Lembra do imã de geladeira com um sistema wireless que permitia que você pedisse sua pizza favorita com apenas um toque? O case é de Dubai, mas a criação sem sotaque brasileiro. Batemos um papo com Rafael Guida, diretor de arte interativa da TBWADubai responsável pela ação para sabermos um pouco mais sobre sua carreira, seus projetos e como é trabalhar no mercado publicitário árabe.
Conte um pouco sobre sua trajetória profissional, como chegou à faculdade de Design Digital e o que aconteceu dali em diante.
Não me identificava com nenhum dos cursos tradicionais, foi quando descobri sobre o curso de Design Digital, um curso menos teórico e com mais prática, era o que eu queria e durante os quatro anos de faculdade fiz estágios para escolher qual área seguir, passando por uma gráfica, pelo depto. de marketing da Accor Hotéis e finalmente entrando para publicidade na OgilvyOne em São Paulo, e não mudei mais de carreira desde então.
Você passou pela OgilvyOne, no Brasil, e desde 2007 está em Dubai. A pergunta é: como você foi parar em Dubai?
Após 3 anos na OgilvyOne, recebi um email, daqueles “de um amigo, de um amigo…”, sobre a vaga em Dubai. Após uma rápida pesquisa no google: “onde fica Dubai?”, resolvi me candidatar. Chegando aqui, a agência era menor do que eu imaginava (4 pessoas pra ser mais exato), mas não fiquei por muito tempo, com a ajuda de um amigo da Ogilvy Brasil, mudei para TBWA Dubai, em seguida para OgilvyOne Dubai e depois de volta para TBWA, onde estou atualmente.
Apesar de ser um país árabe, as limitações culturais são menores do que se imagina
Quais as principais diferenças que você percebe no mercado da comunicação árabe em relação ao brasileiro? Quais são as vantagens e quais são as limitações?
Apesar de ser um país árabe, as limitações culturais são menores do que se imagina. Obviamente muitas campanhas brasileiras com mulheres de biquíni não poderiam ser veiculadas, mas como não temos campanhas para bebidas alcoólicas, esse não é um problema tão grande. Em campanhas regionais, que serão veiculadas em países como Arábia Saudita, por exemplo, temos que “retocar” as imagens, como fizeram no álbum da Mariah Carey (que abre este post). Mas a principal limitação são os budgets, apesar da percepção de que Dubai é um país rico, quando se trata de publicidade, pelo fato de a população ser pequena, as marcas não investem tanto. A principal vantagem é o salário livre de impostos (aliás tudo é livre de impostos), e aqui é possível ir pra casa as 18h30 (quase todo dia). Quem trabalha em agência no Brasil sabe do que estou falando.
Vimos um de seus trabalhos, o imã de geladeira que encomenda a pizza com apenas um toque. Este projeto está rolando ainda? Quais foram os resultados?
O projeto ainda esta rolando, os imãs estão esgotados e uma nova remessa da versão 2.0 (com várias melhorias) está chegando em 2 semanas. Como disse antes, nosso maior problema é o budget, e esse caso não foi diferente. Com apenas USD9 mil, o cliente queria alguma coisa “viral” e acabou sendo o primeiro (e único, por enquanto) a ter um sistema de pedidos wireless em apenas um toque, que ficou viral e elevou não apenas as vendas, mas também a marca, gerando inúmeras ofertas de franquias pelo mundo todo (inclusive no Brasil). Aqui o video case com todos os resultados:
Você sente que há espaço para a criação de mais ações que envolvam tecnologia?
Acredito que cada vez mais a publicidade digital se mescla com novas tecnologias, o bom e velho banner ainda gera resultado, mas com novas possibilidades, como o Kinetic, tablets e smartphones, a integração com essas tecnologias se torna obrigatória para marcas que querem estar presentes no dia a dia dos consumidores. Abaixom dois cases para Nissan. No primeiro, utilizamos a webcam para identificar o traçado criado pelo usuário e converte-lo em um terreno 3D. No segundo, um banner que permitia “rastrear” em tempo real via GPS os carros de test drive mais próximos (através do IP do usuário) e “chamá-los” para um test drive através do próprio banner.
Quais foram os projetos mais marcantes em sua trajetória profissional? O que falta fazer, ainda?
O projetos mais marcantes foram os que geraram meus primeiros resultados em Cannes, Panadol em 2009 (shortlist) e IKEA em 2010 (bronze) e me deram a perspectiva de que mesmo com budgets pequenos, com dedicação era possível chegar lá. Esse ano, o imã para Red Tomato Pizza foi outro projeto marcante, após ter a “idéia” que ninguem sabia se era possível executar, entrei pessoalmente em contato com mais de 100 fornecedores, e após alguns meses de erros e acertos chegamos a solução. Ano passado, ficamos apenas no shortlist em Cannes com o banner para Patrol (acima), o que ainda falta é trazer o primeiro Cyber Gold em Cannes para o Oriente Médio, um pouco ambicioso, mas a cada ano as agências da região estão se mostrando mais criativas e acredito que ainda chegaremos lá.
Você pode nos contar sobre seus projetos atuais, e as novidades que vêm por aí?
Os projetos atuais que já estão no ar, são uma campanha para Scrabble, com um novo uso para os “captchas” – aqueles textos chatos que você precisa digitar para provar que não é um robô, e o banner que se integra com o sistema de busca de um grande site de casas para compra ou locação e indica o Nissan ideal para você, além de permitir um test drive enquanto vai visitar a casa de seu interesse, ambos cases abaixo:
Ficando no Brasil ou se mudando para o exterior, são esses primeiros anos que farão toda diferença
Qual o seu conselho para os jovens criativos brasileiros?
O Brasil é referência em publicidade mundialmente, campanhas criativas e grandes nomes como Washington Olivetto, Nizan Guanaes, Marcello Serpa entre muitos outros, geraram uma imagem de que os profissionais brasileiros vem de um mercado experiente e ter trabalhado nesse mercado facilita a contratação de brasileiros no exterior, a oportunidade de iniciar a carreira no Brasil é única e nesse tempo, garanto, será a época em que vai trabalhar com as pessoas mais talentosas da sua carreira, aproveite para aprender tudo que puder, sim vai ficar até tarde e dificilmente vai aproveitar o final de semana, mas ficando no Brasil ou se mudando para o exterior, são esses primeiros anos que farão toda diferença, e quem sair, assim como eu, mais cedo ou mais tarde acaba voltando.
Post originalmente publicado no Brainstorm #9
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