hiperlinkadas, uma à outra. E, como uma narrativa multimídia, deve ser contada não só por texto. Mas por meio dos vários recursos que a própria internet oferece. Áudio, vídeo, imagens, infográficos, murais.
A web tem uma gramática própria. E é a pauta que vai definir a linguagem e as formas de contar a história. Para acertar no jornalismo 2.0, é necessário escrever um hipertexto, que o leitor vai seguir do jeito que ele quiser. Afinal, a narrativa jornalística na web não é só do jornalista, mas pertence à rede toda. Esse é o pensamento-chave para escrever na horizontal e, por isso, a primeira lição de como escrever para internet.
Crédito da imagem: Daniel Kulinski via Compfight.