X

Busque em mais de 20.000 artigos de nosso acervo.

Novidades pela net

Como 193 governos querem tomar o controle da internet – e por que você não deveria se preocupar


Pelas próximas duas semanas, a UIT (União Internacional de Telecomunicações), uma agência da ONU, tentará criar novas regras para a Internet. Isso deixou algumas pessoas preocupadas, assim como algumas empresas, como o Google – que até criou um site para se opor à medida. Por quê?

A UIT quer revisar seu tratado de 1988, que define como as redes de telecomunicações ao redor do mundo devem funcionar. Da última vez que a ITU convocou uma reunião, o foco era em telefonia.

Mas desta vez, na WCIT (Conferência Mundial sobre Telecomunicações Internacionais) em Dubai, a internet é o centro das discussões.

Redefinir o tratado faz sentido, dado que muito mudou nos últimos 24 anos. Mas a conferência quer também expandir o papel da própria UIT, para abarcar também as regulamentações da internet. E isso, por vários motivos, parece preocupante.

Por que parece preocupante

Quem poderá decidir as novas regras para a internet? Basicamente, apenas representantes de governo, dos 193 membros da UIT – não é uma discussão realmente aberta. Cada país tem uma delegação, da qual participam empresas e poucos membros da sociedade civil. No entanto, quem comanda a delegação é um membro do governo – no caso do Brasil, é o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Como a UIT opera pela regra “um país, um voto”, cada governo deve ter a última palavra.

Além disso, a votação será feita a portas fechadas, sem qualquer transparência – algo que não combina muito com o espírito aberto da internet. (Apenas sessões de plenário são abertas à imprensa.) As propostas de cada país também são secretas: estão no site da UIT, mas exigem senha para serem acessadas – tanto que um grupo decidiu vazar algumas das propostas no WCITLeaks.

E por fim, e o mais preocupante: diversos países propõem aumentar a censura na internet, e reduzir a neutralidade de rede. É por isso que o Google criou o site “Tome uma atitude“, para se contrapor às possíveis medidas da UIT e garantir uma internet #freeandopen. Eles pedem que você divulgue a campanha e participe de um abaixo-assinado. O Protect Global Internet Freedom faz o mesmo, e já tem mais de 35.000 signatários.

bddd tome atitude

No entanto, essas mudanças não serão aprovadas facilmente. A UIT, assim como a ONU, exige um consenso para aprovar as propostas. Ou seja, isto não é uma votação: apesar de cada país dar seu voto, se alguma nação se opuser fortemente a uma proposta, ela não vira regra. (Note que não é preciso unanimidade, no entanto: um país pode votar contra uma proposta, mas precisa realmente se opor a ela para bloqueá-la.) Por isso, será bem difícil ver ideias mais radicais virando regras.

Sim, é preciso ficar atento ao que se decide nesta conferência. Como lembra David Gross, embaixador dos EUA, a conferência da UIT em 1988 resultou em um tratado que foi “um tremendo sucesso por motivos que ninguém esperava”. Na época, a telefonia era estatal na maioria dos países. No entanto, o tratado permitia que empresas privadas participassem mais da telefonia. Isso, segundo Gross, fez as telecomunicações crescerem ao redor do mundo (através das privatizações), e fundou a base para a difusão dos celulares e da internet.

Ou seja, por mais que a WCIT exija consenso para suas decisões, as propostas que forem aprovadas podem ter um impacto enorme na forma em que a internet funcionará daqui em diante. As ideias mais impactantes e mais polêmicas, no entanto, têm pouca chance de virar realidade.

Censura e fim da neutralidade?

fbded  bfcc z

E algumas propostas são preocupantes. Uma delas, apresentada por Índia e países de Oriente Médio e África, prevê que as gigantes americanas de conteúdo – como Facebook e Google – paguem uma taxa às empresas de telecomunicação fora dos EUA.

A ideia é que, como estes sites consomem muita banda – o que não custa pouco – eles deveriam ajudar a pagar por ela. O secretário-geral da UIT, Hamadoun Touré, defende a ideia vendo-a como uma forma de subsidiar o acesso à internet em países mais pobres.

No entanto, isso abriria um precedente perigoso, no qual o conteúdo da internet seria diferenciado por seu tipo ou origem. Isso fere a neutralidade de rede, e abre uma porta para cobrar a mais de quem usa certos serviços – como Netflix e YouTube – que consomem muita banda.

