Perguntei a Don Cheadle o que significa ser criativo, a resposta veio num piscar de olhos:
“Não sei viver de outro jeito”.
A surpresa positiva veio em meio a um mercado repleto de pessoas que, embora ligadas diretamente a produtos criativos, limitem-se meramente à execução de ordens, sejam eles atores ou diretores com pouca força autoral.
Muito além da felicidade profissional ao encontrar gente capaz de encarar o cinema com tanta empolgação quanto os espectadores, descobrir que a paixão e a empolgação tradicionais a novatos ainda persiste no alto escalão permite um novo olhar sobre grandes filmes, e, claro, perceber por que eles funcionam.
Continuei a fazer a essa pergunta a diversos artistas e as respostas foram reveladoras, divertidas e bastante sinceras.
Nos últimos dois anos andei pensando muito nisso e conclui que o objetivo da arte é fazer com que as pessoas se sintam menos sozinhas. Criatividade é isso para mim, oferecer um meio de experimentar a vida sem que isso seja um ato solitário. Já nascemos e morremos sozinhos, então é legal envolver algo coletivo nesse meio tempo e nos divertirmos com isso.
Tudo isso é a conclusão de um processo bastante pessoal que vivi e tem muito a ver com o que minha mãe me dizia: para que fazer algo feio se o mundo já está cheio de feiúra? Se vai fazer algo, seja um quadro ou um filme, faça de forma bela e motivadora. É difícil balancear isso quando se interpreta um torturador sul-africano, por exemplo, mas é algo que precisa ser levado em conta, sempre. A verdade pode ser bela, mas precisa servir a um objetivo maior.
Ser criativo significa que sou extremamente sortudo por poder ganhar a vida inventando coisas. Mas, acima de tudo, é poder executar qualquer tarefa com paixão e prazer. Não é preciso ser um cineasta ou artista para fazer isso.
Um cirurgião pode ser criativo, professores fazem isso todos os dias e aprimoram o que fazem; qualquer profissional tem essa possibilidade e o efeito, inevitavelmente, é atingir seus objetivos sem perder o interesse ou fazer apenas de forma mecânica.
Criatividade que é algo que acontece. Não tenho nenhuma preocupação consciente de tentar exerce-la ou amplia-la sem que a situação peça. Todo mundo pode ser criativo, de certo modo, o que muda é a sorte. Tive sorte de conseguir mostrar meu trabalho e de ainda poder fazer isso.
Não acredito em Deus de forma estritamente religiosa, penso nisso como algo que cada um tenha dentro de si, e esse é um paralelo válido. Devemos encontrar nossas vozes dentro de nós. No ambiente certo, tudo vai gerar frutos.
Não sei viver de outro jeito. Criatividade é algo que existia antes mesmo de saber quem eu era. Algo totalmente inconsciente. Meus pais incentivavam brincadeiras dentro de casa, a ter a língua solta. Valia tudo em nome do humor.
Família foi o berço de tudo isso; não tenho dúvidas de que a criação vai ditar muito da sua capacidade no futuro. Nunca busquei ser criativo de forma ativa, estava envolvido com musica quando saí do colégio e escolhi a Califórnia por causa do clima quente e quando percebi, estava fazendo dinheiro com comédia.
Considero-me alguém criativo, mas fico à mercê do público para saber se sou bom ou não. Nunca paro de exercitar minhas ideias, seja com música, roteiros, projetos manuais, piadas e etc. Criatividade é uma força vital, algo que me guia constantemente.
Isso não significa que tenha a fórmula do sucesso ou que tenha muita certeza de como agir. O mais importante é expor e colocar suas ideias à prova. Fiz muita porcaria que, felizmente, não está na internet (risos). Se você quer ser um criador, tem que dar a cara a tapa. Ficar em casa idolatrando sua genialidade em potencial é uma p$#% perda de tempo!
É processar e criar baseado naquilo que me inspira. A música que escrevo é um reflexo das minhas emoções perante uma cena que assisti. Vejo uma cena e transformo aquela sensação em elementos musicais.
É praticamente ação e reação, mas com uma finalidade específica. Ou seja, ser criativo na composição significa encontrar o nível de envolvimento correto com a cena em questão.
Ideias são muito raras. Um pensamento criativo é algo único e difícil de acontecer, seja o conceito de um livro, seja um modo diferente de cozinhar para alguém que amamos. Nos últimos anos tenho vivido uma jornada cheia de descobertas na qual a grande ideia criativa foi a de fazer coisas como o filme “The Captains”, por exemplo, sem ter um objetivo específico. Trabalhei acreditando na possibilidade de encontrar a razão no meio do caminho.
Essa foi a criatividade trabalhando, pois pudemos explorar muito mais pelo fato de não termos uma pauta fechada e, necessariamente, diminuta. No meio de tudo isso, tive uma epifania. Comecei a notar a humanidade das pessoas, suas personas palpáveis, facetas que desconhecemos acompanhando apenas o lado profissional. Cada um com sua própria criatividade, cada um com um modo de encarar a vida.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
Twitter | Facebook | Contato | Anuncie