Na semana passada, estava conversando com o repórter Thiago Cid sobre a burocracia que envolve o processo de abertura de uma empresa. O assunto não é novidade, mas me fez lembrar uma história que pude acompanhar de perto há alguns anos. Em 2007, um amigo da República Tcheca teve uma ideia simples e interessante: lançar uma agência de serviços turísticos na Europa Oriental focada em clientes brasileiros. Entre os diferenciais competitivos estava o apoio de uma rede de colaboradores igualmente brasileiros, estabelecidos há pelo menos cinco anos em países da região. Na visão dele, o formato oferecia o melhor de dois mundos: a experiência de insider travelling (que apenas habitantes locais de um país podem proporcionar) aliada à comodidade de guias fluentes em português e conhecedores naturais dos hábitos e preferências nacionais.
O cara era apaixonado pelo Brasil e tinha alguma grana para investir (nada exorbitante, mas aparentemente o necessário). Já tinha aberto dois escritórios na Europa, colocado o site no ar e produzido material de comunicação para participar de feiras do trade turístico. Precisava apenas de um escritório simples, de representação comercial, para poder iniciar a prospecção de parcerias com as agências e operadoras nacionais. Queria fazer tudo certinho, dentro das leis brasileiras. Para isso, desembarcou em São Paulo para uma série de visitas com contadores e advogados.
Passadas duas semanas, ele ficava cada vez mais chocado com a dificuldade de papelada e carga tributária que teria de enfrentar. Lembrando que estamos falando de alguém vindo de um país onde a cultura da iniciativa privada é relativamente nova, e muitos dos processos ainda são altamente endurecidos por décadas de estatização e economia fechada. Desanimado com o custo-benefício e as dificuldades burocráticas da operação, ele resolveu seguir um plano alternativo. Comprou a passagem de volta e implementou um sistema de pagamento direto, via PayPal e cartão de crédito, para pacotes oferecidos virtualmente e localmente.
Não vou entrar no aspecto técnico de leis e tributação, pois essa é uma discussão extensa, que não cabe aqui no post. Sei também que essas dificuldades são enfrentadas (e superadas) por empreendedores brasileiros todos os dias. Mas, dessa história toda, acho que fica uma lição importante sobre perdas. O empreendedor tcheco perdeu, pois não conseguiu escalar seu negócio com parcerias importantes que poderiam ter sido feitas por aqui. As agências de turismo perderam, pois deixaram de oferecer um ótimo diferencial para os seus clientes. O governo perdeu em arrecadação. Os profissionais de turismo perderam postos de trabalho em potencial. Fica a pergunta: quem está ganhando com a burocracia e a tributação desproporcional para as pequenas e médias empresas?