Transparência, mobilização, ativismo cidadão. Três palavras e propostas lindas que estão na moda. Nunca se ouviu tanto “vender” a colaboração como forma de corresponsabilizar governos e sociedade por problemas sociais. Quem nunca ouviu/viu falar desses projetos que atire a primeira pedra. A tendência que promete uma nova forma de exercício da democracia é liderada, principalmente, por jovens. Mas afinal, o que eles querem? Por que participam? Qual o objetivo de aderir a mobilização social na internet?
Estudo realizado no ano passado por Ibase, Pólis e instituições de pesquisa em seis países da América do Sul, com apoio do IDRC, evidenciou que muitas das manifestações públicas lideradas por jovens na última década tiveram forte vinculação com os meios de comunicação (comerciais e as ditas mídias alternativas) e com as novas tecnologias da informação. Muitas ações dos movimentos pressupõem uma face pública, se fazer ver e ouvir pelo restante da sociedade para mobilizar população e pressionar governos, empresas etc. E os meios de comunicação têm papel importantíssimo.
Uma das conclusões publicadas no livro é que se é verdade que esta é a geração da “tecnossociabilidade” é preciso não minimizar a convivência das novas tecnologias com diferentes agências de socialização, tais como a família, bairro, escola, igrejas. A sociabilidade de determinado segmento juvenil é sempre fruto de diferentes combinações de espaços de socialização. Isso porque o “atual” é composto por uma variedade de arranjos entre tradição e inovação, presentes na vida de diferentes segmentos juvenis.
As redes sociais tem possibilitado as mobilizações juvenis porque conseguem identificar pessoas com interesses em comum de forma muito mais ágil e assertiva. O que temos visto, entretanto, é que movimentos criados por governos ainda não têm a credibilidade dessa juventude porque existe a ideia da “falsa transparência” e de se levar em conta apenas aqueles comentários que não vão contra à política vigente. Talvez seja por isso que a maioria dos movimentos que vão para frente sejam independentes de uma instituição.
Esses jovens somos nós
É engraçado como referimos à “massa jovem” de sujeitos digitais como se não pertencêssemos à esse grupo. Na internet somos muito mais politizados e para entender a melhor forma de promover uma mobilização é perceber de fato o que nos move.
Compartilhamento de informação: A possibilidade de participação é o primeiro fator que nos corresponsabiliza. O acesso para “transformar a realidade” está a um clique e eu não só posso como penso que devo fazer alguma coisa.
Visibilidade: A constituição de uma personalidade na web é feita não pelo que você descreve ser em seu perfil, mas pelo que de fato você compartilha, apoia, aprova e segue. Por isso, o meu “eu” digital é construído pelo que os outros vão ver de mim.
Inquietação: acomodar-se na realidade é se fechar para mudanças. Se corremos atrás de um novo emprego, de um futuro diferente, com certeza também procuramos ir atrás daquilo que é diferente, porque temos certeza que a realidade pode ser mudada.
Reforço: a exemplo de protestos que deram certo, a possibilidade de mobilizar e também alcançar o que queremos cresce proporcionalmente.
#ficaadica
Os comunicólogos que acompanham o marketing político nesse período eleitoral devem ficar atentos às promessas de transparência. É óbvio que não se deve apoiar manifestações contra o marketing que você propõe, mas uma vez que você se disponibiliza a “ouvir” deve, de fato, considerar a opinião que vem de todas as partes. Uma campanha bem feita não é aquela que ignora a opinião que não interessa, mas aquela que se preocupa ainda mais com ela.