O Brasil se opõe à proposta. Na verdade, o ministro Paulo Bernardo já se comprometeu a votar contra qualquer proposta que rompa a neutralidade de rede. O Parlamento Europeu também orientou seus membros a fazerem o mesmo. Ou seja, dificilmente ela será aprovada.

Outra proposta vem de regimes pró-censura. Os Emirados Árabes Unidos querem incluir direitos explícitos para que os países-membros da UIT filtrem a internet por qualquer motivo. Por sua vez, a Rússia pede que cada país tenha o direito soberano de controlar a internet dentro de suas fronteiras.

Como lembra o próprio secretário-geral da UIT, vários países já “impõem algumas restrições” à internet – proibindo a violação de direitos autorais, por exemplo. No entanto, transformar essa prática em regra seria danoso à liberdade de expressão na internet. Isso daria legitimidade à censura, tornando filtros e proibições um elemento central em certos países.

Felizmente, como a WCIT requer consenso, propostas com esse teor parecem bem improváveis de virarem regras.

Disputa de poder

fbded  fdfe z

E além das propostas polêmicas, há uma questão mais profunda: a UIT quer mais poder. Ela foi formada no século XIX para regulamentar as linhas de telégrafo, quando a ONU ainda não existia. Desde então, ela se transformou em uma agência da ONU para telefonia, ajudando governos a definirem padrões que todos os países do mundo devem seguir. Agora, ela quer exercer influência na internet.

Só que nestas últimas décadas, outro órgão deteve o poder de regulamentar a internet: a ICANN. Ela gerencia os domínios da internet – .com, .org., .xxx – e controla o backbone da internet no mundo. Ela é considerada uma ONG, mas tem fortes vínculos com o Departamento de Comércio americano. Por vezes, a ICANN parece representar demais os interesses dos EUA.

Por isso, a UIT quer se firmar como um contraponto, um órgão de fato internacional para regular a internet. No entanto, a UIT conta com uma participação forte demais de governos, em geral mais propensos a defender medidas que restringem a liberdade na internet.

Em uma disputa de poder, países africanos e a Rússia propuseram transferir a governança da ICANN para a própria UIT. Isso significa que domínios .com, .net e outros sairiam das mãos dos EUA. Isso poderia evitar disputas como a que vimos em relação ao domínio .amazon, por exemplo – se ele deve pertencer aos países da Amazônia, ou à empresa Amazon.

Esta proposta parece bem interessante, mas traria algum benefício real para a internet? É difícil dizer. E Dwayne Winseck, professor da Carleton University que cobre extensivamente as decisões da UIT, diz que a chance das funções da ICANN serem transferidas à UIT é “absolutamente zero”. EUA e Europa se declaram contrários à proposta.

O futuro da internet? Provavelmente não

fbded  bb z

Com tantos pontos polêmicos e a exigência de um consenso, a UIT conseguirá definir novos rumos para a internet? Há muitos descrentes. São 900 propostas a serem discutidas durante 12 dias, e Winseck lembra que muitas delas estão mais para “lista de desejos” do que algo com efeito real. O ministro Paulo Bernardo diz à Folha que “esta conferência tem grande risco de não conseguir ser exitosa, de não fechar posição final”.

E membros da delegação americana dizem à Associated Press que se uniram a outros países para retirar todas as discussões sobre internet da pauta da WCIT. Os EUA farão pressão para esvaziar o principal motivo da conferência, já que seu objetivo é manter tudo do jeito que está – afinal, eles ajudaram a decidir as regras até então.

Por esses motivos, talvez a WCIT não seja um motivo de preocupação, apesar do que dizem por aí. Se estes primeiros dias da conferência indicam alguma coisa, é que pouco deve mudar na forma em que a UIT influencia a internet.

[The VergeMashableAllThingsDReadWrite]

Fotos por Tomislav Pinter/Shutterstock e itupictures/Flickr

ffadfef hnp nKBvYw

Via RSS de Gizmodo Brasil

Leia em Gizmodo Brasil

Comente este artigo

Populares

Topo
http://enterslots.epizy.com/ http://cair138.epizy.com/ http://sido247.epizy.com/ http://omega89.epizy.com/ http://merdeka138.epizy.com/ 7meter slot 7winbet abcslot https://obor138.web.fc2.com/ https://monsterbola.web.fc2.com/ https://daget77slot.web.fc2.com/ star77 138 slot istana77 mega138 cuan138 nuke gaming slot grandbet infini88 pg slot baccarat casino idn live idn poker sbobet tangkas88 slot sbobet88 slot deposit dana joker123 autowin88 zeus138 dewagg roma77 77lucks bos88 ligadewa sonic77 168 slot